Com intensa curiosidade, Rafa e eu observamos a lenta aproximação da Marcela. Ela parecia acabada, mas trazia um sorriso estampado no rosto. Talvez Stéfan estivesse, de fato, falando a verdade. Vi minha melhor amiga adentrar a área da piscina, largar os sapatos em cima de uma espreguiçadeira qualquer, dobrar a barra da calça e mergulhar os pés dentro da agradável água, perto da gente. Lançamos olhares interrogativos na sua direção, mas ela apenas deu de ombros e bocejou.
− Estou sem as minhas chaves e o porteiro disse que viu vocês vindo para a piscina... – justificou sua aparição repentina.
− Nós sabemos – rebati, entrando no seu joguinho de suspense. Ela queria que fizéssemos as perguntas, mas não seria assim dessa vez. Ela ergueu a sobrancelha direita na nossa direção e sua mente rapidamente começou a formular teorias. E embora ela odiasse a ideia de ser curiosa, ela sabia bem que seria a primeira a começar com as perguntas.
− Como? – quis saber, cruzando os braços abaixo do peito.
− Stéfan não pôde voltar para o seu apartamento, então veio para o nosso. Ele está no quarto da Nina e do Nico esperando você – embora adorasse não exprimir muitas reações, Marcela bufou e revirou os olhos.
− Não queria ter que lidar com ele agora... Preciso dormir – justificou.
− O que aconteceu? – Rafa se pronunciava pela primeira vez. – Ficamos preocupados – e eu sabia que aquele era exatamente o caso. Rafaella jamais invadiria a intimidade de qualquer um se não fosse por um bom motivo. É bastante evidente que ela gosta da Marcela. Por sorte, o sentimento parece recíproco.
− Stéfan e eu não daremos certo nem em um milhão de anos – explicou, com sinceridade. – E, sim, Noah, você já sabia disso, não precisa jogar na minha cara, ok? – eu não pretendia dizer nada, mas não consegui evitar um sorriso de canto típico de quem se considera um sabe-tudo. – Mas eu achei que poderíamos, ao menos, ter boas recordações um do outro. Ou a simples e pura tentativa de fazer dar certo... Percebi o quão tola estava sendo quando ele resolveu se declarar para mim – Rafaella acompanhava o ritmo da história, mas nesse momento se mostrou totalmente confusa. Sentia-me quase da mesma forma.
− Ele não devia ter se declarado, então? – minha ruivinha questionou, tentando ligar os pontos dessa história sem pé nem cabeça.
− Stéfan podia ter se declarado, mas não da forma como se declarou. Ele disse um monte de baboseiras ridículas e coisas como "não vou ficar com ninguém enquanto estiver no México... Esperarei até que você possa ser minha". Agora me diz: esse homem não deveria me conhecer o suficiente para entender que eu jamais pertenceria a alguém além de mim mesma? E será que ele não entende que eu nunca pedi uma droga de voto de castidade? Nunca quis isso, só queria que ele tivesse sido honesto comigo. É pedir muito? E talvez nós até déssemos certo quando ele voltasse... Eu não estagnaria minha vida amorosa e sexual por ele nem nada do tipo, mas sei lá, podia acontecer, não podia? E talvez tivesse acontecido, se o idiota não tivesse estragado tudo com sua droga de declaração machista. Sabe o que mais ele disse? – Marcela agora estava eufórica. Parecia reviver os momentos da noite anterior com muita vivacidade. Era difícil vê-la tão tagarela, principalmente quando o assunto envolve sentimentos. Mas agora que havia começado, seria difícil pará-la. – Disse que cuidaria de mim. CUIDARIA DE MIM – repetiu, mais alto. – Sou bem grandinha, não é evidente que posso fazer isso sozinha? Só faltou ele me chamar de vadia na tentativa de me ofender. Porque na cabecinha pequena dele, com certeza uma mulher não pode ser vadia. Queridinho, as mulheres podem ser o que quiserem!!!
E não, esse discurso inflamado não parou por aí. Marcela continuou a relatar sua noite catastrófica por longos minutos, até que finalmente resolvi interceder para tentar compreender uma parte – ainda oculta – daquela história.
− Certo, certo... Já entendemos que o Stéfan é um babaca machista do cacete. Mas a questão é: o que aconteceu depois que você se deu conta disso? – sua expressão foi de confusão, a princípio, mas logo depois se iluminou. Ah sim, parece que ela estava concentrada apenas na parte da história que envolvia o babaca em questão, não é mesmo?
− Encontrei um cara interessante e fomos para um motel. Com a melhor amiga dele. Fim – e com essa história desprovida de detalhes, Marcela se levantou, catou todas as suas coisas e seguiu pelo mesmo caminho em que chegou. – Vou subir e me livrar de uma vez de tamanho estorvo...
− Como alguém revela que fez um ménage e vai embora sem dar nenhum detalhe? – Rafaella perguntou e foi tão espontâneo que acabei caindo na risada.
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Jamais saberemos o que aconteceu no nosso temporário apartamento pelos minutos seguintes. Continuamos na piscina por quase uma hora. Esperávamos que Stéfan e Marcela já tivessem resolvido suas pendências, o que parecia ser o caso. Rafa e eu tomamos banho juntos, trocamos de roupa e saímos em busca de um bom restaurante para almoçarmos. Marcela disse que se entregaria aos encantos de Morfeu e o fez em muitos esforços. Quando voltamos, algumas horas mais tarde, ela roncava sem escrúpulos enquanto babava no travesseiro fofo. Queria deixá-la dormir um pouco mais, mas eu tinha um plano e precisava da sua ajuda. Tentei despertá-la com carinho e cuidado, mas ela deu com o travesseiro (babado!) na minha cara. Apelei e fiz cócegas nos seus pés, despertando-a em tempo recorde. Ela nunca estivera tão mal humorada.
− Você não tem amor pela sua vida, não? – perguntou e só faltou soltar fogo pela boca.
− Preciso da sua ajuda. Não te acordaria se não fosse por um bom motivo – desconfiada, ela assentiu e me pediu alguns minutos para se recompor. Sumiu pelo banheiro e voltou em seguida, parecendo menos assustadora.
E bom, Marcela pode ser muitas coisas, incluindo uma excelente melhor amiga. E topou me ajudar sem hesitação.
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Oi genteeeeeee! Gostaria apenas de dizer que mereço um prêmio por ainda ter forças para aparecer com um capítulo novo depois de um dia inteiro na bienal, viu? Fiquei meeeega feliz pois teve leitor daqui aparecendo por lá e me enchendo de amor <~ melhor presente!!! ♥ E como estou muuuuuuuuuuito cansada, não vou me delongar mais. Se tiver alguém daqui na Bienal de Minas nesse final de semana, me procure lá no estande da Leitura que o amor, as fotos e os abraços estão garantidos *--------* Até semana que vem, amados!
Câmbio,
desligo.
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SINGULAR (degustação)
RomanceSINGULAR é um spin-off independente de PODER EXTRA G; narrado pelo Noah, personagem secundário da trama que ganhou muitos admiradores. Se você ainda não conhece a Nina, trate de ler sua história e dar boas risadas. Sinopse: Noah sempre quis s...