Vou começar esse capítulo com uma pequena reflexão que encontrei em um dos meus cadernos antigos.
Como vocês devem lembrar, eu já gostava de escrever desde aquela época e entre diferentes histórias inacabadas, volta e meia encontro alguma reflexão ou algum tipo de "diário misterioso" com crônicas do meu dia a dia escritas numa espécie de código próprio para que somente eu entendesse ao que ou a quem me referia.
Esse é o texto transcrito de um desses cadernos com direito a pequenas correções:
Às vezes tenho a impressão de que as duas maiores habilidades humanas são complicar as coisas e julgar uns aos outros.
Acaba sendo curioso como um pequeno detalhe pode mudar tudo.
Duas pessoas fazem sexo e até aí nada demais.
Uma delas recebe dinheiro por isso e já não é mais a mesma coisa.
Vender o seu corpo parece ser a coisa mais errada do mundo. Pronto, temos aí um julgamento.
Mas as pessoas vivem...
E o viver nada mais é que o período entre o nascer e o morrer.
Um período de tempo que não pode ser parado, revertido ou recuperado.
E de segunda a sexta as pessoas vendem esse bem em troca de um salário.
Vendem seu tempo e seus esforços, pedaços de suas vidas que jamais retornarão.
Vendem... Mesmo sabendo que nem todo o dinheiro do mundo pode compra sequer um segundo a mais de vida.
E essas mesmas pessoas são exaltadas. São tidas como honradas, dignas...
Temos aí mais um julgamento.
Percebe?
Tudo bem você vender sua vida, mas não o seu corpo.
Lembro de ter escrito esse texto durante a aula de sexta feira daquela mesma semana.
Estava muito pensativo sobre tudo o que vinha acontecendo.
O dia anterior, quinta feira, havia sido mais um dos dias de "apenas massagem" e confesso que fiquei bem decepcionado. Minha expectativa com certeza era outra.
Isso por que eu havia descoberto bem rápido o que havia sido aquela sensação de estar deixando algo pra trás quando saí da sala de banho junto da dona Fátima. Naquele momento eu também passei a entender por que as pessoas dão tanta importância para o sexo.
Imagino que não seja igual para todo mundo, mas ouso supor que seja pelo menos parecido para a maioria que tenha descoberto a coisa toda de uma forma saudável e agradável.
Dizem que o comportamento humano é gerido por dois mecanismos básicos: Buscar o prazer e evitar o desconforto.
E no dia em que você perde a sua virgindade é como se a sua mente fosse reconfigurada.
Da até para imaginar um sinal sonoro e uma narradora dizendo dentro da sua cabeça:
"As definições de prazer foram atualizadas".
E é assim.
Uma vez que você experimentou não tem volta.
Desde que sua experiência tenha sido saudável e agradável, imagino que seja inevitável querer de novo e de novo...
E era justamente nesse ponto em que me encontrava.
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Por trás do toque
Non-FictionGabriel é um garoto tímido de dezesseis anos que empurra a vida com a barriga evitando pensar sobre o futuro. Tudo estaria ótimo se não fosse por seus pais decidindo que já é hora dele começar a trabalhar e assim, influenciado por sua melhor amiga N...