Capítulo 76

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> Seatlle <

[Erik]

            Chego ao condomínio de Vivian e vejo que é um pouco pior do que eu esperava. O lugar é velho e mal conservado, com pichações nas paredes e lixo acumulado nos cantos.      Um porteiro idoso, com cara de mal humorado, está sentado na portaria, parecendo desinteressado.

- Olá, boa tarde. - Cumprimento, tentando ser amigável.

- Boa tarde. - Ele responde seco e já abre o portão.

            Ué? Ele não vai perguntar quem eu sou e onde eu vou? Que tipo de segurança é essa? Ignorando a falta de precaução, pergunto:

- O senhor sabe onde mora Vivian Smith?

- 210 bloco B. - Ele responde sem hesitar.

            Fico chocado com a facilidade com que ele dá informações pessoais sem nenhuma responsabilidade. Viro as costas e sigo em direção ao apartamento. O bloco B é ainda mais deteriorado por dentro, com corredores escuros e cheiro de mofo.
            Assim que chego na porta, respiro fundo e bato. Não demora muito até que a porta se abre e vejo a tal moça loira. Ela parece cansada e preocupada.

- Pois não? - Pergunta, a voz carregada de cansaço.

- Vivian Smith? - Pergunto, tentando manter a voz firme.

- Ah... É... Eu vou pagar, eu sei. - Ela já se adianta, a preocupação estampada no rosto.

- Não, eu não vim cobrar nada, apenas conversar. - Digo rapidamente para acalmá-la.

- Não tenho nada para conversar. - Ela responde, tentando fechar a porta.

- Tem sim, é importante. - Insisto.

            Ela respira fundo e abre a porta completamente. Quando entro, vejo um apartamento simples com móveis velhos e desgastados. O ambiente é pequeno, mal iluminado e pouco decorado.

- E então? - Pergunta, cruzando os braços defensivamente.

- O que você estava fazendo no iate na semana passada? - Pergunto direto ao ponto.

            Vejo o olhar dela congelar, um misto de medo e culpa.

- Ah... Quem é você?

- Isso não importa. O que importa é que você estava lá sem ser convidada. O que você estava fazendo lá? - Pressiono.

- Por favor, senhor, eu... Eu... - Ela começa a gaguejar.

- Seja direta, por favor. - insisto. - Eu não estou aqui pra te machucar nem nada.

            Ouço uma tosse no quarto e ela se apressa.

- Com licença. - Ela diz nervosa, correndo para o quarto.

            Tem mais alguém aqui? Fico pensando comigo mesmo, intrigado. Ouço vozes baixas e depois de alguns minutos ela volta, parecendo ainda mais nervosa.

- Desculpe a demora, minha avó precisava de mim. - Ela explica.

- Sua avó? Ela está bem? - Pergunto, tentando parecer compreensivo.

            O olhar dela cai.

- Ela... Ela está doente, muito doente.

- Sinto muito. - Mudo de assunto. - Agora você pode me contar o que estava fazendo lá? - Digo, tentando ser gentil.

- Eu... Eu estava sem saída. Madson me ofereceu muito dinheiro e eu... Eu precisava do dinheiro. - Ela confessa, a voz trêmula.

            Nessa hora, meu coração congela. A Madson está por trás de tudo isso? Desgraçada!

- E ela te contratou por que? - Pergunto, tentando manter a calma.

- Ela não me disse a história toda. Só disse que eu precisava colocar um remédio na bebida de um tal de Ryan. - Ela explica.

            Merda, penso comigo mesmo.

- E foi com esse dinheiro que você pagou um pouco da sua dívida? - Pergunto.

- Como... Como você sabe? - Ela pergunta, surpresa.

- Não é difícil imaginar que você esteja com uma dívida hospitalar alta por conta da sua avó. - Digo, olhando para ela com um olhar firme, mas não hostil.

            Ela suspira, parecendo derrotada.

- Você tem noção do que fez? Tem noção de que acabou com um relacionamento e causou danos quase irreparáveis? - Questiono.

- Eu... Eu sinto muito. Eu estava desesperada, nunca recebi tanto dinheiro assim. Minha avó precisava! Por favor, não me entregue para a polícia. Minha avó precisa de mim. - Ela implora, as lágrimas começando a escorrer pelo rosto.

- Eu não vou entregá-la, mas você precisa nos ajudar a desfazer a besteira que fez. - Digo, firme.

- E como vou fazer isso? - Ela pergunta, desesperada.

- Este é meu contato. Vou entrar em contato com você e espero que esteja disposta. - Digo, entregando meu cartão.

- Eu vou. E desculpe pelo que fiz! - Ela diz, parecendo realmente arrependida.

- Você terá uma chance de se desculpar para quem realmente merece. - Digo, me aproximando da porta.

            Saio do apartamento dela, aliviado que tudo foi como eu esperava.

******

            Chego na casa do Ryan e ele está ansioso, andando de um lado para o outro. Assim que entro, ele praticamente salta em minha direção.

- Me conta tudo! - Ele exclama, os olhos arregalados.

- Bom, ela confessou tudo. Foi ela quem colocou remédio na sua bebida. - Começo.

- DESGRAÇADA! - Ryan grita, levantando-se abruptamente.

- E o pior, foi a mando da Madson. - Continuo

            Vejo a fúria do Ryan aumentar.

- Eu vou...

- Não, você não vai nada! - Interrompo, segurando-o pelo braço.

- E a desgraçada disse mais o quê? - Ele pergunta, tentando se acalmar.

- Ela só aceitou fazer isso porque tem uma avó doente. Ela tem uma dívida hospitalar enorme e precisou do dinheiro que a Madson ofereceu para cobrir uma parte. - Explico.

- É pra eu ficar com dó? Ela acabou com a minha vida para se dar bem. - Ele diz, incrédulo, os olhos queimando de raiva.

- Não, mas acho que ela teve motivos. Ela não fez isso porque é uma pessoa ruim. - Tento argumentar.

- Nem me peça para ter dó dela. -Ele responde, firme.

- Não estou pedindo. Só acho que você pode tentar pensar antes de dar o próximo passo. - Digo, tentando acalmá-lo.

            Ryan respira fundo, tentando controlar a raiva.

- O que você está pensando em fazer agora? - Pergunto ao ver ele passando a mão na barba.

- Eu.... Eu vou na casa do Alex. - Ele olha pra mim. - Se eu contar tudo isso, talvez ele volte a acreditar em mim.

- Bom, então eu te desejo boa sorte. - Pisco pra ele.

[CONTINUA]

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