Capítulo 52

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(por Rafaella)

"Ela queria saber o que naquele momento estava passando em sua mente, de que maneira ele pensava nela. E se, ao arrepio de tudo, ela ainda era querida por ele." (Jane Austen)

Eu sabia, de muitas maneiras diferentes, que estava fazendo tudo errado. Demonstrava, constantemente, minhas inseguranças e receios. Mentalmente, tentava me forçar a ser mais autoconfiante... Mais como a Nina, por exemplo. Ela, com certeza, pesa mais do que eu. Ainda assim, seu caminhar é seguro e ninguém parece capaz de feri-la com ignorâncias e padrões pré-estabelecidos. Eu queria ser mais como ela, mas não sabia nem por onde começar. Cresci em uma realidade totalmente diferente e jamais precisei me preocupar com nada parecido. Meu corpo magro, minha pele branca e meu cabelo ruivo pareciam a combinação perfeita. Mas foi só uma coisinha sair do lugar para eu me sentir completamente estranha. Habitando um corpo que nunca havia sido meu.

Desde novinha me acostumei a posar com pouca roupa diante não só de lentes fotográficas, mas também de um monte de desconhecidos. Atualmente, a simples possibilidade de exibir minha barriga me deixa apavorada. Acho que, se ousasse sair assim, as pessoas me olhariam torto e comentariam sobre mim aos cochichos; as expressões seriam de nojo e repulsa, afinal, não podia esperar outra coisa. Cresci ouvindo que engordar era a pior coisa que podia me acontecer. E aconteceu. A endometriose é preocupante? É sim. Mas adivinhem o que mais perturbou a minha mãe? Meu ganho de peso, é claro. De que maneira eu podia me livrar de toda a ignorância e preconceito implantados na minha mente desde tão cedo?

Noah estava jogado na cama, ao telefone com sua mãe. Tomei um banho gelado e agora estou aqui... Escorada atrás da porta, encarando meu reflexo no espelho. Completamente nua, tento entender por que não consigo encarar meu corpo por tempo suficiente. Mais que isso... Por que não consigo admirá-lo? Respiro fundo, determinada a me olhar por mais tempo dessa vez. A nova Rafaella (como me autobatizei) não tem mais os ossos sobressalentes. Nem na cintura, nem abaixo do pescoço, nem nos ombros... Há carne onde antes não havia. Os seios pequenos e discretos foram triplicados e, preciso admitir, ficaram infinitas vezes mais bonitos. Como não havia me dado conta disso antes? Certo, eles não são bons para a alta costura, mas o mundo da moda sempre foi o sonho da minha mãe, nunca o meu. Então, por que eu me importava tanto?

Virei-me de lado e percebi que minha barriga negativa já não era tão negativa assim. Havia um formato novo, estranho e levemente incômodo. Meus dedos deslizaram por ali e eu constatei dobrinhas onde não costumava haver nada. Senti cócegas e acabei sorrindo distraída. Voltei a olhar para minha barriga novamente e me questionei: ela era incômoda para quem? Para a minha mãe? Com certeza. Para as agências de moda? Definitivamente. Mas o que ela me causava, de fato? E o que causaria ao Noah?

Meu rosto havia adquirido um formato arredondado que nunca lhe foi característico. As bochechas sugadas haviam desaparecido e eu gostava de como minha face parecia, pela primeira vez, pertencer a uma pessoa real. Graças ao sol e ao calor intensos da cidade maravilhosa, também estava corada, o que com certeza me agrada. Esforcei-me para avaliar meu corpo de costas e... Quando foi que ganhei esse traseiro enorme? E por que há tan...

Toc, toc! Assustei-me com uma batida na porta. Como se tivesse sido pega fazendo algo ilícito, me envergonhei e tratei de me enrolar na toalha. Só então me senti a vontade para perguntar ao Noah o que ele queria.

− Já acabou?

− Sim, eu só... – minha mente estava longe. Divagando.

Que sensação meu corpo despertaria no Noah? Será que ele seria invadido por repulsa? Será que ele continuaria sendo gentil, adorável, cavalheiro, sexy e tudo mais que eu achava que era? E se ele fosse como todos os outros e demonstrasse algum incômodo, por que eu deveria perder meu tempo com ele? Sei que estou sendo invadida por sensações absolutamente desconhecidas e que ele se tornou especial em poucos minutos, mas se ele fosse um imbecil como todos os outros eu deveria descobrir o mais rápido possível, não é mesmo? Ainda assim, eu estava morrendo de medo. Não queria me decepcionar, não queria tê-lo julgado de forma equivocada.

Subitamente, perdi o controle dos meus movimentos e tudo o que se seguiu foi como um borrão. Num momento, a toalha cobria meu corpo recém lavado e a porta estava fechada. No momento seguinte, me livrei da toalha e abri a porta... E Noah estava bem ali. E eu estava diante dele completamente nua. E havia um bolo na minha garganta, uma agitação no estômago e uma queimação nos olhos. Podia não fazer a mínima ideia do que estava fazendo, mas algo crucial eu iria descobrir.

*****

(por Noah)

Eu, definitivamente, havia perdido alguma coisa. Depois da (dolorosa) confissão da Rafa, precisamos de um tempo para acalmar as coisas e voltarmos a agir como as pessoas (quase) normais que somos. Ela parecia querer privacidade, então entrei no banheiro e tomei um banho mais longo que o habitual. Saí com (apenas) uma toalha enrolada na cintura – talvez tenha feito isso de propósito – e com o cabelo encharcado. Minha ruivinha pareceu se perder em mim por longos segundos, o que muito me agradou, por acaso. Em seguida, ela anunciou que era sua vez de tomar banho e depois de arrumar o meu packer, vestir uma cueca limpa e uma calça jeans, me joguei na cama e resolvi dar notícias para Dona Elena, que vivia constantemente preocupada comigo e meu irmão.

Finalizamos a ligação e a Rafa ainda não havia saído do banheiro, embora a água tivesse parado de cair há vários minutos. Resolvi bater na porta apenas para garantir que ela estava bem e depois de uma frase inacabada, ela simplesmente abre a porta e se revela seu corpo completamente nu. Essa é a hora em que eu pisco repetidas vezes para me assegurar que não se trata de nenhuma miragem e menos ainda de um preocupante caso de insanidade. E quando, por fim, constato que aquele momento é real, não sei muito bem o que fazer.

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Oiiiiiii gente linda, elegante e sincera! Tentei aparecer mais cedo por aqui, mas falhei :( Por ser feriado, espero que ainda tenha muita gente acordada *-* Escrever a confissão da Rafa partiu meu coraçãozinho, mas prometo que o que está por vir vai trazer muita alegria pra gente ainda :x 

Mas eeeenfim... Espero que tenham tido um feriado abençoado e que assim continue o final de semana, independente de religiões. Espero que gostem do capítulo e... E... Não tenho mais o que falar (milagre hahaha). Quero só convidar vocês a conhecerem o projeto #GPower, que está no facebook e está lindo demaaaaais da conta (facebook.com/gpowerreal) o/ E é isso, meu povo. Bom final de semana, boa páscoa e até a próxima quarta *----------------* 

SINGULAR (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora