"Capítulo XVI " - Complicações

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O pâncreas começou a falhar, e complicações vieram com a diabetes e o uso da insulina via injetável se fazia necessário. Com muito custo trataram o nível alto da diabetes a um aceitável, mas a metástase avançava...Agora teria que esperar a próxima consulta médica para começar tudo novamente. Hiroshi agora passava a ser áspero, descontente com tudo, mesmo no hospital dava respostas grosseiras, percebia-se um certo ódio, raiva contida, começava a pior fase da vida de Vivian e acreditava que a dele também. Em sua casa tudo era pesado, cuidadoso. Ele afastava ela.

*8 meses de tratamento - O médico decidiu suspender qualquer tipo de tratamento, para que ele reabilitasse e nunca mais foi o mesmo, a fraqueza nunca mais o deixou, tivemos altos e baixos, sem a quimioterapia ele comia, e controlava as dores com remédios em dose altíssimas. Reclamava de dores, já não conseguia fazer o gostava, mexer aqui e ali, tudo era bem limitado, vivia irritadíssimo ,a comida nunca estava boa. Vivia com a dormência dos remédios fortes...A morfina acabava com os nervos fisicamente,​ é um remédio analgésico da classe dos opioides que tem um potente efeito no tratamento da dor crônica ou aguda muito intensa, como dor pós-cirúrgica ou dor causada por doenças degenerativas. Os principais efeitos colaterais da morfina incluem tonturas, euforia, cansaço, dor de cabeça, insônia, vertigens, náuseas, transpiração excessiva, agitação, boca seca, diminuição do apetite, prisão de ventre, cólicas, diminuição do batimento cardíaco, desmaio, dificuldade para urinar, redução da libido, dificuldade para respirar ou parada respiratória. Com tantos sintomas em um corpo fica difícil fazer e julgar qualquer comportamento.

As contas cresciam e o dinheiro mais curto. As pessoas em geral não tem ideia do que é sua vida escorrer pelo ralo, não ter o que comer ,para algumas não ter o que comer é não tomar cerveja, ou comer pizza, ou ir em churrascaria. Não ter o que comer, é bem mais profundo, é a falta do pão, leite, arroz, se tem o pão falta o leite e se tem o feijão falta o arroz. Reclamam que estão na pobreza, mas tem fartura na mesa. Infelizmente a maior pobreza, é a da alma do ser humano, que ainda não sabe doar, não sabe ouvir, ainda está na deficiência de só querer falar. Quando convivemos com tantos doentes, cancerígenos , vemos que o nosso problema é pequenino diante de tantos dramas. Vivian voltava para casa mais tranquila, seu problema não era tão grande diante daqueles que tomava consciência da vidas dos outros pacientes. Pedia que Deus, para que ele a transformasse em um ser melhor, e que sua fé pudesse crescer sempre mais, para fortalecer, para aguentar a prova, que desenrolava a sua frente.

Enquanto as internações vinham e iam, via Hiroshi cada vez mais fraco, mal conseguia andar, tonturas, e não queria ir ao hospital, difícil, carregar um homem no colo, que não queria ir, pois achava que iria morrer. Suas pernas, músculos, começaram a diminuir literalmente. A morfina destrói tudo...Ele dizia contrariado:

-Se eu for ou não lá é para morrer, todos que entram lá morre; ele se referia ao hospital.

Vivian fazia meditação...Acreditava que todos tinham medo da morte...E para ela não era diferente, deixar ele lá internado, sempre temia pelo pior, devido as crise.

O médico então resolve fazer radioterapia, para diminuição do tumor embaixo do braço, e das dores. E assim foi feito, e começaram as sessões que seriam 10 dias seguidos, tirando sábado domingo e feriado. Sem carro, teriam que pedir ajuda na assistência social da nossa cidade, o qual foi destinado um carro que levaríamos nos para as sessões. Sua filha que trabalhava há dois quarteirões do escritório, podia ter emprestado o carro, mas como sempre inventava histórias que precisaria dele. Ela nunca ajudava, se escondia diante do problemas que a mãe praticamente levava sozinha, queria que alguém dividisse com ela as idas e vindas ao hospital, era muito cansativo, tanto mental como físico.

Novo drama as viagens...Precisaria usar o serviço da assistência social que é da prefeitura e é de graça...todo.

Todo cidadão pode pedir ajuda, o quanto foi terrível e estressante. A maioria são motoristas rudes, de uma educação truculenta sem o mínimo de consideração pela dor alheia, falta o respeito pelo ser humano que sofre. Não dizia um bom dia, dirigiam feitos loucos. Poucos tem educação, afinal carregam pessoas que trazem consigo dores físicas e mentais e que alguns passaram por cirurgias e estão com o corpo frágil. Claro que havia um ou outro que não se enquadrava nesse quadro, esses são seres bons que mereciam respeito.

Lembranças das Minhas Outras Vidas-Livro 1 / 2   /3Onde histórias criam vida. Descubra agora