"Capítulo III'' A Realidade

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Saran ardia em febre, os pais continuavam preocupados. A mãe Yvi não sabia mais o que fazer, tentava acordar a jovem, mas ela não respondia. A moça continuava seu delírio interior e se via sentada à porta, as imagens se repetindo continuamente chorando, uma mulher vestida de branco confundindo-lhe com a paisagem  que se aproximou de Saran pegou  suas mãos e disse: 

—Saran minha filha, veja o que está fazendo da sua vida, não se martirize, não se culpe, você pode ter uma vida diferente da que já teve, é só lutar pelo que você quer, não precisa magoar ninguém ou a você. Lute contra suas emoções, isto fez parte da sua vida, agora não mais, mude minha filha e seja forte. A mulher tocou na cabeça de Saran e uma luz cobriu à testa da moça que a fez adormecer e a levaram (espírito) para um lugar onde ela poderia repousar. Era um espírito amigo de Saran, que a levava para o descanso após morte, onde teria ajuda necessária, após o tormento do suicídio. Os três caminhavam nas planícies, o frio nessa área era maior que nas montanhas, devido à abertura do campo. O vento cortava a pele do rosto e eles  deixavam apenas os olhos à mostrar, andavam com dificuldade e o vento soprava ao contrário, mas devagarinho eles avançavam. 

em outro lugar, na realidade da vida...A leveza da alma em companhia do Monge dava aos rapazes a segurança espiritual que precisavam para viajar, sem eles não teriam conseguido. A casa dos rapazes estava muito perto, de longe eles avistaram a montanha, agora era só dar volta na última montanha e a casa estaria lá, não viam a hora de chegar.

 -Monge à nossa casa fica atrás daquela montanha baixa, mas não precisaremos escalar ela, vamos contornar, ela estará ao lado do rio, do outro lado. Parava de nevar e o caminho sem vento e neve, dava mais visão do que encontrariam nas próximas horas, chegariam de noite em casa. O coração apertado de Yul não via à hora de chegar, algo o incomodava sem saber o que era. 

O Monge temia o pior, mas rezava pela menina, sabia que algo estava acontecendo, e queria chegar rápido e se pôs a frente com inteligência e calma. Era noite, à família não se preocupava muito com as horas, acabavam de jantar e se preparavam para dormir. Yvi preocupada com a filha, arrumou uma improvisada cama ao lado da moça, e deitou ali, a febre havia passado, mas ela não acordava, à fisionomia agora era mais calma, parecia descansar...E foi quando ela ouviu  toques na porta, Yvi levantou e viu os filhos entrarem, seu coração se encheu de alegria, foi logo acordar o marido que os recebeu com um abraço. O pai sabia que fora duro a viagem, e temia pelo pior para os filhos. Viu o Monge e foi cumprimentá-lo: 

—Sejam bem vindos, a minha casa é do senhor;

 —Obrigado, ter um lar neste lugar é uma benção . Os rapazes entraram, a mãe os acompanhou:

 —Meus filhos, Saran está assim há 5 dias e arde em febre, já dei tudo que temos para que ela fique boa, mas nada resolveu, hoje a febre foi embora, mas ela não acorda, temo que esteja muito doente. Percebo que ela geme, como se estivesse tendo pesadelos. 

— Mãe, sonhei coisas ruins, estava preocupado, sabia que algo estava errado: diz Yul.

 —Como assim meu filho, como saberia? 

— Eu sabia mãe, não sei como, mas sabia!

 A mãe ficou olhando o filho sem entender nada, mas Genghis, abraçou o irmão, sabia que ele estava certo, a preocupação dele era com a moça deitada e eles ficaram ali, sentados do lado da cama de Saran velando por ela. O Monge na sala conversava com o pai, contava sobre a viagem, e o pai agradecia:

 —Senhor não sou rico, mas a minha hospitalidade será a paga por tamanha devoção aos meus filhos. Agradeço a sua ajuda e tenho certeza que meus filhos não chegariam em casa sem à sua ajuda, agradeço.

 — Não precisa agradecer, meu coração está onde eu estou, vim porque pensei que precisam de mim. Quero ajudar no que for preciso. 

— Não sei se tem conhecimento médico, mas minha filha está doente faz alguns dias que não acorda, teve febre e só acalmou hoje de tarde, pensamos que ia morrer. 

— Se o senhor me permitir, gostaria de vê-la. 

— Sim, senhor, me acompanhe. O pai de Saran ia à frente , foram entrando, a mãe os acompanhou e o pai de Saran ia a frente e para esperar por Saran; 

 Todos foram para fora do quarto, menos o irmão Genghis, que ficou ali, olhando para a jovem e pensando..."Minha irmã, me perdoe, nunca dei à devida atenção a você, foi criada como se fosse uma estranha, aliás todos somos estranhos uns para com os outros da nossa família, prometo que a partir de hoje nos tornaremos bons amigos, voltei minha irmã, me tornarei seu irmão guardião da sua felicidades, deixarei minha vida pela sua." lágrimas corriam no rosto do rapaz, tamanho os sentimentos que o conduzia. 

 Na cozinha todos tomavam sopa em silêncio, o momento era de introspecção necessário para que cada um pudesse pensar nas palavras do Monge. Yul, tinha vontade de voltar para o quarto e ficar do lado de sua irmã, tinha sentimentos misturados, não entendia muito bem o que sentia, queria conversar com o monge, mas perto dos pais seria impossível, deixaria para dizer no outro dia, durante o trabalho procuraria ele para conversar.

 O dia amanhecera e o Monge estava de pé quando todos se levantaram, se achava sentado do lado de fora da casa no silêncio da neve, meditando. Ficou ali algum tempo, levantou-se e foi ter com a família que se alimentavam à beira do fogão a lenha. Entrou cumprimentou a todos, pediu licença e sentou-se num banquinho junto deles, todos olhavam para ele, como se quisessem ouvir algo, mas para frustração de todos, permaneceu calado. Yul, perguntou à mãe se podia ir ver Saran, a senhora consentiu com a cabeça. Yul, estava emocionado ao lado da moça, nunca notara a beleza da moça, rosto perfeito, a boca rosada, queria lhe beijar, sentiu uma enorme vontade, mas se segurou, não seria o lugar apropriado e nem hora, a vontade era grande perturbadora, mas se conteve. O rapaz, pegou sua mão e ficou a acariciar, e não resistiu e deu um beijo, e às lágrimas caíram, a emoção era grande demais, amava essa menina, não entendia tamanha paixão queria abraçar, beijá-la, os olhos não seguraram às lágrimas que teimam em descer pelo rosto, seu coração parecia que ia pular pela boca, ficou assim até ouvir passos e limpou os olhos rápido e se afastou da menina, mas era o Monge que disse: 

—Meu filho, fique a vontade, pedi a seus pais que precisava ficar sozinho com sua irmã, então terás um tempo para você com ela; 

—Monge, queria que me explicasse esse sentimento dentro de mim, que quer explodir, quero ter ela para mim, e sei o quanto é difícil, o que farei? 

—Meu filho, o tempo é o que cura tudo, o que soluciona o que você não tem mais o que fazer, vamos aguardar, tudo se resolverá estou aqui para ajudar. Foi até o garoto e o abraçou, sabia que ele precisava disso.

 O jovem se debulhou em choro, as emoções lhe afloram em seu íntimo, queria poder ter tudo de forma diferente sem sofrimento, mas nunca foi permitido. Chorou muito. Saran, em espírito consciente de tudo, viu Yul e o reconheceu como o seu grande amor, foi até ele e o beijou na face, queria abraçá-lo, mas não tinha forças, ela estava fraca demais. O rapaz sentiu de leve ser tocado a pele, e as emoções se intensificaram e o monge ali, só podia abraçá-lo. O Monge Niin, ficou do lado da menina dormindo que parecia um anjo, mas com seu conhecimento sabia o que estava acontecendo, Saran estava lutando com seus próprios demônios, e só se libertaria quando realmente quisesse viver. Levantou-se e foi para a cozinha e fez um preparado para dar para a moça, se ela não melhorasse, ele temia pela sua morte que estava por vir. Sentia que a família sofreria com essa perda, mas essa menina estava resgatando erros passados (de outra vida) e o fim podia estar próximo. 


A convivência familiar nem sempre é harmônica. Frequentemente, tem-se mais espontaneidade e prazer no relacionamento com amigos do que com irmãos. Causam perplexidade as dificuldades de relações entre pessoas que foram criadas juntas e tiveram experiências similares em seus primeiros anos. Elas aprenderam com os pais valores e lições semelhantes, mas apresentam grandes diferenças em seus gostos e tendências. Alguns irmãos, tão logo atingem a idade adulta, deliberadamente se afastam dos demais. Nossos medos e enganos de vidas passadas podem nos trazer tormentos no presente. O íntimo de cada um é como uma bomba relógio que se for acionada, pode explodir.

 A graça divina nos dá o esquecimento, uma benção. 

Continua...

Lembranças das Minhas Outras Vidas-Livro 1 / 2   /3Onde histórias criam vida. Descubra agora