" Capítulo XVII "- Aprender a viver sem ele

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O dia amanhecera com uma chuva forte, daquelas que persiste por dias. Ele pediu para que ela o levasse ao hospital, se sentia fraco, a voz era um zunido. As idas estavam cada vez mais frequentes, eram quase todos os dias tendo que leva-lo ao hospital para tomar soro, e por causa da morfina que nos hospitais comuns não davam.

Fevereiro, os últimos dias de vida.

Após diversos dias destes, chegavam a internação, aquela que ela tinha visto dezenas de vezes com outros pacientes. Viu outras pessoas passarem por isso, chegava a sua vez de passar...Seria a sua penúltima internação depois de varias na semana... antes do término. Um dia longo e triste...Mais uma vez, acabara de chegar do hospital,...E mais uma vez, acabou de internar seu marido.

Um homem que até pouco tempo atrás era forte. Estava fraco...Até pouco tempo atrás fazia tudo que gostava, agora não comia mais, vivia a base de soro e não comia mais o que gostava...não porque não podia, não comia porque não sentia vontade, quando sentia vontade comia e vomitava, porque sentia enjoos. Não dirigia mais, sempre foi apaixonado por dirigir...não dirigia porque não queria, não dirigia porque seu abraço havia virado um bloco de cimento, um mais inchado que o outro, e num deles estava cheio de caroços. Não dormia mais porque não tinha sono, mas porque não tinha posição para dormir, porque sentia dores insuportáveis. Não escutava mais aquelas músicas que aprenderam a gostar com ele, como rock. E também nem falava mais, não falava porque quase não tinha mais voz...

A vida do seu marido era ir ao médico tomar soro, morfina ...A vida dele era tentar viver mais um dia... A vontade dele se resumia a estar aqui ainda neste momento vivo...Se conseguir, se não chegar a hora, e se ainda não for a hora... Deus esteja com você....Pois, quem sabe ainda trariam ele para casa...Só por hoje...

Dias atrás ele tinha parado de comer literalmente, não sentia apetite, dizia que a comida estava uma droga, uma porcaria, só tomava água. O paladar dele estava péssimo, que ninguém deveria se preocupar se ele não comesse. Como pode não se preocupar? Ver uma pessoa que não come mais, e ainda tomando drogas como os remédios que tomava. Vivian se sentia impotente...Que situação!

Mas ele já começara a semana mal, vômitos intensos , não comia, não dormia, e a família ficavam de plantão, sem comer direito e sem dormir também, isso foi ate sexta do carnaval, passando mal diariamente, piorando de noite. Na sexta de noite, não aguentou, e precisavam leva-lo para receber e assinar uns papéis no banco para retirar o benefício dele, o qual o INSS, na última semana , daria uma ajuda de custo, enquanto ele estava doente sem trabalhar, chegaria tarde demais, pelo menos para ele. No banco passou mal e tiveram que sair a pressas para o hospital, ultima internação...De lá ele sairia morto. Não foi uma internação normal

Carnaval, sexta feira. Situação...sem palavras.

Ela chorou, todos choraram... Chorou de dor por ver a dor do seu amor. E mais uma vez internaram ele, última vez , desde a última internação ele havia voltado para casa diferente ...fraco, desidratado....vomitando demais. Mesmo assim deram alta. Ficaram todos por perto, muito mais do que de costume, sentia que ele se distanciava, e ela sabia do porque.

Pois é, hoje chegara a vez do seu marido... ele entrou gritando de dor, gritava para Deus parar a dor, gritava porque não aguentava mais, e chamava por ela, por Vivian...como se ela fosse parar a dor dele...

- Vivian, me ajude, não aguento mais...esta muito forte a dor, peça para Deus tirar essa dor, reze...por favor...Como doía não poder fazer nada...Lágrimas corriam pelo rostos dos que presenciavam aquela cena. Neste momento o choro tomava conta de Vivian e de sua filha, ela numa tentativa de acalmá-lo fazia carinho nele, ele sentado na cadeira de rodas e ela por de trás massageando a pele dele....como se dissesse com as mãos:

Lembranças das Minhas Outras Vidas-Livro 1 / 2   /3Onde histórias criam vida. Descubra agora