Capítulo 35

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            Voltei para a areia com Nico ao lado, e Rafaella finalmente me dava um pouco de atenção. Ela estava jogando conversa fora com a minha cunhada, enquanto Marcela estava preocupantemente desaparecida. Eu estava prestes a me sentar entre as duas quando a Nina se levantou de supetão, me lançando um olhar suspeito.

− Nós vamos comprar algumas bebidas... Estamos morrendo de sede, não é mesmo? – minha cunhada perguntou, não querendo, de fato, uma resposta. Seu braço já estava entrelaçado ao meu e seu olhar dizia "apenas concorde". Foi o que fiz. Assenti e não tenho certeza se fui convincente. – Querem algo?

− Água e guaraná – era Nico quem respondia.

− Aceito a água – foi a vez da Rafa.

Afastamo-nos dos dois e quando atingimos uma distância segura, Nina resolveu me explicar o que estava acontecendo.

− A Rafa tem sérios problemas de autoestima. Não sei a história toda, mas não precisei saber para chegar a essa conclusão. O que eu sei é que as "amigas" – Nina fazia aspas no ar de forma exagerada – não ajudam em nada, muito menos sua mãe, que parece uma bruxa saída dos contos de fada infantis. Ela está, visivelmente, morrendo de calor. Mas não se sente a vontade para tirar a roupa... É por isso que ela está quase morrendo debaixo daquele guarda sol e está evitando você.

− Ela disse isso? – perguntei, um pouco decepcionado comigo mesmo por não haver percebido nada. E um pouco triste com ela também, por não haver me dito nada.

− É claro que não, cunhadinho – Nina respondeu, em seguida se virando para o ambulante. – Três águas e dois guaranás, por favor – pediu, trocando o espanhol pelo português com incrível facilidade. – Mas vai por mim, Noah, eu sei exatamente como ela se sente. Precisei lidar com conflitos como esse por toda a minha vida. Para ela, no entanto, é algo novo. Ela não está acostumada com o corpo atual.

O rapaz suado de pele morena nos entregou nossas bebidas com um sorriso largo no rosto. Arrisquei um "obrigado" em português e ele achou graça do meu sotaque. Abri uma das latas de guaraná e fui invadido por um sabor maravilhoso que, até ontem, não sabia que existia.

− Não sei exatamente como lidar com isso – confessei sem rodeios. – Para mim, não há absolutamente nada de errado com o corpo dela. Eu a acho gostosa pra cacete e é incompreensível que ela não ache o mesmo.

− Diga isso a ela – Nina sugeriu, roubando um gole do meu guaraná.

− Que ela é gostosa? – perguntei, incerto sobre o conselho.

− Sim – respondeu com naturalidade.

− Ah, claro... Vou chegar para ela e falar: "Rafa, acho você gostosa demais, então tire a roupa e me deixe admirá-la" – Nina sorriu com a minha colocação, mas sorriu de um jeito estranho. Suspeito.

− É isso que você quer? – questionou com sua expressão de quem sabe tudo.

− Do que estamos falando? – era a minha vez de não acompanhar o ritmo daquele diálogo. – É claro que eu não quero chegar e falar isso para ela. Não sou um homem das cavernas desprovido de sentimentos e sensibilidade.

− Não estou falando disso... Admirá-la. É o que você quer? – ergueu uma sobrancelha enquanto aguardava minha resposta. – Porque conhecendo você do jeito que conheço, sei que deseja fazer muito mais. E está se reprimindo sabe Deus por quê.

SINGULAR (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora