VERSÃO ANTIGA

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O sábado chegou parecendo... Triste. Não consigo afirmar que isso tenha a ver com a despedida da Marcela, mas algo me dizia que era exatamente o caso. Havíamos tido tão pouco tempo juntos. E a intensidade fora avassaladora. Não queria ter que me despedir justo agora; justo quando parecíamos tão íntimos, tão próximos, tão cúmplices. A nossa relação-sem-nomenclatura estava me fazendo muito bem, além de ser incrivelmente prazerosa. Eu não sonhava com namoro, casamento nem nada do tipo... Mas eu gostava dela. Simples assim.

O problema é que uma parte de mim também gostava da Nina. Da minha cunhada. Mas talvez todo esse gostar seja uma grande confusão. Achei que ela seria a única a me enxergar despida de preconceitos e julgamentos, mas Marcela me provara que eu estava errado. Havia outras pessoas no mundo capazes de enxergar meu verdadeiro eu... Só precisava encontrá-las.

No elevador do prédio, eu e aquelas duas maravilhosas mulheres, tentávamos espantar o baixo astral. Conversávamos sobre os planos para o futuro... Mesmo os incertos. Marcela voltaria para Buenos Aires muito em breve e no fundo todos esperavam que a Nina fizesse o mesmo. Apesar de não falar, tenho certeza que era isso que ela queria.

Chegamos ao aeroporto e pronto... De repente, parecíamos personagens de uma novela mexicana. A culpa era única e exclusivamente da Nina, que ficava abraçando a melhor amiga como se ela estivesse partindo em uma viagem sem volta. Marcela tentava driblar todo esse drama, que em nada combina com ela, mas Nina pesa mais ou menos o dobro dela e não é do tipo que desiste fácil. Quando finalmente consegui me aproximar, nós trocamos um olhar intenso e nos abraçamos. Apenas isso.

− Vou sentir sua falta – sussurrei com os lábios colados em sua orelha.

− É, também sentirei a sua... Mas eu nunca disse isso – devolveu baixinho, em seguida se afastando e me lançando outro sorriso.

Escutamos a última chamada do voo e precisamos deixá-la partir. Eu lhe acenei de forma discreta, enquanto Nina levantava os dois braços e se despedia do seu jeito. Com lágrimas, sorrisos, movimentos afoitos e zero discrição. Ela chorava tanto que achei que fosse desidratar. Céus, não consigo ver uma mulher em prantos. Aproximei-me, mesmo sabendo que não deveria.

− Não fique assim... – disse, abraçando-a de lado. – Nós teremos um bom dia, prometo! – ela assentiu, mas precisou de um sorvete de chocolate para parar de chorar. Nina sendo Nina!

Lembrei-me da ligação da Nayara na noite anterior e me peguei mais curioso do que deveria. Eu precisava ligar para ela, mas havia prometido passar o dia com a "namorada" do meu irmão, a quem, apesar de tudo, já considerava da família. Todos esses pensamentos me tomavam a mente enquanto eu dirigia, a caminho de La Boca. Como se meus pensamentos fossem bruxaria, meu celular tocou. Nayara. A ligação se fez ouvir em todo o carro e, ao invés de atender, recusei. Não teria aquela conversa no viva voz com a Nina bem ao meu lado. Ela me lançou um olhar inquisidor e apenas dei de ombros.

− Garanhão – ela murmurou e, vendo que fiquei constrangido, caiu na gargalhada. Embora não achasse aquela a minha melhor descrição, assenti e caí na risada junto com ela. Uma das coisas que mais admiro na Nina é a forma como ela é capaz de contagiar tudo ao seu redor.

****

Divertimo-nos muitíssimo naquela tarde. Cercados pelas cores extravagantes do Caminito, nos deixamos envolver e tivemos um belíssimo almoço, seguido de um adorável passeio. Apesar da falta que a Marcela nos fazia, conseguimos nos distrair bastante. Quando finalmente encontramos com meu irmão, sabia que aquela era a hora de deixá-los a sós. Despedi-me com a desculpa de que sairia com alguns amigos da faculdade, o que era uma mentira das grandes. Entrei no meu carro, liguei o ar condicionado, coloquei uma música agradável e antes de dar partida, liguei para Nayara. Foi só no quinto toque que ela atendeu.

− Noah? – atendeu parecendo ansiosa. Desesperada. A julgar pela rouquidão do outro da linha, eu podia apostar que a havia acordado.

− Oi, Nay – cumprimentei calmamente.

Sim, eu sabia que nós tínhamos tido alguns problemas com o episódio da quase transa, mas não havia mais com o que se preocupar. Como o homem maduro que sou, podia compreender perfeitamente o seu espanto. E bom, havia Marcela também, que me ajudou a juntar todos os cacos que a reação da minha colega de faculdade deixou. Sentia-me um homem inteiro de novo.

Ah, er, eu... Liguei ontem, mas você estava ocupado. Sinto muito, não sei o que... Ahn... – ela estava se enrolando muito. Será que havia bebido, como Marcela sugerira?

− Você estava bêbada? – perguntei sem rodeios. – Ontem.

− Um pouco, eu acho. Sinto muito. Não quis ser indelicada com a... Marcela – a forma como minha amiga pronunciava o nome da mulher com quem eu mantinha uma espécie de união-sem-nomenclatura/amizade-colorida, soou estranha. – Não devia tê-la chamado de vadia, eu... – interrompi-a.

− VOCÊ... O QUÊ? – inevitavelmente, gritei. Que papo era aquele?

− Ela não te contou? – perguntou, a surpresa estampada em sua voz. – Droga, devia ter ficado calada... Estou ficando maluca, se é o que quer saber. Nós... Podemos conversar? Pessoalmente? Agora?

− Não. Sim. Sim. E sim. – respondi cada uma de suas perguntas, ainda zonzo. – Passo aí em quinze minutos.

Cheguei à portaria de seu prédio e ela já estava à minha espera. Em quinze minutos, ela havia conseguido se produzir da cabeça aos pés. Inevitavelmente pensei em como Marcela jamais faria o mesmo. Ela bagunçaria o cabelo, colocaria uma roupa confortável e me encontraria incrivelmente sexy. A Nina, ao contrário, se arrumaria um pouco... Mas continuaria com um ar natural. Eu não sabia o motivo de tantas comparações, então tentei apenas evitá-las. Nayara parecia desconfortável e eu não sabia por que. Dei partida, sabendo que teríamos tempo para uma longa conversa.

O teor dela?

Eu estava prestes a descobrir.

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OI GENTE! Quase me esqueci de postar hoje, vê se pode!!! Estava com a cabeça em mil outras coisas... Mas cheguei a tempo e vocês não terão motivos para brigar comigo <3 Espero que gostem do capítulo de hoje, apesar da despedida e tal. 

Hoje não tenho muitos recados... #PEG continua na Amazon e quem já avaliou o e-book vai concorrer a vários brindes lindos. São muitas chances de ganhar, então espero presentear váááários leitores. Quero saber o que acharam das cenas inéditas, principalmente da que está no epílogo e vai ser fundamental para Singular! 

Acho que é isso... Estou bem sucinta hoje, hahaha. Beijo no coração e até sexta *-* 


SINGULAR (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora