Mas era como se algo estivesse fora do lugar. Recuei, mas logo Nayara apertou os abraços em volta do meu pescoço. Seu desespero era perceptível e eu bem que tentei retribuir seus beijos e carícias, o problema é que nada acontecia dentro de mim. Nada mesmo. Além de não estar nada excitado, eu não conseguia me sentir confortável com aquele contato. Afastei-a. Encaramo-nos durante longos minutos e eu pude ver uma tristeza devastadora estampada nos olhos dela. Aquilo me doeu. É claro que eu queria poder retribuir seus sentimentos, mas meu coração é irracional e age por conta própria, já desisti de tentar entendê-lo. Em qualquer outra ocasião, eu a levaria para cama e teríamos uma noite prazerosa, mas saber que ela realmente gostava de mim mudava tudo. Ir para a cama com ela, lhe alimentaria mais esperanças; ela se machucaria mais e eu não suportaria conviver com a culpa. Estávamos envoltos por um silêncio agonizante, exceto dentro de nós.
− Estou odiando a mim mesma nesse momento... – ela sussurrou. – Tive a chance de ficar com você e simplesmente a desperdicei.
− O que posso fazer por você, Nay? Você sabe que eu te adoro, mas não... – ela me interrompeu.
− Transe comigo – ela sussurrou colando seus lábios aos meus. Não me afastei. – Só hoje... Só para que eu possa tê-lo uma vez na vida. Sem pressão, compromisso... Eu juro.
− Não posso, Nay. Essa única experiência teria significados diferentes para nós dois. Não quero brincar com você e os seus sentimentos. Mesmo que você diga que tudo bem, que será só por uma noite. Não é certo e eu não quero conviver com isso.
Nayara não me respondeu. Ela se afastou de mim e saiu correndo para longe de mim. Corri atrás dela e a alcancei facilmente. Atraímos muitos olhares, mas não me importei tanto com isso. Eu a segurei firme pelos braços e fiz com que me encarasse. Seus olhos, novamente inundados, não encaravam os meus.
− Não precisa ser assim... Nós sempre fomos muito amigos, não fuja de mim, Nay. E não me odeie. Estou tentando ser íntegro e correto com você – expliquei pausadamente, não podendo ser mais sincero. A ferida, quando exposta pela verdade, tem algo de nobre.
− Eu só preciso ficar sozinha... Dê-me algum tempo, tudo bem? Na segunda-feira, na faculdade, estarei melhor. Mas agora preciso que você me solte e me deixe ir embora.
Ela estava sendo sincera, percebi com facilidade. Ofereci-me para levá-la em casa, mas ela apenas recusou. Insisti, porém não houve jeito. Ela apertou o passo e dessa vez eu não a segui. Deixei que partisse e pedi, silenciosamente, para que ficasse bem. Não havia muito que eu pudesse fazer.
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O domingo chegou de forma preguiçosa. Nina e Nico saíram para um passeio, enquanto eu me afoguei nos trabalhos atrasados da faculdade e em toda matéria que precisava estudar. As provas estavam cada vez mais perto e eu não podia nem cogitar perder o semestre. Mandei uma mensagem para Nayara, perguntando como ela estava... Não obtive resposta. No fim da noite, Marcela me contatou via Skype e eu acabei lhe contando dos recentes acontecimentos. Vez ou outra ela fingia ciúmes, o que nós dois sabíamos que ela não estava sentindo. Ver o seu rosto magro e ouvir sua voz inconfundível me deixaram nostálgico.
− Quanta nobreza em um homem só... Qualquer outro a teria comido e depois dito tudo o que você disse – ela me disse com sua sinceridade nua e crua (e hilária)!
− Ela não é um pedaço de carne, não seja grosseira – retruquei, embora estivesse achando graça. – Não quero magoá-la, isso é tudo. Se soubesse dos seus sentimentos, provavelmente nem o episódio de quase-sexo teria acontecido.
− Você tem um coração de ouro... Não sei se já te disse isso – ela confessou com um sorriso fraco. Marcela dificilmente se expressa dessa forma, mas quando o faz, me surpreende de forma totalmente positiva. Embora tivesse partido há apenas um dia, eu já estava morrendo de saudades dela. – Você está pensando em mim, não está? – indagou, tragando-me de volta para a realidade. – Com ou sem roupa? – perguntou com uma sobrancelha erguida em minha direção.
Caí na gargalhada. Ela era tão impossível, que às vezes eu duvidada se tratar de um ser humano de verdade. Talvez um alienígena ou uma experiência mal sucedida...
− Estava pensando em você com roupa, mas agora que você mencionou... – lancei meu melhor olhar sedutor em sua direção e pude vê-la se contorcendo de rir logo em seguida.
Eu ainda precisava ler uma apostila inteirinha, mas não resisti e acabei esticando a conversa com a Marcela. Vê-la e ouvi-la, apesar da distância, me fazia um bem tremendo. Quando Nico e Nina finalmente estavam de volta ao apartamento, traziam um sorriso mais largo que circunferência (incrível) da minha cunhada. Eles me viram conversando com a Marcela e adentraram meu quarto sem pedir licença. Antes que pudesse protestar, já estavam jogados na minha cama, invadindo nossa conversa e tentando amenizar a saudade. Eles só nos deixaram em paz quando Nina resmungou dizendo que estava com fome. Prometi encontrá-los na cozinha em alguns instantes, mas precisei de alguns minutos a sós com a Marcela.
− Estou realmente com saudade... – confessei, novamente parecendo aquele garoto tímido e abobado. – Não se atreva a sumir, ok? E nem a ter sonhos eróticos com aquele cara babaca do seu novo emprego... – eu lhe arranquei uma risada gostosa e soube que ela andava, sim, sonhando com ele. Embora não estivesse morrendo sinceramente de ciúmes, não gostei muito da descoberta. – Sonhe comigo, sou muito mais interessante.
− Talvez eu sonhe com os dois... Juntos... Nunca fui muito santa mesmo – ela deu de ombros e continuou a rir. Acabei me rendendo e foi difícil me despedir. Ela, prática e nada sentimental, disse que ia desligar e realmente desligou. Céus, essa mulher realmente deve ter a droga da caixa torácica vazia, como garante Nina. Um segundo depois, recebi uma mensagem escrita.
"Amo você. Boa noite, garanhão!"
Tudo bem... Talvez não tão vazia assim.
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Hey people! Estou chateadíssima com o wattpad que trollou o capítulo anterior, não notificando nenhum de vocês :( Espero que isso seja passageiro... "Mania que dá e passa feito brincadeira", como diria Elza Soares (tirei essa do baú). Mesmo sabendo todo o destino de Marcela e Noah não consigo evitar shippar esses dois </3 É compreensível que vocês também o façam mesmo sabendo que não vão ficar juntos (isso não é spoiler, está em PEG). Ontem passei mal sabe-se lá com o que, então tudo o que estou querendo é me recuperar de uma vez. E estou fazendo tudo direitinho para isso. Fui assistir o final de A Esperança hoje e, sei lá... Estou tão devastada que nem consigo me expressas muito bem. Não consigo me decidir por um autor, uma obra nem nada disso... Mas a Katniss é minha personagem feminina favorita e isso não é pouca coisa, não. Sem contar que amo a Jen num nível altíssimo, então estou abalada, abaladíssima! Até sexta, né meu povo? Espero ver todos por aqui... Continuem estrelando e comentando os capítulos, é muito importante para mim <3
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SINGULAR (degustação)
RomanceSINGULAR é um spin-off independente de PODER EXTRA G; narrado pelo Noah, personagem secundário da trama que ganhou muitos admiradores. Se você ainda não conhece a Nina, trate de ler sua história e dar boas risadas. Sinopse: Noah sempre quis s...