VERSÃO ANTIGA

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− Nayara, Marcela... Marcela, Nayara − fiz as devidas apresentações por pura formalidade. Minha pequena mente perversa (que não conseguia parar de pensar na Nina) cobiçava um envolvimento amoroso (ou sexual) com as duas mulheres diante de mim, apresentá-las parecia uma péssima ideia. Prova disso é que um sorriso forçado, e apenas isso, foi trocado entre elas.

− Que surpresa! − eu disse, dessa vez para Marcela. Eu esperava que ela entendesse o que eu realmente queria dizer: "mas que raios você está fazendo aqui?". Ela, perspicaz como eu sei que é, entendeu perfeitamente, mas preferiu ignorar.

− Podemos ir? − foi tudo o que perguntou. – Acabei de almoçar com a Nina, mas já estou morrendo de fome e preciso discutir um assunto importante com você.

Assim que ela pronunciou a palavra importante, algo dentro de mim se agitou. Será que tinha a ver com a Nina? Será que havia acontecido algo com ela? Será que Marcela havia descoberto meu discreto interesse pela minha cunhada? Ou será que Nina havia confidenciado algo sobre mim para a melhor amiga? Eu não sabia se todas essas suposições me deixavam feliz ou frustrado. Caso alguma delas fosse verdadeira, Nícolas, a quem considero meu herói, ficaria devastado e a ideia por si só devastava a mim também. Que porcaria de irmão eu estava me saindo!

Foi só quando Marcela gentilmente tocou o meu braço que eu me lembrei que havia um mundo fora da minha cabeça, no qual, de vez em quando, eu precisava viver. Nayara se despediu com um breve sussurro que mal compreendi. Acenei para ela sabendo que precisaria dar o meu jeito de compensá-la por salvar minha pele. Marcela deu um jeito de roubar a minha atenção em uma fração de segundo. Ela enlaçou seu braço no meu e começou a andar despreocupadamente pelas ruas de Buenos Aires. Não dava para acreditar que havíamos nos conhecido na noite anterior.

− Você sabia que o Nico também fez uma aparição surpresa para a Nina logo depois deles se conhecerem? − essa foi uma pergunta um tanto retórica, não esperei por resposta. − Ele pediu minha opinião sobre isso e eu lhe disse que achava um tanto quanto assustador... Coisa de psicopata e tal.

− Tenho tendências psicopatas, nunca disse o contrário − ela explicou calmamente e de forma séria. Nada de sorrisos ou brincadeiras. Aquela era a hora em que eu devia dar o fora, talvez. Mas de que adiantaria? Eu poderia sair correndo de volta para o meu apartamento, para a segurança familiar, mas lá estaria Marcela novamente. Não havia muito para onde fugir.

− Às vezes você me assusta − confessei, parecendo mais acuado do que gostaria. Marcela desafiava minha masculinidade de um jeito inédito (e totalmente bizarro).

− Sou mais dócil na cama − apontou sem rodeios. Ponderou por um segundo e sorriu consigo mesma. − Ou não!

Pensei em como seria estar com Marcela... Estar de verdade. Nós dois, nus, trocando intimidades e carícias. Embora o jeito extremamente sincero dela pudesse me assustar, eu não conseguia me imaginar tendo uma experiência ruim com ela. Eu sabia que cedo ou tarde nós nos envolveríamos, eu só precisava de um tempo para poder estar com ela sem pensar na sua melhor amiga. Seria desonesto demais até para o meu lado mais cafajeste.

− Nós vamos lanchar − ela informou, sem, em momento nenhum, pedir a minha opinião. − E vamos nos conhecer melhor.

− Como você me achou? A Nina sabe que você está aqui? Não íamos nos encontrar só à noite?

− A Nina é uma melhor amiga incrível, mas não dou satisfação de tudo o que faço para ela. Ela deve estar se engalfinhando com o seu irmão por aí... Pare de se preocupar!

SINGULAR (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora