Capítulo 48

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            A segunda-feira de carnaval chegou e, apesar das coisas incríveis que vinham acontecendo, peguei-me triste de repente. O motivo? A iminente separação que Rafa e eu protagonizaríamos em alguns dias. Não parece extremamente injusto encontrar alguém que você goste, que te aceite por completo, mas que more longe? Em outro país, para ser mais exato. Embora não estivéssemos em um relacionamento sério nem nada do tipo, eu meio que já me imaginava ao lado dela, compartilhando coisas que jamais achei que pudesse compartilhar com alguém.

Acordei cedo, tomei um bom banho e fui para a cozinha me juntar aos meus amigos. Nina e Nico partiram para Paraty logo após o café-da-manhã... O apartamento, subitamente, pareceu grande demais. Foi só quando ficamos a sós, que a Marcela tocou no assunto que eu tentava evitar: Stéfan.

− Já parou de me julgar? – questionou enquanto seguíamos para o sofá da sala. Sentei-me e ela rapidamente se acomodou, deitando com a cabeça no meu colo. Meus dedos foram em direção aos fios claros de sua cabeça... Foi instantâneo.

− Quem sou eu para te julgar, Marcela? Também tenho meus defeitos e fraquezas... Não lido da maneira correta com uma série de coisas, então, não me dou o direito de apontar o dedo para você. É muito fácil dizer que você está sendo uma imbecil (o que está, de fato) sem me olhar no espelho.

− Eugenia o transferiu para o México quando ele terminou com ela. E ele ficará lá por pelo menos um ano. Não queria ter que ficar me perguntando como seria, sabe? E eu não preciso da aprovação de ninguém para fazer o que quiser fazer... Não é mesmo? Pago as minhas contas, trabalho duro, e sempre estou ao lado dos meus amigos quando eles fazem suas burradas.

− Você não precisa da aprovação de ninguém, Marcela. Mas parece que está querendo a minha... – comentei enquanto enrolada seus fios claros no dedo indicador.

− Não é a sua aprovação que eu quero... O que eu quero mesmo, Noah, é o seu...

− Se disser "ombro amigo quando tudo der errado" eu juro que te taco pela janela – ameacei, arrancando um sorriso largo em resposta.

− Querido, o dia em que eu precisar chorar por causa de homem, pode ter certeza que vou fazer isso no meu próprio ombro. Sou autossuficiente, se esqueceu? – ela piscou na minha direção e eu assenti, sorrindo por saber que aquela era exatamente ela. – O que eu ia dizer é que... Quero o seu punho caso tudo dê errado e ele se prove um babaca novamente.

− Meu punho?

− Sim, para dar um soco na cara dele e quebrar aquele maldito nariz perfeito – ela ponderou por meio segundo e logo emendou. – Aceito seu joelho também, para acertar o volume surpresa das suas calças, se é que me entende.

− Espero que não seja necessário, quero me manter distante do "volume surpresa" dele enquanto for possível – Marcela caiu na risada e foi impossível não acompanhá-la.

Fizemos planos de ir para a praia, mas a quem queríamos enganar? Eu estava doido para ficar com a Rafa enquanto Marcela não via a hora de encontrar o seu "poderoso da calça justa". Cá entre nós, a forma como ela se refere a ele é sempre constrangedora.

Sendo assim, fui encontrar a minha ruivinha na porta da frente assim que Marcela saiu de casa. Fui recebido por Nicole, que parecia muito estressada para uma segunda-feira de carnaval. Ela bufou quando me viu e indicou a porta do quarto da Rafa, onde eu esperava encontrá-la. Nada de "bom dia", "pode entrar", "seja bem-vindo"... Dei duas batidinhas na porta, mas não obtive resposta. Devagarinho, resolvi abri-la e me arriscar. Encontrei a Rafa deitada na cama, de bruços, com o corpo sacolejando de forma esquisita. E então ouvi... Seu choro abafado no travesseiro.

SINGULAR (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora