SINGULAR (degustação)

Capítulo 43

Tentei parecer um homem calmo e totalmente controlado, quando na verdade, estava morrendo de curiosidade. Não deu para evitar, é mais forte que eu. A palavra surpresa tem esse poder sobre as pessoas. Se ela tivesse ficado calada e apenas nos surpreendido, não estaria nesse estado anormal de ansiedade. De todo modo, acreditava piamente que tudo envolvendo aquela ruivinha era incrível. As expectativas só aumentavam!

Ela nos guiou sem hesitação em direção a... Algum lugar do qual não fazíamos a menor ideia. Avistei um enorme heliponto e achei que passaríamos longe dele, mas...

− Seja bem-vinda, senhorita Rafaella – cumprimentou um homem de cabelos grisalhos e sorriso galanteador. – Sua mãe entrou em contato comigo e já estamos providenciando tudo para um passeio inesquecível. Imagino que esses sejam os seus amigos – Rafa apenas assentiu enquanto o homem nos lançava seu olhar de galã de meia idade. – Sou o piloto Giovani e terei o prazer de guiá-los pelo céu carioca.

Nós íamos... Voar? Tipo, voar de verdade? Eu não... Bem... Acho que ninguém estava pronto para isso. Ficamos boquiabertos tentando digerir a situação. Nossos olhares incrédulos deixaram Rafaella receosa.

− Vocês... Não gostaram da surpresa? – aquela pergunta descabida me fez querer chacoalhá-la e acordá-la para a realidade.

− É claro que nós gostamos, Rafa. Mas como você preparou isso em tão pouco tempo e...? – com um dar de ombros, a ruivinha me interrompeu.

− Ele e minha mãe são amigos de longa data. Já foram namorados, inclusive. Liguei para ela e voilá.

− Achei que sua mãe fosse uma vaca – Marcela deixou escapar e eu desejei ser o Ciclope para poder matá-la com um único olhar.

− Vacas dão leite... Então elas acabam tendo o seu lado positivo. Como toda e qualquer outra coisa na vida – Rafa sorriu sem graça, mas não discordou da colação (inadequada) da nossa amiga. Marcela era assim, sincera ao extremo e muito pouco preocupada com regras de etiqueta.

Enquanto o piloto Giovani andava de um lado para o outro e falava com outros funcionários do local, ficamos ali, aguardando com muita, mas muita expectativa. Nico sempre foi um admirador de belas paisagens e fotografias, então eu sabia que aquele momento teria um significado diferente para ele. Seu sorriso era o mais largo e eu acabava sorrindo por ele. Compartilhar momentos como aquele com Nícolas me fazia sentir realizado. Porque ele sempre foi o exemplo do homem que eu queria ser. Meus pensamentos foram deixados de lado ao toque das mãos gentis da... Er... Eu não sabia exatamente como me referir a ela. Bem, tanto faz, vocês sabem de quem estou falando.

− Pronto para uma experiência de tirar o fôlego? – segurei suas mãos e aninhei-as entre as minhas. Tinham quase o mesmo tamanho.

− Ao seu lado, toda experiência é de tirar o fôlego – respondi, arrancando um sorriso tímido em resposta. Não resisti (como poderia?) e acabei beijando-a ali mesmo, como se não houvesse ninguém além de nós dois.

E então... Click. Abrimos os olhos imediatamente e Nícolas estava parado diante de nós, nos capturando através da lente de sua câmera com olhos brilhantes e sorriso relaxado. Ele se aproximou de nós e nos mostrou a fotografia que havia acabado de tirar... E era tão absurdamente linda que me deixou sem palavras. O mesmo havia parecido acontecer com a Rafa que, em silêncio, apenas assentiu e tentou não chorar.

Giovani reapareceu e fez questão de nos levar até o helicóptero, que seria nossa instalação nos próximos minutos. Fui o primeiro a entrar e acabei ficando em uma das janelas. Rafa veio em seguida. Logo, um a um foi se acomodando. Nícolas queria ficar na outra janela para poder fotografar a paisagem e todos concordaram. A partir daí, foi um tal de liga botão, coloca cinto, instruções para casos de emergência etc. O barulho das hélices começou a preencher nossos ouvidos, fazendo com que a ansiedade atingisse níveis inéditos. Rafa parecia confortável e familiarizada com tudo aquilo e era, de fato, a única a parecer uma pessoa normal.