(por Marcela)
A quem eu estava querendo enganar? Stéfan exercia um magnetismo inexplicável sob mim. Não adiantava tentar negar... Reencontrá-lo na praia fez meu coração ficar disparado de repente. E aquilo não se tratava de uma reação física em função de algum exercício. O simples fato de vê-lo (e escutá-lo) me estremeceu da cabeça aos pés. Mas, ao mesmo tempo, ele despertou uma ira gigantesca dentro de mim. O que aquele babaca estava tentando fazer? Nossa convivência forçada no trabalho era demais, por que ele precisava me perseguir em outro país durante o carnaval? Eu meio que pretendia surtar... Beijar muitos caras e talvez até levar um desconhecido para a cama. Mas aquele argentino filho da mãe estava complicando as coisas com aquele papo de redenção.
− Marcela...? – a voz grave chamou. Estagnei na areia branca e quente da praia de Ipanema e, subitamente, me esqueci de respirar.
Aquela voz... Aquela maldita voz estava perto demais. Não queria me virar para ter certeza do que já suspeitava, mas sair correndo dali me faria parecer covarde, algo que, definitivamente, não sou. Forcei-me a respirar, o que não foi fácil, e tentando buscar paciência e autocontrole do além, finalmente me virei para ele. E eu não podia estar mais certa. Stéfan estava bem ali, diante dos meus olhos, como se aquilo fosse uma casual coincidência.
− Será que nós podemos... Conversar? – perguntou, me devorando com seus malditos olhos azuis. Argh, por que ele precisava ser absurdamente lindo? Deus nunca me parecera tão injusto.
− Estou de férias. Não quero falar sobre trabalho. E, até onde sei, não temos outros assuntos em comum – rebati, direta e reta. O carnaval era curto e eu não queria perder nem um mísero segundo dele com alguém que não merecia.
− Nós temos muitos outros assuntos a tratar, Macela. Só me dê alguns minutos do seu tempo, por favor. Prometo que vou respeitar qualquer decisão que você tome depois disso.
Ergui uma sobrancelha na direção dele, incerta sobre como prosseguir. Peguei-me mordendo o lábio inferior enquanto ponderava sobre seu pedido. Fugir dele não adiantaria, afinal, ele é o meu chefe. Além disso, eu não tinha planos de perder a minha dignidade nem nada parecido. Ele continuou parado diante de mim em absoluto silêncio. O seu olhar confiante (e até mesmo prepotente) havia desaparecido. O Stéfan diante de mim tinha um olhar de cachorro abandonado, o que me fazia odiar aquela situação ainda mais.
− Anote o meu endereço – murmurei, duvidosa de estar tomando a melhor decisão.
Quando todos os meus amigos foram almoçar, inventei uma desculpa qualquer para voltar ao apartamento, onde Stéfan estaria à minha espera. Aleguei estar sem fome, o que é uma tremenda mentira, mas sei que a Nina não me deixaria ficar sem comer, de todo modo. Com passos apressados, segui em direção ao condomínio, onde encontrei meu chefe sentado, pacientemente esperando por mim. Disse ao porteio que ele estava comigo e subimos em direção ao apartamento. Péssima ideia. Péssima ideia MESMO. Eu estava muito precisando do meu autocontrole e esperava não ficar na mão dessa vez. O constrangedor silêncio do elevador me permitiu elaborar um pequeno plano mental: zero contato físico; evitar seus olhos azuis; não amolecer com desculpas esfarrapadas; não inalar seu maravilhoso perfume nem sob tortura; não me esquecer das suas babaquices recentes; nem da sua cara de pau...
A porta do elevador se abriu e interrompeu a finalização do meu plano sabiamente arquitetado. Abri a porta e convidei-o a entrar, ainda que a situação parecesse bizarra demais. Ofereci-lhe um copo d'água quando, na verdade, desejava oferecer-lhe um soco na cara.
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SINGULAR (degustação)
RomanceSINGULAR é um spin-off independente de PODER EXTRA G; narrado pelo Noah, personagem secundário da trama que ganhou muitos admiradores. Se você ainda não conhece a Nina, trate de ler sua história e dar boas risadas. Sinopse: Noah sempre quis s...