Capítulo 37

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(bônus – por Rafaella)

Rio de Janeiro, 06/02/2016

Não vou começar com "querido diário", juro que já superei essa fase – escrevi em uma das minhas folhas amareladas da minha caderneta de capa dura e sem pauta.

Depois de anos de abstinência, fui à praia. Nunca foi meu programa favorito, confesso, mas me peguei dividida naquela manhã ensolarada de sábado. Durante muitos anos morei no exterior e ir à praia era algo raro. Acontecia durante as férias de verão, quando eu voltava para o Brasil para as festas de fim de ano em família. Quando o Noah me fez aquele inusitado convite, no entanto, não encontrei forma de dizer não. Eu tenho algumas desculpas na ponta da língua, é verdade, mas todas usadas para encobrir os verdadeiros motivos. Durante toda a infância e pré-adolescência trabalhei como modelo. Era fácil vestir roupas de banho e posar para uma câmera mesmo com milhares de desconhecidos atrás dela. Mas essa facilidade se esvaiu com a chegada do meu novo corpo. Agora eu tinha curvas, seios fartos, coxas grossas, estrias, celulites e eu simplesmente não sabia lidar com aquilo. Nunca fui preparada para isso. Minha mãe sempre foi muito, muito rigorosa comigo, minha alimentação e o meu corpo. Enquanto todas as crianças se esbaldavam em doces e porcarias mastigáveis, eu precisava me manter focada na melhor alimentação possível. "Seu futuro depende disso", repetia minha mãe diariamente. E ai de mim se engordasse um quilo. Era algo pior que o anúncio da terceira guerra mundial. No meu antigo apartamento, em Nova York, gorda era o pior pejorativo que podia ser dirigido a outra pessoa. Mais ainda se estivéssemos falando de uma das agenciadas de minha mãe.

E então surge o Noah. Sei que já contei como o conheci no dia anterior (juro que parece fazer mais tempo!), mas cada dia descubro algo incrível sobre ele. Noah é o tipo do cara para quem é impossível dizer não. Ele tem um sorriso fácil, é gentil e doce, e muito, muito gato. Sorrindo do jeito que ele me sorrira mais cedo, eu era capaz de concordar de ir para o inferno se tivesse sua companhia. Ele me convidou para ir à praia e instantaneamente fui bombardeada por imagens assustadoras, onde eu era atacada e recebia olhares feios (como os que minha mãe me lançava quando eu queria apenas ser como todas as outras crianças da minha idade). Eu aceitei o convite, mas muito receosa. Assim que cheguei, o vi tirando a camiseta e quis cavar um buraco na areia onde pudesse me esconder. Noah é sarado e parece não ter uma mísera gordura sobrando para lado nenhum. Nem mesmo sua cicatriz (quase não visível graças à tatuagem tribal que toma seu peitoral) era capaz de estragar aquele vislumbre do céu. Desviei o olhar e mergulhei no livro que havia ganhado. Não me sentia nem um pouquinho confiante para tirar a roupa. Eu usava um elegante maiô por baixo, mas mesmo escondendo a barriga me sentia insegura com todo o resto. E então ele disse:

− Eu poderia dizer que apenas quero a sua companhia, Rafa. Mas não vou mentir... Estou louco para vê-la com pouca roupa.

JURO JURADINHO QUE FOI EXATAMENTE ISSO QUE ELE DISSE. E soou quase como música para os meus ouvidos. Não tinha como ter certeza de que ele estava falando sério e não tirando uma com a minha cara. Bom, ele não seria o primeiro. Tomei coragem e fui para o mar com ele. Uma parte de mim achava que todos os olhares se voltavam na minha direção em reprovação. Sei que soa meio perseguidor e talvez até egocêntrico, mas eu estava me sentindo num show de horrores. Ultimamente eu sempre me sentia assim. Mas então Noah entrou em ação de novo, dizendo que eu sou linda e muito, muito (ele disse muito duas vezes) gostosa. E embora não conseguisse acreditar inteiramente nele, sorri e fiquei feliz.

Saímos da água, nos vestimos e fomos almoçar. E só então me dei conta: eu havia usado uma roupa de banho no meu novo corpo e nada extraordinariamente bizarro havia acontecido. Zeus não havia lançado um raio sob nós; a terra não foi invadida por alienígenas; nenhum vulcão entrou em erupção (não que eu saiba); Poseidon não nos afogou nem nada do tipo. E, bem, havia a Nina também. Ela estava usando um biquíni (pois é, com a barriga de fora e tudo) e eu posso jurar que ela pesa mais do que eu. Ela andava com uma confiança inabalável e eu era capaz de acreditar que ninguém em todo planeta seria capaz de atingi-la. Secretamente, desejei ser como ela. Passei os minutos seguintes pensando como seria se eu fosse capaz de amar cada pedacinho meu. Cresci ouvindo que ser gorda era a pior coisa do mundo, mas talvez não fosse. Talvez eu ainda pudesse continuar sendo linda e desejada. Talvez pudesse vestir a roupa que quisesse (como sempre foi). Talvez pudesse provar para minha mãe que ela estava errada; que sempre esteve.

Talvez... Sei que não é muita coisa, mas pode ser um começo.

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SURPRESA!!! Ninguém me esperava por aqui hoje, mas resolvi aparecer com um bônus afinal, tenho muuuuitos leitores lindos que são parte da minha motivação ♥ Tem outros que só sabem reclamar também, mas para esses não dou muita atenção #sorrynotsorry Escrever essa história tem sido uma experiência incrível e poder contar com vocês está sendo tudo de bom! Suuuuuper obrigada! 

Espero que curtam o bônus da Rafa... Deixem estrelinhas e me digam o que estão achando da história, que tal? *-* E

SINGULAR (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora