[NOVA VERSÃO] CAPÍTULO 20

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(por Marcela)

Saí para caminhar atrás de um picolé de manga sem jamais imaginar o que me aguardava. Com tantas pessoas naquele lugar, eu tinha logo que vê-lo? Reencontrar Stéfan na praia fez meu coração ficar disparado de repente e aquilo não se tratava de uma reação física em função de algum exercício. O simples fato de vê-lo (e escutá-lo) me estremeceu da cabeça aos pés. A quem eu estava querendo enganar? Ele exercia um magnetismo inexplicável sob mim. Não adiantava tentar negar... Mas, ao mesmo tempo, ele me despertou uma ira gigantesca. O que aquele babaca estava tentando fazer? Nossa convivência forçada no trabalho já era demais, por que ele precisava me perseguir em outro país durante o carnaval? Eu meio que pretendia surtar... Beijar muitos caras e talvez até levar um desconhecido para a cama, mas aquele argentino filho da mãe estava complicando as coisas com aquele papo de redenção.

− Marcela...? – a voz grave me chamou. Estagnei na areia branca e quente da praia de Ipanema e, subitamente, me esqueci de respirar.

Aquela voz... Aquela maldita voz estava perto demais. Não queria me virar para ter certeza do que já suspeitava, que ele estava ali, a um passo de distância. Mas sair correndo dali me faria parecer covarde, algo que definitivamente não sou. Forcei-me a respirar, o que não foi fácil, e tentando buscar paciência e autocontrole do além, finalmente me virei para ele. Lá estava Stéfan, bem ali, diante dos meus olhos, como se aquilo fosse uma casual coincidência.

− Será que nós podemos... Conversar? – perguntou, me devorando com seus malditos olhos azuis. Argh, por que ele precisava ser tão absurdamente lindo? Deus nunca me parecera tão injusto.

− Estou de férias. Não quero falar sobre trabalho. E até onde sei, não temos outros assuntos em comum – rebati, direta e reta. O carnaval era curto e eu não queria perder nem um mísero segundo dele com alguém que não merecia.

− Nós temos muitos outros assuntos a tratar, Macela. Só me dê alguns minutos do seu tempo, por favor. Prometo que vou respeitar qualquer decisão que você tome depois disso.

Ergui uma sobrancelha na direção dele, incerta sobre como prosseguir. Peguei-me mordendo o lábio inferior enquanto ponderava sobre seu pedido. Fugir dele não adiantaria, afinal, ele é o meu chefe e em algum momento aquela conversa acabaria acontecendo. Além disso, eu não tinha planos de perder a minha dignidade nem nada parecido. Stéfan continuou parado diante de mim em absoluto silêncio. O seu olhar confiante (e até mesmo prepotente) havia desaparecido. Tinha um olhar de cachorro abandonado, o que me fazia odiar aquela situação ainda mais.

− Me encontre na hora do almoço... Anote o meu endereço – murmurei, duvidosa de estar tomando a melhor decisão.

Quando todos os meus amigos foram almoçar, inventei uma desculpa qualquer para voltar ao apartamento, onde Stéfan estaria à minha espera. Aleguei estar sem fome, o que é uma tremenda mentira, mas sei que a Nina não me deixaria ficar sem comer, de todo modo. Depois dela me encher de pacotes de comida para viagem, segui em direção ao condomínio com passos apressados, onde encontrei meu chefe sentado, pacientemente, esperando por mim. Disse ao porteiro que ele estava comigo e subimos em direção ao apartamento.

Sim, sei que foi uma péssima ideia. Péssima ideia MESMO. Mas eu estava muito precisando do meu autocontrole e esperava que ele não me deixasse na mão dessa vez. O constrangedor silêncio do elevador me permitiu elaborar um pequeno plano mental: ter zero contato físico, evitar de fitar os seus olhos azuis, não amolecer com desculpas esfarrapadas e não inalar seu maravilhoso perfume – NEM SOB TORTURA. Ah, e também não me esquecer das suas babaquices recentes, nem da sua cara de pau.

SINGULAR (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora