NOVA VERSÃO - CAPÍTULO 07

795 105 9
                                    

De quantas formas diferentes é possível sofrer?

Devo dizer que já perdi a conta. E também desisti de tentar entender o estranho funcionamento do meu coração. Um sofrimento nunca é igual ao outro e não importa quão preparados estejamos, sempre vai doer de um jeito inédito. Naquela quarta-feira eu já acordei sentindo que aquele não seria um dia fácil...

Havia a inevitável partida da minha cunhada, a quem julguei, de forma equivocada, como a mulher da minha vida. Era estranho, mas Nina havia mudado completamente a dinâmica da nossa família. Era bastante óbvio que ela não queria partir e de que estávamos totalmente de acordo com ela em relação a isso. Mesmo que ela quisesse ficar, precisava resolver sua vida por lá: com seu chefe, seus pais... É ingenuidade pensar que ela não tinha uma vida toda planejada antes da família Viegas aparecer no meio do seu caminho.

Fui para a faculdade tentando não pensar a respeito. Nayara estava à minha espera no corredor e nós desenvolvemos uma conversa um tanto superficial até chegarmos à nossa sala. Nossa amizade voltaria ao normal, mas levaria certo tempo.

Assim que me acomodei, mandei uma mensagem de texto para a Marcela, dizendo que estava com saudades. Marcela com certeza encontraria um jeito de levantar o meu astral. Mal podia esperar pelo seu regresso.

Quando a aula por fim acabou, fui me encontrar com Candela e Martín, meus colegas do grupo de apoio, para um agradável almoço. Candela era "a garota nova" a quem dera carona dias atrás. Na verdade, foi exatamente isso que nos aproximou. Acabei descobrindo o seu telefone e a chamando para tomar um café. Como amigos, é claro. Queria que ela soubesse que podia contar com pessoas ao lado dela, mas também fiz isso pelo meu amigo Martín. Calma que já explico o porquê: desde que Candela foi ao grupo, Martín estava totalmente caidinho por ela, então ele meio que estava me usando para se aproximar da novata. Basicamente eu estaria presente naquele restaurante para segurar vela. Bem, o que não fazemos pelos amigos, não é? Martín e eu sempre conversamos sobre tudo. Eu acompanhei o início da sua transição (já faz muito tempo) e foi muito bacana poder compartilhar experiências com ele. Nossa amizade se deu de forma natural a partir daí.

Eu esperava, com todas as forças, que os dois dessem certo. Ambos haviam passado por tanta coisa... Com certeza conseguiriam se ajudar e compreender mutuamente.

− Olá, meninos – Candela cumprimentou assim que chegou. Martín e eu estávamos sentados batendo papo e levantamos imediatamente para recebê-la. Sim, somos perfeitos cavalheiros.

− Bem-vinda de volta – cumprimentei com um sorriso. Martín, coitado, parecia ter perdido a fala. Ele sorriu de um jeito bobo que, eu esperava, derretesse o coração da Candela. Ela fingiu não notar a cena que presenciava, mas posso afirmar com propriedade que ela gostou da reação do meu amigo. Um sorriso tímido ganhou sua face e ela mexeu no cabelo ondulado por um momento. Seu vestido florido deixava tudo ainda mais romântico.

Embora não fosse adequado, pedimos uma pizza. Nossos médicos vivem dizendo para evitarmos gordura e uma pizza no horário de almoço no meio da semana, bem, não era a escolha mais inteligente. Ah, que se dane! Não precisamos nos esforçar para manter uma conversa agradável. A coisa toda simplesmente fluiu... Pedi licença para ir ao banheiro e mandei uma mensagem de texto para a Marcela, pedindo para que ela me ligasse em vinte minutos. Ela não me fez perguntas, apenas atendeu o meu chamado... Deus abençoe essa mulher!

Eu tinha acabado de comer a sexta fatia de pizza (sim, eu contei) quando o telefone tocou. Marcela.

Ah sim, claro... Não se preocupe, cuidarei disso. Agora? Nesse exato minuto? Bem, sem problemas, chego aí em... Hm... Dez minutos – eu estava doido para deixar os dois a sós e servir de cupido no fim das contas. Martín é um cara bacana e há algum tempo vem procurando alguém especial como a Candela parece ser.

− Vou querer uma explicação depois, gatinho – foi tudo o que Marcela disse após o meu discurso que não lhe fez nenhum sentido.

Anunciei que tinha uma emergência familiar e me desculpei por precisar me ausentar no restante do nosso almoço. Ninguém pareceu se importar. Não precisei pagar por nada, já que Martín, que me usava como isca, tinha tido a decência de pagar pela coisa toda. Antes de sair, porém, peguei mais um pedaço de pizza.

− Fase de crescimento – justifiquei para, em seguida, dar mais uma mordida. Já estava de saída quando resolvi me virar para avaliar os dois pela última vez. Ambos tinham sorrisos fáceis no rosto e o clima parecia descontraído. Saí do restaurante torcendo para que o casal desse certo.

****

A noite havia chegado mais depressa do que deveria. E, com ela, a hora de se despedir da Nina. Nico, minha mãe e eu seguíamos para o aeroporto Ezeiza ao lado dela. O tempo estava péssimo. Chovia forte e o trânsito acabou nos atrasando um pouco. Nada muito preocupante. Preocupante mesmo era ter que dizer adeus; ter que ver a Nina decolando em um avião de volta para casa, quando na verdade, ela já estava em casa. Sem contar que o tempo fechado ainda nos dava uma preocupação extra. Minha mãe a abraçou e se despediu com todo o carinho que já nutria por ela. Em seguida foi a minha vez... Eu a abracei bem forte e senti sua coluna estalar entre os meus braços. Segurei seu rosto entre minhas mãos e notei que não era o único emocionado da história. Nina também parecia prestes a ter uma crise de choro. Tornei a abraçá-la, dessa vez, sussurrando contra seu ouvido...

− Você é incrível, Nina. Nunca permita que a façam se sentir menos do que isso. Você é maravilhosa e eu cheguei a acreditar que estava apaixonado por você... Mas você significou muito mais que isso para mim. Você me mostrou que eu preciso me amar e que se o fizer, outras pessoas o farão. Você estava certa, Nina. Logo depois que comecei a te ouvir, encontrei a Marcela, que me aceitou do jeito que sou. Não compartilhamos uma paixão intensa e avassaladora, como você e o meu irmão, mas vocês duas, de formas diferentes, me mostraram que eu sou um homem merecedor de vivenciar e compartilhar tais sentimentos. O que vocês fizeram por mim, não há "obrigado" que agradeça.

Certo. Aquilo foi o suficiente para que nosso emaranhado humano de despedida se tornasse um remake barato de novela mexicana. Ela chorou, eu chorei, todos choramos.

− Diferente é bom, Noah – ela sussurrou na minha direção. − É único... É singular.

Eu achei que aquilo não pudesse ficar mais dramático, mas ficou. Porque meu irmão fingiu estar morrendo de ciúmes e se aproximou da sua garota, mostrando que, para ele, tudo aquilo era ainda mais difícil. Minha mãe e eu nos afastamos um pouco, a fim de dar um pouco de privacidade para o casal.

Quando a Nina entrou na sala de embarque, não havia muito o que pudéssemos fazer. Estávamos voltando para o nosso apartamento, quando Nico resolveu ficar. Meu irmão disse que só sairia dali depois de ver o avião da sua amada tomando os céus rumo ao Brasil. Aquilo parecia masoquismo demais até mesmo para ele, mas não discutimos. Conhecemos Nícolas bem o bastante para saber que não adiantaria teimar.

Voltamos para nosso apartamento e... Menos de duas horas depois, Nico estava de volta.

Com Nina logo ao lado.

Que diabos ela fazia ali? – me perguntei, minha cabeça um misto de confusão e gratidão. 

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ 

Eu adoro essa cena do aeroporto, quando a Nina fala para ele que diferente é bom e único e singular <3 Fico melosa pra caramba, sim! hahahah Será que sou a única? :S 

SINGULAR (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora