Capítulo 31

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(por Rafaella)

Aquele dia estava sendo bastante atípico. Noah havia estragado o exemplar de meu romance favorito da Jane Austen e eu tive vontade de socar sua cara... Bom, pelo menos, até vê-la de fato. Porque "sua cara" é realmente uma obra divina do Cara Lá De Cima, se é que me entendem. Uma pequena parte da minha fúria foi esquecida quando aquele desastrado rapaz mostrou seus luminosos dentes para mim. Discutimos um pouco, é verdade, e ao invés de se desculpar, ele me jogou na piscina. Eu deveria tê-lo odiado ainda mais, certo? Errado. Eu meio que fiquei feliz e agradecida. Estava cobiçando aquela água há tanto tempo...

O imbecil que estragou meu livro favorito acabou se mostrando um argentino bastante simpático. Noah. Nome de galã de filme! Tínhamos muitas coisas em comum... Foi bem estranha a forma como nossa conversa se desenvolveu. Há três anos mais ou menos, eu não sabia o que era ter a atenção de um cara voltada única e exclusivamente para mim. Estávamos conversando e a cada minuto eu o achava mais legal. O surpreendente é que ele parecia achar o mesmo de mim. Quando uma jovem magra (e linda!) se interpôs entre nós na piscina, achei que se tratasse da namorada dele. Rafaella, sua estúpida, acha mesmo que um deus grego como esse já não foi fisgado? Para minha total surpresa, felicidade e gratidão (principalmente gratidão), Marcela e Noah eram apenas amigos... Embora parecessem realmente íntimos.

A conversa fluía de forma agradável. Quando cada um finalmente iria para o seu canto, tirei coragem sabe-Deus-de-onde e os convidei para o karaokê ao qual iria com as minhas amigas naquela noite. Eu estava desanimada para o programa porque sabia que todas iriam descolar caras bonitos enquanto eu ficaria largada pelo bar, desejando ler um bom livro ao invés de ouvir um monte de desafinados estragando músicas de gosto duvidoso.

E, bom... Agora estou aqui, do lado do cara mais gato de todos os tempos, usando o céu e as estrelas como um pretexto ridículo para não me separar dele. Embora Noah realmente seja muito simpático (além de lindo, tesão bonito e gostosão) eu ainda duvidava seriamente dos seus interesses por trás das atitudes de bom moço. Não estou julgando-o, não é nada disso. O problema é comigo... Não confio nas pessoas. E tenho meus motivos para isso. Comecei a trabalhar quando ainda era criança. E o mundo da moda, mesmo para as crianças, pode ser bastante cruel. Minha mãe, que também trabalhava como minha agente, sempre me lembrava disso. As passarelas e a moda sempre foram seu oásis. Atualmente, ela continua agenciando minhas amigas, e a minha saída desse universo a decepcionou de forma brutal. E foi assim, mais precisamente, que finalmente entendi sobre a crueldade da qual minha mãe me alertou durante toda a vida. Irônico, não é?

Desde que engordei e resolvi dar outro rumo à minha vida, os homens começaram a me usar como uma droga de escada. Eu era o degrau acessível que os levava direto para as minhas amigas. É vergonhoso admitir isso, mas era exatamente o que acontecia. E era por causa disso que acreditar veemente no Noah estava sendo uma tarefa difícil. Embora tivesse mostrado desaprovação e até certo desprezo pelas garotas, era surreal demais imaginar que ele estava gastando tanto tempo comigo apenas por minha causa.

Estávamos falando sobre nossas vidas profissionais. Noah estava cursando comunicação social, mas não tinha muita certeza sobre em qual área gostaria de trabalhar. Eu, no entanto, estava convicta de algumas coisas. Não todas. A faculdade de biologia se mostrava cada vez mais certa para mim, embora eu tivesse ingressado nela com muitas dúvidas.

− Você conhece o Temaikèn? – questionei e ele assentiu em resposta. – Quero muito conhecer esse bioparque... E, talvez, trabalhar lá. Por que não?

SINGULAR (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora