A verdade dói mais que feridas abertas

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Erika terminou de beber seu achocolatado e bateu o copo sobre a mesa como se tivesse acabado de virar uma dose de uísque.


- Eu já sei. – falou com um sorriso e uma cara que me deu medo do que viria a seguir. – Eu vou te esconder no meu quarto.

- Que?!


Ela não disse mais nada, apenas ergueu as sobrancelhas e manteve o sorriso.


- Eu ia perguntar se você tá doida, mas a essa altura não tem mais nem por que.

- Não quer? Então diz ai o que você vai fazer?

- Eu não sei, mas não é como se você pudesse simplesmente me enfiar no guarda roupas e...


"CARALHO! PUTA QUE PARIU!"

Eu gelei na hora de tal forma que quase larguei meu copo e isso deve ter aparecido na minha expressão já que Erika parou de sorrir imediatamente.


- O que foi? – ela perguntou, mas eu não respondi. Apenas levantei e fui o mais rápido que consegui para o telefone.


Disquei cada número com a mão tremendo, morrendo de medo de ser tarde demais.

Eu tinha acabado de me dar conta de que aquele cara não estava esperando eu voltar. Como eu podia ser tão burro? Não fazia o menor sentido ele esperar eu voltar quando eu poderia simplesmente já ter ido até a policia. Isso se ele não tivesse suposto que acertou o tiro e morri.

Então estava me xingando mentalmente enquanto ouvia o telefone chamar.


- Atende... Atende... Atende...

- Alô?

- Julia! – meu coração estava prestes a sair pela boca e mal consigo descrever o alivio que senti ao ouvir a voz da minha irmã. Minhas pernas amoleceram e eu acabei sentando no chão.


Respirei fundo, contendo a dor que sentia no peito e percebendo meus olhos ardendo sem lágrimas.

O que eu precisava fazer a seguir? O que eu deveria dizer?

E foi nesse exato momento que a realidade da situação finalmente me atingiu de verdade, acabando com o que restava de uma frágil esperança de escapar daquilo tudo sem que mais ninguém precisasse ficar sabendo de qualquer coisa.

Mas não...


"Pensa, Gabriel! PENSA!"

- Gabriel? Alô?

- Ju...


Não havia volta pro que eu havia feito.

Não havia volta pro que tinha acontecido.

E eu não fazia a menor ideia do que estava pra acontecer.

O que eu acabei concluindo é que aquele cara devia só estar esperando uma oportunidade pra entrar na minha casa e tentar achar o tal diário que nem sequer existia.


"Acabou..."

- Fala de uma vez, Gabriel! Você tá bem?

Por trás do toqueOnde histórias criam vida. Descubra agora