[NOVA VERSÃO] CAPÍTULO 15

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Deitado na cama, demorei para dormir. E não foi só pelo cansaço da viagem, seguido do dia animado. É que não conseguia tirar a ruivinha do apartamento em frente do meu pensamento. Seu sorriso contido, sua fúria na piscina quando nos conhecemos, suas sardas visíveis quando estamos bem perto, seu cabelo iluminado, o olhar misterioso, seus lábios carnudos e... Aquela expressão angustiada de quem está sofrendo em silêncio. Revivi, mentalmente, o abraço apertado que lhe dei no banheiro feminino do bar. Ficamos tão perto um do outro naquele instante. Pude sentir o seu coração descompassado batendo forte contra o meu peito e também inalar o aroma de seus cabelos... Cheiro de cravo. E foi pensando em todos os acontecimentos daquela sexta-feira que, sem perceber, acabei pegando no sono.

Assim que o meu despertador tocou, olhei para o relógio... Havia dormido apenas quatro horas! Levantei-me e segui cambaleante até o banheiro. Eu havia acordado extremamente excitado... E se tivesse um pênis de carne e osso, ele definitivamente estaria ereto. Não sabia ao certo o causador de tal reação, mas algo me dizia que Rafaella não havia saído da minha cabeça nem enquanto eu dormia.

Tomei um banho gelado, a fim de despertar completamente e acalmar os ânimos. Fui até a cozinha e vi que meus amigos haviam deixado um bilhete na porta da geladeira: Estamos na piscina! Pensei em me juntar a eles. Afinal, um mergulho matinal cairia muito bem. Principalmente se Rafaella estivesse lá, como no dia anterior. Mas antes eu precisava fazer meus exercícios físicos, considerando principalmente toda a gordura ingerida até então. Sem contar a bebida alcoólica, apesar de ter sido em pouca quantidade... A doutora Madalena sempre havia sido muito específica sobre os cuidados que eu precisaria tomar durante o tratamento hormonal. Eu estava me jogando em todas as porcarias que preciso evitar, mas como era Carnaval - e ainda mais no Brasil! - acho que mereço uma exceção, não é mesmo?

Tentei ingerir um café-da-manhã o mais saudável possível. Em seguida, saí para as ruas de Ipanema. Um pouco de exercício acompanhado de uma vista deslumbrante não cairia nada mal. O bairro estava lotado. Ainda que fosse cedo, já havia pessoas festejando pelas esquinas, ao som de músicas típicas. Algumas estavam fantasiadas e pareciam se divertir como crianças. Recebi cerca de cinco cantadas enquanto mantinha um ritmo leve de caminhada. Uma delas, proferida por um homem. Não que isso seja um problema, é claro. Apesar de não ser gay, gosto dessa liberdade dos cariocas de expressarem seus desejos tais como são.

Aquela corrida foi, sem dúvidas, diferente de todas as outras na minha vida. O calor era intenso, mas a brisa do mar estava incrivelmente agradável. Na rua, as pessoas estampavam sorrisos largos, desses que não vemos no cotidiano. Beijos e abraços eram trocados aos olhos de todos. E havia todo tipo de gente ali, convivendo de forma pacífica e entusiasmada. As pessoas não poderiam ser assim o tempo todo?

Já passava das onze quando dei minha corrida por finalizada. Embora estivesse ansioso pelos programas que nos reservava aquele sábado, eu precisava fazer algo primeiro. Saquei meu celular do bolso da bermuda, abri o aplicativo de localização e tratei de procurar a livraria mais próxima que, por sorte, não ficava longe dali. Caminhei até o local indicado e fiquei feliz com o que encontrei. Não se tratava de uma dessas enormes franquias, mas de um local pequeno, incrivelmente charmoso e aconchegante. Uma jovem de cabelos encaracolados e sorriso doce me atendeu. Meu português não é dos melhores e tampouco o espanhol dela, mas conseguimos nos comunicar sem grandes dificuldades.

− Estou procurando um título da Jane Austen – expliquei enquanto nos dirigíamos ao fundo do estabelecimento. – Não tenho certeza do nome, mas sei que tem uma mulher na capa e um homem ao fundo. Eles pareciam estar em um campo...

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