NOVA VERSÃO - CAPÍTULO 08

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            O regresso da Nina foi bom, não me entendam mal, mas acabou tornando tudo ainda mais difícil. Minha mãe e eu, quando a vimos, por um momento alimentamos esperanças que não deviam ser alimentadas. Quando ela partiu, de verdade dessa vez, foi ainda mais triste e doloroso. Todos queríamos que uma nova tempestade a fizesse ficar, mas também sabíamos que tempestade nenhuma dura para sempre. Aquela partida, em algum momento, seria inevitável. Basicamente, o ocorrido fez a dor da despedida se tornar maior que o meu breve momento de esperança.

Os dias sem a Nina e a Marcela me permitiram focar mais na faculdade. Sempre fui um aluno muito aplicado, apesar de andar sempre atrasado, mas as duas brasileiras vinham tirando o meu foco. Sem elas por perto, me dedicar com mais afinco era minha única opção. Eu não queria me sair mal nas provas e menos ainda ser reprovado em alguma matéria. Sempre fui muito exigente comigo mesmo e me cobrava bons resultados. Estudei muito e tentei colocar todo o conteúdo atrasado em dia. Não foi fácil. Nayara me ofereceu ajuda e em alguns momentos até aceitei. Não escondi, no entanto, que as coisas ainda estavam um pouco estranha entre nós. Tentávamos, contudo, fazer com que nossa amizade sobrevivesse ao turbilhão desastroso de acontecimentos.

Eu estava no meio das provas finais enquanto meu irmão mais velho se empenhava em descobrir a identidade do progenitor da Nina. Quando meu irmão mais velho descobriu tudo o que precisava contar a Nina sobre o progenitor dela e embarcou para o Brasil, eu só esperava que não resolvesse ficar por lá. Pensar na possibilidade de perder a cunhada mais maravilhosa que já tive e o único homem a quem realmente admiro, era como receber uma facada dupla, algo que eu não estava disposto a suportar.

Havia feito a última prova do semestre. A mais temida por mim, para ser mais exato. Cursando Comunicação Social, jamais imaginei que precisaria lidar com números, por menor que fosse o envolvimento. Mas havia surgido uma droga de matéria chamada "Pesquisa de Mercado" que fodeu com os meus planos todinhos. Quando coloquei o último ponto final da prova, suspirei aliviado, tentando ser otimista quanto ao resultado. Aquele era um dia especial e prova nenhuma seria capaz de me desanimar.

Segui em direção ao estacionamento tentando manter o mesmo otimismo, quando ouvi Nayara chamar por mim. Ela corria na minha direção e eu me esforçaria para não ser um babaca com ela. Eu estava dando uma segunda chance a nossa amizade, esperava que ela estivesse fazendo o mesmo.

− O pessoal está combinando de tomar uma cerveja para comemorar o fim do semestre – contou, animada. – Você topa ir com a gente?

− Agradeço o convite, mas estou indo ao aeroporto buscar a Marcela – contei.

Suas feições, que me alcançaram animadas, murcharam como num passe de mágica. Ela não escondeu sua decepção e sinceramente, não me importei muito com isso. Apesar das dificuldades que nossa amizade vinha enfrentando, Nayara precisava entender, de uma vez por todas, que nós não seríamos nada além de amigos. Nadinha mesmo. Não seríamos nem caso de uma noite. Nem de meia noite. Nem uma rapidinha de cinco minutos no banheiro da faculdade. Não mais. Não depois de tudo o que aconteceu.

− Achei que ela tivesse voltado para o Brasil de vez – sondou com a boca retorcida em uma careta.

− Na verdade, ela vai morar em Buenos Aires. Conseguiu um emprego em um excelente jornal... Sua ida ao Brasil foi apenas burocrática. Ela voltou para ficar – pronunciar aquelas últimas palavras em voz alta fez o coração da minha amiga se despedaçar na mesma intensidade em que fez o meu saltar. Talvez eu estivesse sendo um filho da puta dos grandes, mas a sinceridade sempre foi o meu forte.

Ah, certo... Que bom. Então nós... Nos vemos qualquer dia. Espero que aproveite as férias – ela estalou um beijo em minha bochecha e se afastou antes que ficasse emotiva demais. Eu não queria ter nada com ela, era verdade, mas também esperava que ela não fosse correndo se jogar nos braços do ex-namorado que, até onde sei, é um babaca machista do caralho. Ela precisava entender de uma vez por todas que merecia mais que um imbecil qualquer.

A ansiedade de rever a Marcela estava acabando comigo. Assim que entrei no carro, esqueci completamente da Nayara e do momento difícil que estamos protagonizando. Liguei o carro e dirigi em direção ao aeroporto o mais rápido que pude. Estacionei o carro de qualquer jeito antes de sair correndo pelo galpão principal. Segundo meus cálculos, Marcela já devia ter chegado e eu a estava fazendo esperar alguns minutos. Sim, eu estava certo. Como é a pessoa mais imprevisível do mundo, eu não sabia dizer ao certo se ela estaria irritada com o meu atraso ou se não daria a mínima para ele.

Avistei-a em poucos minutos. Marcela encontrava-se em uma das cadeiras do aeroporto, com uma infinidade de malas cercando-a. Pensei em brincar com ela sobre aquela cena, mas mudei de ideia. Fazer piada sobre ela estar trazendo a casa inteira não teria a menor graça, afinal, ela estava MESMO se mudando para cá. De forma definitiva (graças a Deus!). Quando me avistou, ela abriu um largo sorriso e prontamente se levantou. Eu não esperava que ela corresse na minha direção nem nada do tipo (atitude que eu com certeza esperaria da minha cunhada), mas seus acenos efusivos foram muito mais do que eu podia imaginar. Ela parecia feliz em me ver tanto quanto eu estava por vê-la. Abraçamo-nos bem forte durante longos minutos. Eu estava com muita, muita saudade dela. Não pensei duas vezes antes de selar meus lábios aos seus... Dane-se não sermos namorados; ela estar apaixonada por outro cara (ela ainda nega, mas algo me diz que sim, ela está, o que é uma grande merda). Dane-se tudo, na verdade. Eu tinha certo direito sobre aqueles lábios, corpo e todo o resto que dizia respeito a ela (ou, pelo menos, assim eu preferia acreditar).

Por sorte ou intervenção divina, ela pareceu de acordo com aquela pequena demonstração de carinho. Já estávamos bastante crescidinhos para não confundir as coisas. E também para lidarmos com elas. Havia, inegavelmente, algo que nos tornava próximos e íntimos de um jeito todo nosso.

− Eu precisava mesmo de alguns músculos para me ajudar com tudo isso... – murmurou de forma exagerada. Eu sorri e tratei de arrumar suas bagagens em dois carrinhos.

− Sentiu falta só dos meus músculos? – questionei-a com ressentimento fingido.

− Não, Noah... Senti falta de você inteiro. Não seja dramático!

Eu acabei rindo. Era bom poder sorrir mais vezes.

Era bom ter Marcela de volta. 

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Gente, eu sei que não devo shippar Noah e Marcella, porque eles são ÓTIMOS como amigos e tal. Mas toda vez que eu vejo uma cena dos dois fico: *OWWWWWWWWWWWWWWN* Eu sou a única? D: shiuahsauishasi

ps.: no sábado e no domingo estarei na flipop, em São Paulo, para prestigiar migos lindos e curtir o primeiro festival de literatura jovem do Brasil. Será que vai ter alguém daqui por lá? :O Seria incrível!!! 

SINGULAR (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora