Capítulo 65

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Em algumas horas, Noah e eu precisaríamos encarar a primeira de muitas despedidas. E eu sabia que seria insanamente doloroso. Ele havia me preparado surpresas incríveis que eu jamais esqueceria. E embora eu não houvesse preparado nada tão grandioso, queria presenteá-lo com algo especial também. O presente escolhido, no entanto, não seria apenas para ele, mas para nós dois.

Durante a adolescência, vi minhas amigas perderem suas virgindades como se não fosse grande coisa. Para mim, contudo, era. Sempre fora. Mesmo quando eu era extremamente cobiçada no mundo da moda, nunca encontrei um cara para quem quisesse me entregar. Chamavam-me de romântica, tola, ingênua... Mas nunca liguei. Sempre quis que a minha primeira vez envolvesse altas doses de amor e, depois de ter conhecido o Noah, tive a certeza de que valeu a pena esperar.

Quando chegamos ao meu banheiro, tratei de despi-lo com certa urgência. Ele não parava de me beijar e de tocar o meu corpo por todos os cantos possíveis, com uma devoção excitante. Sua simples aproximação já fazia todos os pelos do meu corpo se eriçarem. Seu cheiro másculo e inconfundível podia ficar entranhado em mim pelos próximos meses... Eu não me queixaria.

É estranho admitir, mas finalmente me sinto confortavelmente despida diante de alguém.

É estranho admitir, mas finalmente me sinto confortavelmente despido diante de alguém.

Não preciso disfarçar ou esconder nada. Rafaella olha para mim e não vê problema algum. Ela continua a me enxergar como o homem que sou. Minha ruivinha nem dá muita atenção para aquilo que me diferencia de um homem cisgênero, por exemplo. Ela se apaixonou por mim pelo que eu sou por dentro, mas também por fora. Porque não existe nada de errado em admirar algo que é singular.

A água morna da banheira não podia estar mais convidativa. Eu havia pensado em todos os detalhes, exceto naquele. Por sorte, Rafaella e eu formamos uma bela equipe. Acomodamo-nos de modo a aniquilar qualquer espaço entre nossos corpos. Achei que repetiríamos a recente dose de brincadeiras e carícias, afinal, ela havia me dito que não estava pronta para se entregar totalmente e eu a respeitaria. Fui, no entanto, surpreendido por suas palavras, que saíram como um sussurro sedutor:

− Quero ser sua, Noah. E quero que você seja meu. E eu nunca quis algo tanto quanto quero isso...

Fazer aquela pequena confissão não foi fácil. Eu devia estar parecendo um pimentão, de tão vermelha, mas quem liga? Morta de vergonha ou não, consegui expressar meu desejo e atiçar ainda mais o meu namorado. Meu namorado, entendeu? Finalmente podia chamá-lo assim. E no que dependesse de mim, eu inventaria qualquer desculpa para repetir essas duas palavrinhas: meu namorado. MEU NAMORADO. Namorado, meu. E Noah inventaria qualquer desculpa para me beijar e tocar. Quer dizer, quem precisava de desculpas, não é mesmo?

Estávamos envolvidos em um beijo intenso. Sei lá como, eu já havia parado no colo dele. Suas mãos percorriam cada centímetro da minha pele... Os suspiros e gemidos que surgiam em reposta, eu nem sabia de onde vinham. Da minha parte, havia uma enorme dose de nervosismo, que eu tentava ignorar. Confiava plenamente nele e me sentia amada... Isso precisava bastar. Eu queria, com todo o meu âmago, me unir a ele de todas as formas possíveis, então esse receio parecia descabido e irritante. Noah, sempre muito perceptivo e atencioso, pareceu notar essa droga de conflito interno que rondava minha mente.

− Está tudo bem? – questionei, abandonando seus lábios por um instante e acariciando seu rosto de forma gentil.

− Está... – ela respondeu, não me convencendo nem um pouquinho.

SINGULAR (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora