Capítulo 34

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Fui até a sala e não consegui me sentar no sofá logo de cara. Sentia-me inquieto e estranho, era difícil explicar. Notei que o ambiente estava bem bagunçado... Havia sandálias de salto alto espalhadas pelo carpete, além de um monte de roupa jogada de qualquer maneira. Não identifiquei nenhum item da Rafa... Mas havia uma foto na mesa de centro, e ela acabou chamando a minha atenção. Olhei ao redor, para me certificar de que estava realmente sozinho, e peguei a fotografia. Surpreendi-me com o que vi ali. Aquelas mesmas seis garotas, muit0 mais novas, estampavam sorrisos fáceis e ares de glamour, apesar de serem apenas crianças. A maquiagem era carregada e elas posavam com naturalidade. Pode ser que meu julgamento esteja comprometido, mas, Rafaella se destacava no meio delas. Não apenas pelos exóticos cabelos alaranjados, mas pelo sorriso doce (que desde aquela época já lhe deixava com covinhas) e pelo jeito de menina sendo apenas uma menina, e não tentando parecer uma mulher, como as demais.

Um ruído e eu já havia largado a fotografia no mesmo lugar. Achei que o som anunciava a presença da Rafa, mas não. Era Nicole quem entrava pela porta da sala. Assim que me viu, sua expressão mostrou confusão, mas rapidamente ela sorriu na minha direção e me cumprimentou como se fôssemos velhos amigos, quando na verdade, havíamos trocado alguns minutos dentro do táxi na noite anterior. Nicole é uma mulher bonita, como todas as outras. Seria hipocrisia dizer o contrário. Sua pele negra é incrivelmente sedosa, seu cabelo black power é estiloso e ela caminha com muita elegância. Sua cintura é muito fina (fina demais para o meu gosto, se querem saber) e ela quase não tem curvas. Seus seios são atraentes, mas aposto que são de silicone.

− Fazendo o que por aqui? – perguntou, tentando ser amigável. Ela se sentou no sofá e indicou o lugar vazio ao seu lado para que eu fizesse o mesmo.

− Esperando a Rafa – respondi, me sentando para não parecer indelicado.

− Ah, não vai ter que esperar muito, então. Acho que você já percebeu que ela não é muito vaidosa, não é? – comentou e eu achei aquilo tão maldoso que senti meu estômago embrulhar.

− Vaidosa na medida certa, eu diria. Ela tem uma beleza única, não precisa de quilos de maquiagem para disfarçar nada – e com essa, Nicole se calou.

Não sei como aconteceu, mas, de repente, estávamos mantendo uma conversa forçada sobre o clima quente da Cidade Maravilhosa. Encarei o relógio inúmeras vezes, rezando mentalmente para que a minha ruivinha aparecesse e me livrasse de tamanho sacrifício. Nicole, em determinado momento, colocou a mão na minha perna direita, como se fôssemos muitíssimo íntimos... Eu havia perdido alguma coisa?

Ah sim, havia perdido a entrada da Rafa, que estampava seu costumeiro sorriso frouxo. Sorriso esse que morreu ao perceber que Nicole e eu parecíamos mais íntimos do que de fato somos. Não faço ideia do motivo de repentino interesse, mas de todo modo, eu não estava interessado. Pus-me de pé rápido e então eu me esqueci de tudo... Nicole? Quem é Nicole? Naquele breve momento, meus olhos só se importavam com uma única pessoa. Rafaella.

− Uau... – foi tudo o que disse, encarando-a um pouco embasbacado. Não havia nada demais, mas ela estava tão absurdamente linda que era difícil evitar parecer um idiota.

Seus fios alaranjados estavam parcialmente presos em uma trança lateral. Seus óculos de grau foram substituídos por óculos de sol. Sua pele branca cheirava a protetor solar infantil e até combinava com seu inconfundível aroma de cravo. Suas sardas estavam mais nítidas... Vestindo uma camisa larga e despojada, uma bermuda jeans e chinelos, eu jamais a vira tão bonita. Não que já a tivesse visto muitas vezes.

SINGULAR (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora