[NOVA VERSÃO] CAPÍTULO 16

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            Fui até a sala e não consegui me sentar no sofá logo de cara. Sentia-me inquieto e estranho, era difícil explicar. A reação da Rafa foi mais intensa que o esperado. E eu me sentia completamente dividido e confuso com toda essa situação. Eu não havia me preparado para nada parecido. Notei que o ambiente estava bem bagunçado... Havia sandálias de salto alto espalhadas pelo carpete, além de um monte de roupa jogada de qualquer maneira. Não identifiquei nenhum item que pudesse ser da Rafa, mas havia uma foto na mesa de centro e ela acabou chamando a minha atenção. Olhei ao redor, para me certificar de que estava realmente sozinho, abaixei e peguei a fotografia. Surpreendi-me com o que vi ali. Aquelas mesmas seis garotas, muit0 mais novas, estampavam sorrisos fáceis e ares de glamour, apesar de serem apenas crianças. A maquiagem era carregada e elas posavam com naturalidade. Pode ser que meu julgamento estivesse comprometido, mas Rafaella se destacava no meio delas. Não apenas pelos exóticos cabelos alaranjados, mas pelo sorriso doce (que desde aquela época já lhe deixava com covinhas) e pelo jeito dela, sendo apenas uma menina, e não tentando parecer uma mulher como as outras.

Um ruído e eu já havia largado a fotografia no mesmo lugar. Achei que o som era da Rafa saindo do quarto, mas não. Era Nicole quem entrava pela porta da sala. Assim que me viu, sua expressão mostrou confusão, mas rapidamente ela sorriu na minha direção (aquele sorriso que nem em sonho alcança os olhos) e me cumprimentou como se fôssemos velhos amigos, quando na verdade, havíamos trocado meia dúzia de palavras dentro do táxi, na noite anterior. Nicole era uma mulher bonita, como todas as amigas. Seria hipocrisia dizer o contrário. Sua pele negra era incrivelmente sedosa, seu cabelo black power, estiloso e ela caminhava com muita elegância. Sua cintura é muito fina e ela quase não tem curvas. Seus seios são atraentes, mas aposto que são de silicone.

− Fazendo o que por aqui? – perguntou, tentando ser amigável. Ela se sentou no sofá e indicou o lugar vazio ao seu lado para que eu a acompanhasse.

− Esperando a Rafa – respondi, me sentando apenas para não parecer indelicado. A presença apática dela me incomodava. Deixava o ambiente com uma energia densa.

Ah, não vai ter que esperar muito, então. Acho que você já percebeu que ela não é muito vaidosa, não é? – comentou e eu achei aquilo tão maldoso que senti meu estômago embrulhar. Respirei fundo e me esforçando ao máximo para não ser grosseiro (pois realmente não queria magoar a Rafaella ainda mais), comentei:

− Acho que ela é vaidosa na medida certa. Rafa tem uma beleza única, não precisa de quilos de maquiagem para disfarçar nada – e com essa, Nicole se calou, sem graça.

Um silêncio tenso e incômodo se instalou entre nós. Encarei o relógio inúmeras vezes, rezando mentalmente para que a minha ruivinha aparecesse e me livrasse de tamanho sacrifício. Nicole, em determinado momento, se aproximou puxando assunto sobre o tempo quente da cidade e colocou a mão na minha perna direita, como se fôssemos muitíssimo íntimos... Eu havia perdido alguma coisa?

Ah sim, havia perdido a entrada da Rafa, que estampava seu costumeiro sorriso frouxo. Sorriso esse que morreu ao perceber que Nicole e eu parecíamos mais íntimos do que de fato somos. Fiquei me perguntando por que Nicole fazia aquilo. Era bem óbvio que ela queria passar por cima da amiga, mas por que ela faria algo do tipo? Será que a amizade das duas é tão superficial e falsa quanto acredito que é? Pus-me de pé rápido e então me esqueci de tudo... Nicole? Quem é Nicole? Naquele breve momento, meus olhos só se importavam com uma única pessoa: Rafaella. Fui à sua direção sem me importar com nada nem ninguém. E ali algo ficou bem claro para mim: aquela garota me despertava alguma coisa. Eu só precisava descobrir o quê.

SINGULAR (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora