Assassinos de aluguel por oitenta reais não existem

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Desviei o olhar de volta para meu caderno, encarando os números sem realmente olhar para eles.

Eu nem sequer vi quando Nat entrou e se sentou na minha frente.

Sim, ela era minha "vizinha da frente" na posição das carteiras.

Estava consciente de sua presença ali e consciente de que ela havia falado comigo, mas naquele momento tudo o que eu conseguia fazer era manter meus olhos no caderno.

Felizmente o professor chegou quase que imediatamente depois.

Ainda assim levei mais uns bons minutos depois da aula começar até colocar minhas emoções no lugar e conseguir me concentrar.

E por "colocar minhas emoções no lugar" me refiro a reprimir tudo o que estava sentindo naquele momento e me comportar da forma mais normal possível. Ironicamente eu sempre fui muito bom nisso.


- Nat! – exclamei em voz baixa e de forma a parecer alegremente surpreso. – E aí, tudo bem?


Ela virou para trás e sorriu.


- Gabi! – e arregalou os olhos parecendo feliz. – Tudo ótimo!

- Uau! Você parece bem alegre. O que aconteceu de bom?

- Você viu quem veio comigo até a porta?

- Ahn... Não. – menti.

- Vou te contar tudo!


"Não. Por favor, não me conte..." – foi o que pensei, mas não o que eu disse...


- Ok! Estou curioso pra saber! – ...e torci para morrer ali, naquele exato momento.


Mas não teve jeito e na primeira troca de aula ela me atualizou a respeito de tudo o que havia acontecido.

Começou contando que dois dias atrás não pode me ajudar com a massagem por que havia combinado com o tal do Jonas, o garoto do terceiro ano, de se encontrarem depois da escola e irem ao shopping. De como ele a beijou e que desde então estavam ficando.

Falou sobre como ele era maravilhoso, lindo, legal e mais uma série de adjetivos que me obriguei a ouvir com a mesma força de vontade de alguém que aceita sorrindo por uma sequencia de socos na cara.

Olhava fixamente em seus olhos e acenava com a cabeça para demonstrar que estava prestando atenção, tentando ao máximo não transparecer o que realmente sentia enquanto ela falava e sorrindo sempre que achava que devia sorrir.


- Aaah! Agora está tudo explicado! – disse por fim, depois de ouvir a história inteira me mantendo no papel de quem não sabia de nada até então. – Pelo jeito que você tá feliz a coisa tá boa então.

- Muito boa!

- Que bom, Nat! Aí sim! Fico feliz por você. Que bom então que não marcamos nada ontem então.

- Pois é, no final deu certinho.


"Sim... Bem certinho..." – pensei comigo, ao mesmo tempo em que me perguntava se oitenta reais seria o suficiente para encomendar o assassinato do Jonas.


- E como foi lá no Morumbi?

- Foi legal. Lucrei oitenta reais...

Por trás do toqueOnde histórias criam vida. Descubra agora