Capítulo 5

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> Seatlle <

[Ryan]

            Ao entrar no elevador, ainda perplexo com a cena que acabei de presenciar, me pergunto quem era aquele garoto que saiu apressado. Enquanto o elevador subia, decidi conferir o estrago que o café havia feito em minha camisa social.
             Chegando ao banheiro da minha sala, tiro a camisa, revelando a barriga malhada, e comecei a secar o líquido derramado. Voltei para o escritório, tentando manter a compostura diante da situação inusitada.
           Erik entrou na sala pouco depois, claramente surpreso com alguma coisa.

- O que está acontecendo aqui, Ryan? Por que você está se trocando na sala? - Ele pergunta, os olhos curiosos.

           Um sorriso irônico curvou meus lábios enquanto eu explicava.

- Um garoto sem noção derramou café em mim lá na entrada.

            Erik levanta um celular e eu vejo que não é o dele.

- Deve ter sido o mesmo garoto que esqueceu o celular aqui. - Ele aperta os lábios.

- Parece que temos uma "Cinderela" nessa empresa.

- Três de dez pra essa sua piada. - Ele ri.

             Abaixo a cabeça fazendo um movimento de agradecimento.

- Preciso devolver isso a ele. - Ele continuou, olhando para mim em busca de uma solução.

- Pegue o currículo dele, deve ter um número adicional de contato.

            Sugeri, enquanto me preparava para o restante do meu dia, ainda intrigado com o que acabara de acontecer.

- Ah e antes de você sair, pegue um café pra mim. - Brinco com o Erik.

- Nem nos seus sonhos. - Ele mostra o dedo do meio pra mim.

[Alex]

            No hospital, meu coração martelava no peito, cada batida um eco do meu medo crescente. Eu me sentia como se estivesse à beira de um abismo, prestes a ser engolido pela escuridão do desconhecido.
            Meu pai estava na emergência, sendo tratado após o acidente, e eu não conseguia conter a ansiedade que me consumia por dentro. Cada segundo que passava era uma tortura, uma espera angustiante pelo veredito que poderia mudar tudo.
            Finalmente, um médico apareceu, e eu e minha mãe nos aproximamos com passos hesitantes, nossos corações batendo em uníssono com a incerteza do que estava por vir.

- Como ele está Doutor? - perguntei, mal conseguindo controlar a tremulação em minha voz.

            O médico nos olhou com uma expressão séria, e eu segurei o fôlego, preparado para o pior.

- A situação dele é bastante grave, mas estamos fazendo tudo o que podemos para estabilizá-lo e tratá-lo. - Suas palavras foram como um golpe no estômago.

            Um peso imenso se instalou em meus ombros, minha mente mergulhada em um poço de culpa e medo. A lembrança da última conversa com meu pai, a expulsão de casa, pesava na minha consciência.
            O médico continuou a explicar o plano de tratamento, mas suas palavras ecoavam distantes em meus ouvidos, obscurecidas pelo turbilhão de pensamentos que rodopiavam em minha mente.
            Eu me sentia impotente, um espectador ansioso em uma situação que estava além do meu controle. Mesmo depois de tudo o que aconteceu entre mim e meu pai, a ideia de perdê-lo era insuportável, uma ferida aberta em meu coração.
            O médico sai do corredor deixando eu e minha mãe ali no corredor, ela senta do meu lado e coloca a mão no meu ombro.

- Onde estava tão arrumando desse jeito. - Ela tenta puxar assunto.

- Ah eu tava em uma entrevista de emprego.

- Eu sinto muito você estar passando por isso, eu não queria que fosse desse jeito.

- Tudo bem mãe, já aconteceu... - Tento desviar o assunto.

- E você está na casa da sua amiga lá? A Lisa?

- Sim, ela disse que eu posso ficar o tempo que precisar lá.

- Seu pai vai perceber que cometeu um erro e vai pedir pra você voltar.

- Não sei se eu quero voltar mãe, não é tão fácil voltar pra um lugar que você praticamente foi jogado pra fora.

- Eu entendo, não tiro sua razão. - Ela passa a mão nas minhas costas.

             Levanto pra tentar mudar de assunto, passo a mão no bolso e não sinto meu celular.

- Ah droga, não acredito! - Passo a mão no cabelo.

- O que houve? - Minha mãe levanta.

- Acho que deixei meu celular cair na empresa.

- Qual a empresa que você foi fazer a entrevista?

- Na empresa PrimeCorp International.

- Uau, eu conheço essa empresa, você conseguiu a vaga?

- Provavelmente não, do jeito que eu saí... Vou ter que voltar na empresa pra buscar.

- Desculpe por ter dado a notícia desse jeito, é... É que eu tava desesperada.

- Tudo bem. Vamos esperar a notícia do pai.

            Ficamos ali sentados naquele corredor gelado até que vemos o médico passar pela porta da emergência, nessa hora eu já sinto a ansiedade toma conta de mim. Levantamos e o semblante do médico não é dos melhores.

- Bom, nós fizemos o possível.

            Nessa hora sinto novamente outro soco no meu estômago, abraço minha mãe ela chora.

- Infelizmente ele perdeu muito sangue e as contusões eram gravíssimas. - O médico fala mas eu não consigo ouvir mais nada. - Eu sinto muito.

            Ele chega perto da gente e dá um abraço em nós dois. Eu briguei com o meu pai, ele me expulsou de casa e agora ele está morto, não consegui nem pedir desculpas, não consegui nem me explicar. Agora é tarde demais, meu pai se foi e a única coisa que ele deixou foi uma mágoa gigante dentro de mim.

- Não posso acreditar. - Minha mãe caí no chão chorando. - O que eu vou fazer sem o meu marido meu Deus!?

             Eu tento abraça-lá mas eu não tenho ração, eu também não consigo acreditar no que eu ouvi.

[CONTINUA]





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