[NOVA VERSÃO] CAPÍTULO 13

692 80 26
                                    

O papo continuou de forma agradável pelas horas seguintes. A única coisa que mudou foi a intimidade que Rafa e eu estávamos tomando anteriormente. O clima foi completamente quebrado com a chegada da Marcela. Ela adicionou irreverência e bom humor à conversa, o que foi bom, pois fez minha mais nova amiga relaxar e rir sem pudor. Vez ou outra, eu me pegava encarando-a, tendo a sensação de conhecê-la de algum lugar, embora a probabilidade fosse mínima. Em quais circunstâncias eu teria conhecido aquela carioca quando ela nunca havia sequer pisado na Argentina? E eu, tampouco, tinha estado no Rio de Janeiro anteriormente. Esses fatos, no entanto, não eram capazes de fazer sumir aquela estranha sensação de reconhecimento.

Rafa acabou nos convidando para ir a um bar com karaokê naquela noite, em que iria com as amigas. Sem consultar mais ninguém além de mim mesmo, aceitei o convite em nome do grupo. Marcela, que adorava fazer piadinhas e me constranger com muita frequência, por sorte não disse nada, notando o meu entusiasmo. Ela apenas assentiu, com um sorriso misterioso que parecia esconder todos os segredos do mundo. Inclusive os meus.

Abandonamos a piscina apenas quando o sol começou a se despedir de nós, com a promessa de nos arrumarmos em tempo recorde. Rafa combinou de nos encontrar às nove horas da noite, na portaria principal do condomínio. Entramos no elevador e enquanto Marcela ajeitava o cabelo, a ruiva e eu fomos apertar o botão do andar correspondente aos nossos apartamentos. Foi então que nossos dedos se esbarraram. Podia ser que estivéssemos em andares próximos, mas...

− Estou no décimo andar – ela anunciou após eu ter recuado, sendo o cavalheiro de sempre. – Apartamento 1002 – Fiquei surpreso com a notícia. Talvez eu devesse ajoelhar e agradecer?

− Como não acredito em coincidências, acho que isso deve ser obra do destino. Somos vizinhos – eu disse e ela não se preocupou em disfarçar o enorme sorriso que invadiu o seu rosto sem pedir licença.

Saltamos do elevador e nos despedimos com acenos entusiasmados. Rafa e eu, pelo menos. Marcela nem tanto. Eu estava verdadeiramente contente por haver conhecido, em tão pouco tempo, alguém tão bacana quanto a Rafaella, mas era apenas isso. Não para Marcela, é claro, que enchia os ouvidos do Nico e da Nina com baboseiras sobre como eu estava caidinho pela nossa vizinha de porta. Ela estava interpretando tudo errado. Rafa era simpática, divertida, sincera de um jeito fofo e uma excelente companhia. Eu estava prestes a me jogar no carnaval carioca e não é como se pretendesse amarrar meu bode em algum lugar. Eu queria ficar desamarrado, livre como os ventos incansáveis da cidade maravilhosa.

− A menina corava e Noah sorria... Só faltava voar coraçõezinhos acima da cabeça dos dois – Marcela relatava enquanto devorávamos uma pizza vinda sei lá de onde. – Ele aceitou o convite dela em nome de todos nós sem nem ao menos nos consultar!

− Ela está exagerando – acusei de boca cheia.

− Eu sou a exagerada, fã de novelas e dramas mexicanos – Nina ponderou depois de um gole de sua bebida misteriosa. – Marcela costuma ser muito sensata e até um pouco reticente sobre as coisas. E é sério que você aceitou o convite em nome de todo mundo? E sem nos consultar? – assenti constrangido. Afinal, o que poderia fazer? – Você deve mesmo estar caidinho pela garota.

Meu objetivo era refutá-las, mas resolvi tomar um gole da bebida amarela que preenchia o copo da minha cunhada e... AH MEU DEUS!

− O QUE É ISSO? – perguntei, quase me engasgando com o líquido gelado. Não aguardei reposta para dar uma nova golada e aquele sabor era inexplicavelmente delicioso. O que era aquilo? E por que demorei vinte e um anos para provar?

− Guaraná – Nico respondeu como se fosse óbvio, embora eu duvidasse que ele tivesse tanto conhecimento a respeito da bebida como fingia ter. – Obra-prima exclusiva dos brasileiros... Só não perde para o pão de queijo – aquela pequena explicação/confissão revelava que meu irmão, talvez, estivesse cogitando voltar para casa com alguns quilinhos a mais.

SINGULAR (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora