"Capítulo IV "- Dia a dia

535 41 0
                                    


Quando estamos fora da nossa terra natal longe de tudo que conhecemos, vemos o mundo de outra forma, e ela via o Brasil de outro jeito. Mesmo sendo seu pais de origem, ela conseguia ver suas dificuldades, fragilidades, cultura, o povo, governo, com uma amplitude ate desconhecida para ela. Sempre fora dessas pessoas que gostava de analisar situações e pessoas e agora estava diante de toda uma nova visão, abria-se a cortina do novo e ela não perderia por nada, as mudanças, e a sabedoria que tudo isso traria.

O seu convívio com os japoneses mais e mais a transformava, mudava para melhor. Era tudo muito diferente daquilo que sabia, que conhecia. Teve que mudar hábitos, conceitos, e postura. Antes da sua ida ao Japão, o comportamento livre fazia com que ela não aceitasse muitas coisas, ser briguenta, batia de frente, ia em busca do que acreditava. Agora estava empregada em uma fabrica onde japoneses davam as ordens, fazia amizade, e entendia com traduções daqueles que sabiam falar a língua japonesa, no seu caso ela tinha seu marido e o sogro que trabalhavam com ela, então não tinha dificuldade.

Mas ela via no dia a dia, aqueles que não tinha amigos ou parentes que falavam o idioma japonês, eram alvo de gente maldosas, que abusava da língua para prejudicar o semelhante trabalhador da mesma nacionalidade e muitos até perderem o emprego por fofoca de um mau tradutor...As dificuldades diárias, eram vistas a olho nu, na compra de comida, vestimentas, conduções, mas todos se viravam, todos tinham o dicionário de português para japonês e vice-versa. Quem sabia falar o Nihon-go(japonês) fugia de traduzir, para não serem discriminados. Brasileiros que com o comportamento da lei de Gerson(dar um jeitinho) se ferravam. As farras nas ruas eram mal vistas pelo povo japonês, que seguia uma rotina de paz e tranquilidade. No Japão a lei da hora do silencio é respeitada. Vizinhos não gritam, não incomodam com o som alto ou com conversas á sua porta ou no corredor do prédio. Crianças não te incomodam com gritos e com mau comportamento. O povo japonês é reservado.

Os brasileiros começaram a ser mau visto em diversos lugares e eram mau recebidos. Foram tantos caso de abusos por parte dos brasileiros que, a família de Vivian evitava frequentar os mesmo lugares dos quais havia concentração de brasileiros ,sentiam vergonha de visitar algumas cidades, onde as ocorrências aconteciam, como roubo e acidentes e anarquias nas ruas...Muitas empresas começaram a recusar brasileiros. Com o tempo foi amenizando, pois muitos voltaram ao Brasil e os que ficaram tiveram que mudar o comportamento. Existia grandes comunidades de brasileiros centralizadas em algumas cidades, onde podiam achar produtos do Brasil, como "lojas de produtos brasileiros". E o que não achavam encomendavam.

As semanas passavam, o trabalho as vezes era cansativo pelo fato de ter que trabalhar em pé, por vezes por doze horas. Nos fins de semana não trabalhavam, mas muitas fabricas não paravam. A deles era de segunda linha da Honda, montavam a porta do NSX, um modelo que competia com a Ferrari, hoje fora de linha. Com o passar dos meses, seu marido passou a ser motorista de caminhão da empresa, entregava as peças diretamente na fabrica da Honda em uma cidade vizinha. Ela o via de manhã e no final da tarde, quando ele transportava os empregados da fabrica, com um veiculo para isso.

Os japoneses sentem curiosidade pelo Brasil, e as perguntas como essas eram frequentes:

-"Onde moram tem banheiro"? "Toma banho no rio?" "Futebol?" Zico.."."- Eu não gosto de futebol", "- Como assim você não gosta! " "Tem privada ou faz necessidade no mato?" " Vocês usam roupas ou fica de fio dental? " "Vivem dançando?" " Carnaval?" " Deve ser bom..." "- Eu não gosto de carnaval"..."Como assim você não gostar de carnaval..." "Samba?...""Eu não gosto de samba"..." Cozinham em fogueira?" Como explicar que ela era brasileira, mas que não tinha que gostar de tudo isso?...E por ai ia, eles conhecem apenas Amazônia...índios, São Paulo e Rio de janeiro, carnaval onde tem mulheres seminuas. Outra coisa, eles acham que todos são índios ou parecidos com índios. Então tudo aquilo de vulgar que é mostrado é o que assimilam e adiciona na nossa cultura em geral.

Lembranças das Minhas Outras Vidas-Livro 1 / 2   /3Onde histórias criam vida. Descubra agora