[NOVA VERSÃO] CAPÍTULO 14

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Estávamos incertos sobre como agir, afinal, Lila e Rafa eram amigas... Ou deveriam ser. Além disso, havíamos acabado de conhecê-las, não sabíamos até que ponto poderíamos interferir. Penso, contudo, que amizades tóxicas como aquela deveriam ser repensadas com mais frequência. Para que serve um amigo que te critica e te coloca para baixo, quando deveria fazer exatamente o contrário?! Foi Nina quem me tirou dos meus pensamentos, aconselhando que eu fosse atrás da ruiva carioca. E assim eu o fiz. Saí da mesa e fui em direção ao banheiro, sem saber ao certo se encontraria com a Rafa lá ou não. "Ir ao banheiro" poderia ser, sem dúvidas, apenas uma desculpa adequada para se afastar e ficar sozinha. Eu mesmo tenho esse hábito.

Cheguei ao pequeno corredor que abrigava dois sanitários: feminino e masculino. Aquilo era uma tremenda ironia, se vocês querem saber. Durante anos, me senti péssimo por ser obrigado a usar o banheiro feminino quando eu, visivelmente, sempre fui um garoto. Agora, no entanto, eu queria poder irromper o banheiro das mulheres sem ser censurado.

Entrar ou não entrar? Fiquei encarando a porta por alguns segundos, aguardando que alguma alma viva saísse de lá para me dizer se seria apropriado entrar ou não. Se não houvesse mais ninguém lá além da Rafa, era exatamente isso que eu faria. Acontece que ninguém apareceu para sanar minha dúvida. Bati na porta uma e duas vezes... Sem reposta. Então arrisquei, mesmo que estivesse correndo o risco de levar uma bolsada na cabeça ou um tapa na cara.... Ah, vai, era por uma causa nobre. E caso tudo desse errado e me deparasse com alguma situação constrangedora, eu sempre poderia contar com o meu charme.

Entrei e... Não tinha ninguém. O local estava completamente vazio. Exceto pelo ruído que vinha da última cabine. Aproximei-me e tive certeza de que havia alguém chorando ali dentro. Só podia ser ela. Tinha que ser ela.

− Rafa, abre a porta... – sussurrei na tentativa de persuadi-la. O choro cessou e não obtive resposta alguma. – Por favor... – mais silêncio. Respirei fundo e resolvi mudar minha estratégia. – Abra a droga dessa porta ou eu terei que derrubá-la – ameacei, embora meu tom de voz fosse brincalhão. E então, finalmente, uma resposta. Não era uma frase nem nada, apenas uma risada fraca que soava inacreditável. Esperei... E esperei mais um pouco. E só então ela resolveu falar.

− Você não seria capaz – duvidou e aquilo soava como um tentador desafio.

− Você já reparou nos meus braços, garota? Eu sou absolutamente capaz. Que afronta! – mais uma risada fraca.

− Não estou duvidando da sua capacidade física, mas da moral...

− Você tem cinco segundos para desistir dessa teoria – indiquei, em seguida iniciando minha contagem. – Um. Dois. Três... – nesse momento, ouvi a porta da cabine sendo destrancada. – Quatro... – a porta se abriu lentamente. – Cinco – e finalmente, lá estava ela.

Seus olhos estavam vermelhos, como todo o resto de seu rosto. Sua pele, demasiado branca, não lhe permitia omitir esse detalhe. Eu podia buscar mil e uma palavras de conforto que amenizassem a situação, mas não era tão bom com isso. Havia, entretanto, uma coisa que eu fazia muitíssimo bem: dar abraços reconfortantes. E foi o que fiz. Envolvi a ruiva entre os meus braços e apertei seu corpo como se pudesse protegê-la de toda a crueldade mundana. Quando minha mãe, tia Mel, Nina, Marcela, ou até mesmo meu irmão faziam isso comigo, eu me sentia protegido e amado, e era difícil permanecer triste nessas circunstâncias. Secretamente, torcia para que acontecesse o mesmo com Rafaella.

− Obrigada – sussurrou contra o meu ouvido, me causando arrepios imediatos. Não sei se ela notou.

− Vamos embora? – sugeri. E Rafa, parecendo infinitamente grata, concordou.

SINGULAR (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora