VERSÃO ANTIGA

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Ao que tudo indicava, Nayara realmente tinha uma queda por mim. E, bom, ela é bonita, inteligente, engraçada, companheira... Eu bem que podia ter uma queda por ela também. Adentramos seu apartamento e não houve tempo de procurar seu quarto. Eu estava sedento por tocá-la novamente e assim o fiz. Empurrei-a até a mesa, que ficava bem perto da porta por onde havíamos entrado. Ela tirou uma das cadeiras do nosso caminho e se sentou na mesa, me acomodando entre suas pernas, que rapidamente enlaçaram minha cintura. Tratei de arrancar sua blusa e dar a ela um destino bem longe de nós. Eu pretendia arrancar seu sutiã também, mas pensava que deveria esperar alguns minutos para isso, pois poderia soar indelicado até mesmo naquelas circunstâncias. Para minha surpresa – e sorte! – Nayara não usava nenhum sutiã. Assim que arranquei sua camisa, fui agraciado com a visão dos seus seios fartos e mamilos enrijecidos. Eu queria muito, muito, sugá-los até que ficassem doloridos.

− Vá em frente – ela disse com a voz rouca de desejo, como se pudesse ler meus pensamentos. Bizarro.

Bizarro ou não, segui em frente. E foi bom. Para os dois, posso afirmar graças aos gemidos sôfregos que ecoavam no pé do meu ouvido. Nay e eu éramos amigos desde o primeiro dia de aula. Havíamos nos conhecido de um jeito, no mínimo, clichê. Eu estava focado em um jogo no celular e ela, em um romance. Trombamos um contra o outro e tenho certeza de que estávamos prestes a gritar. Mas, contrariando todas as expectativas, apenas sorrimos. Mais tarde, descobrimos que não só estávamos no mesmo curso, como também dividíamos algumas matérias. A amizade veio de forma natural a partir daí. E foi pensando nessa amizade que eu cheguei à conclusão de que precisava contar para ela. Precisava contar antes que nos envolvêssemos mais... Antes que...

− Merda – sussurrei baixinho sem pensar.

Eu estava tentando tomar decisões sérias e o que Nayara estava fazendo? Dificultando as coisas para o meu lado, é claro. Não sei em que momento ela conseguiu se afastar de mim o suficiente para tirar a roupa... A roupa toda, devo esclarecer. Ela estava nua bem ali, diante dos meus olhos e parecia travessa e muito, muito sensual. Onde estava minha amiga que ficava de bochechas coradas quando eu falava da minha vida amorosa/sexual? Onde estava a jovem que vivia sonhando acordada com os romances melosos da literatura? Onde estava... Dentro dela. Digo, eu. Não exatamente eu. Meus dedos. Dois deles. Dentro dela. Aquela garota não estava tornando minha luta interna mais fácil. Nem um pouco!

− Mais rápido – ela pediu com os lábios colados aos meus.

Já vivi tempo suficiente para saber que não se recusa um pedido de uma mulher. Menos ainda nessas condições. Seria estúpido e suicida da minha parte. Então eu atendi aos seus desejos. Toquei-a com mais intensidade e agilidade. Seus gemidos embalavam o momento e me motivavam a fazer mais, a fazer melhor. Eu a beijei, a toquei, a acolhi em meus braços até o ápice chegar. E ele chegou de forma violenta, acompanhado de espasmos e suspiros. Foi gratificante. Quando seus olhos cansados me fitaram de um jeito avassalador, eu soube que precisava refreá-la por um momento. Tempo suficiente para dizer a verdade. O desfecho daquela cena não dependia de mim.

− Nay... Antes de continuarmos, você precisa saber de uma coisa.

− Teremos tempo para conversas depois... – retrucou com um sorriso safado, já abrindo o zíper da minha calça. Pousei minha mão sobre a sua, impedindo-a de seguir em frente. Seus olhos se voltaram para mim, confusos. – O que há de errado?

− Não há nada de errado, Nay – expliquei calmamente. Em pensamento, completei: "não sou um erro, não há nada de errado, nada mesmo". – Eu não imaginei que fôssemos chegar a esse ponto hoje... Antes de continuarmos, você precisa saber que eu sou diferente.

− Diferente? – sua voz, agora embargada, questionou. A expressão de êxtase e prazer abandonou seu rosto. Nayara parecia apenas apreensiva.

− Sou um homem... Trans... Um homem transexual, Nay – concluí de forma séria.

Eu estava pronto para voltarmos exatamente ao ponto onde tínhamos parado. Queria que ela me despisse e continuasse gemendo e suspirando contra o meu ouvido. Queria voltar a tocá-la... Queria ver sua expressão ao mesmo tempo sôfrega e satisfeita novamente. Mas Nay me encarava como se as engrenagens de seu cérebro trabalhassem em um ritmo muito abaixo do normal. Entre suas sobrancelhas havia um vinco que dizia que ela estava confusa, que não conseguia compreender. Silêncio. Aquele silêncio era uma farsa. Enquanto continuássemos calados, meus medos e anseios continuariam gritando em minha mente. Silêncio ensurdecedor!

− Você sabe o que quer dizer, não? – perguntei apenas para preencher aquele momento com algo fora da minha cabeça.

− Você tem um...? – ela não terminou a pergunta, mas olhava de forma inquisidora para a minha cintura. Eu sabia o que ela queria saber.

− Não – respondi, direto. Minha voz parecia rouca demais para os meus ouvidos. – Não um de carne e osso, ao menos.

Eu esperava que isso não nos impedisse de retomar o que acontecia pouco antes. Mas algo me dizia que eu estava sendo otimista na mesma proporção em que estava sendo ingênuo. O corpo de Nayara, ainda nu, parecia se encolher de forma desconfortável.

− Eu já vou – anunciei sem esconder minha decepção.

− Não posso lidar com isso, Noah – ela sussurrou, igualmente decepcionada. – Não tenho preconceitos – interrompi sua frase.

− Desde que sejamos apenas amigos – concluí com um sorriso triste. –Tudo bem, Nay...

Não estava tudo bem. Eu já havia passado por isso algumas vezes, mas continuava sendo igualmente doloroso. Saí do apartamento dela e respirei fundo. Chamei o elevador e aguardei. Repeti para mim mesmo que estava tudo bem, que ficaria tudo bem, que eu não me deixaria abalar...

Mas ainda doía. Ser rejeitado sempre doía. Algo me dizia que jamais pararia de doer.

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Queria deixar um recadinho bem bonito para vocês, mas ACABEI DE ESCREVER ESSE CAPÍTULO E ESTOU DE CORAÇÃO PARTIDO </3 ME AJUDEM A CATAR OS CAQUNHOS, NÃO ESTOU CONSEGUINDO LIDAR COM ISSO NO MOMENTO!


SINGULAR (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora