Capítulo 56

3.3K 379 41
                                    

Não era bem daquele jeito que eu esperava começar a manhã de terça-feira, principalmente depois de ter dormido ao lado da Rafa pela primeira vez. E mais principalmente ainda considerando que embarcaria de volta para Buenos Aires no dia seguinte. Ainda não havíamos conversado a respeito, mas aquilo começa a me afligir e Rafa parecia quase na mesma. Sabíamos que éramos uma equação matemática onde o X ainda não tinha sido encontrado.

Quando me levantei da cama e não a encontrei, segui direto para a cozinha. Não fiquei nem um pouco feliz com o que vi. Entre suas delicadas mãos estava o rosto desacordado do Stéfan. Se estivéssemos falando de qualquer outra pessoa, talvez eu não tivesse sentido ciúmes. Mas estávamos falando do Stéfan e eu meio que não simpatizo com ele. Que ele havia fodido o coração da minha melhor amiga, ok. O que eu podia fazer a respeito? Mas ficar abusando da boa vontade da minha namorada já é demais.

− Namorada? – Rafa questionou depois de ter dito que não fazia ideia do que estava acontecendo.

− O quê? – devolvi, não compreendendo sua pergunta.

− Você me chamou de namorada – apesar da ausência do ponto interrogativo, soou como uma pergunta. Eu a havia chamado de namorada? Em voz alta? Quando foi que dei vida aos meus pensamentos sem me dar conta?

− E-eu... Hm... – o que eu deveria dizer? O que ela gostaria que eu dissesse?

− Conversamos sobre isso depois – encerrou com uma piscadela absurdamente sedutora. – Será que você pode me ajudar com ele? Consigo sentir seus batimentos, então ainda está vivo.

− Para azar da humanidade – comentei enquanto me aproximava da ilha, relutante.

− Não diga isso – ralhou-me, verdadeiramente aborrecida.

O que eu sabia sobre primeiros socorros? Porra nenhuma. Não é o tipo de coisa que aprendemos na faculdade de publicidade. A única coisa a se fazer, naquele momento, era ligar para a emergência. E foi o que, de fato, sugeri.

− E vamos dizer o quê? Que ele está dormindo profundamente depois de uma noite de festa?! – ela revira os olhos na minha direção e pede para que eu chame Marcela. Resolvo cooperar, só para não estressar a minha ruivinha ainda mais.

Sigo, apressado, para o quarto da Marcela. Bato na porta uma, duas vezes. Nada. Chamo por ela. Baixinho, a princípio. Como continuo sem resposta, resolvo aumentar o tom de voz. Apenas o silêncio me faz companhia. Resolvo abrir a porta de uma vez e sinto meu coração parar ao constatar que o ambiente está vazio. Nada da Marcela por ali. Não há nem sinal dela, para ser sincero. A cama continua perfeitamente arrumada e fica evidente que ninguém dormiu nela. Nem mesmo Stéfan. Aquilo é devastador na mesma intensidade em que é assustador. Mas que porra está acontecendo? Onde está a minha amiga? E por que aquele babaca está desacordado na cozinha? Sei que não vou me acalmar até obter respostas.

Antes de traçar o caminho de volta para a cozinha, saco o celular do bolso e ligo para a Marcela...

"Aqui é a Marcela. Posso estar ocupada demais para atender você, ou simplesmente te ignorando. Se for a primeira opção, retorno assim que possível. Se for a segunda..."

Sou levado diretamente para a caixa postal. Deixo uma mensagem breve, pedindo notícias e informando minha preocupação. Volto para a cozinha e vislumbro Rafaella tentando acordar Stéfan com um pouco de água gelada. Ela é carinhosa e cuidadosa, mas não temos tempo para isso. Estou preocupado com a Marcela e quero mais que o Stéfan se dane! Seguro-o pela gola da camiseta e o sacudo com força, deixando a Rafa um pouco mais assustada do que o desejado.

SINGULAR (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora