Capítulo 42

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             Domingo de sol. Foi difícil acordar tanto quanto foi difícil dormir. Não consegui pegar no sono logo de cara, pois os recentes acontecimentos envolvendo Rafaella me deixavam mais ligado que dez latas de energético. Quando dormi, no entanto, sonhei com ela... E foi quando eu desejei não acordar. Apesar do mau humor matinal, abri os olhos e levantei da cama a contragosto. Naquele momento, senti que minhas pernas pesavam uma tonelada e que movê-las seria uma tarefa impossível. Ainda assim, segui adiante, rastejando-me miseravelmente em direção à cozinha. Minha adorável cunhada era a única acordada, e o enorme sorriso com o qual me recebeu me fez querer matá-la.

− Não seja tão agradável – resmunguei enquanto me sentava ao seu lado.

− Acabei de comer pão de queijo com doce de leite... Não dá para evitar – justificou com um dar de ombros e um sorriso que tomava seu rosto inteiro. – Talvez você deva tentar – aconselhou, não esperando uma resposta de fato. Antes que desse por mim (ou por ela) Nina já estava enfiando sua mágica combinação pela minha goela. E não é que aquele troço era bom? Meu humor havia melhorado, ainda que só um cadinho.

− Mais, por obséquio – pedi, e fui atendido de bom grado no segundo seguinte.

Não tardou para que Nícolas e Marcela se juntassem a nós. Aquele era o último dia do meu irmão e da minha cunhada conosco. Na manhã seguinte eles partiriam para Paraty e teriam um pouco de paz e privacidade. E bem que eles mereciam! Nina, apesar de não gostar muito de carnaval, havia entrado de cabeça na viagem apenas para me ver feliz e realizado.

Mandei uma mensagem de texto para a Rafa, dizendo apenas "bom dia". Sua resposta não tardou e basicamente era constituída de uma carinha feliz e muitas, muitas exclamações. Aquilo era a cara dela. Marcela e Nina, que sempre moraram no Brasil, mas no estado vizinho, nunca haviam ido ao pão de açúcar e aquela parecia uma excelente desculpa para o nosso turismo carioca. Era provável, no entanto, que Rafaella já tivesse feito esse passeio... E talvez até recusasse estar conosco naquele dia. Torcia para que não fosse o caso.

Eu poderia ter lhe enviado uma mensagem de texto? Sim. Poderia ter ligado para ela? Sim. Mas resolvi bater à sua porta apenas para poder ver seu sorriso de perto e não através da tela do celular e da minha imaginação. Bastou um toque para abrirem a porta... Torcia para que não fosse Nicole me recebendo e, felizmente, não era. Quem me recebia com um sorriso estonteante e as bochechas coradas era a minha ruivinha. Seu rosto se iluminou e tenho certeza que o mesmo aconteceu com o meu. Ficava cada vez mais difícil disfarçar.

− Bom dia... – murmurei com um sorriso tímido, sendo invadido (novamente) pelos acontecimentos do dia anterior. Será que já podíamos repeti-los?

− Bom dia – devolveu da mesma forma. – Você quer entrar...? – convidou e eu bem que queria aceitar o convite. Mas do corredor eu conseguia escutar suas amigas e eu meio que não estava com muita paciência para elas.

− Na verdade, vim te raptar – comentei com um dar de ombros despreocupados.

Seu sorriso se alargou ainda mais, de um jeito que eu nem considerava possível. Ela, que já vestia uma camiseta marfim e um short jeans rasgado, deu alguns passos em direção à mesa da sala e pegou uma bolsa preta que eu não conhecia. E então ela gritou para as outras meninas:

− Já tinha marcado com o Noah... Me desculpem, mas divirtam-se na festa do Dudu – uma das meninas começou a falar, mas Rafaella bateu a porta e me apressou em direção ao meu apartamento. Ficamos parados atrás da porta, escutando com atenção. Alguém abriu a porta da frente, bufou e logo voltou a fechá-la. A ruivinha murmurou um "graças a Deus". Lancei meu melhor olhar inquisidor na sua direção afinal, eu gostaria de saber o que estava acontecendo.

SINGULAR (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora