Capítulo XIV- Angeline, a irmã

668 51 0
                                    

Ninguém viu, uma figura de uma jovem mulher, Angeline estava escondida atrás da pilastra da varanda olhando a irmã, agora sim, ficaria só ela, tudo seria dela, e agora teria Thierry, ela o conquistaria. E não demorou muito, ela procurou o pai e falou: 

— Pai, tem um rapaz que quero que você dê meu dote, quero casar com ele, ele é de família rica.

— Quem é minha filha, depois dessa notícia horrível da sua irmã, pelo menos você tem juízo, me diga... Ela ia falar, mas não falou quem era e ela ficou analisando o pai. Quero que me conte quem é o rapaz que a sua irmã se desgraçou. Quero acabar com ele, aqui pelos arredores não vai poder sobreviver, quem é?

— Ah! pai, não conheço ele, vi de costas, era alto e moreno, foi o que vi, deve ser de fora, alguém que vem ocasionalmente aqui. Ela não podia contar quem era, ela o queria, se contasse seu pai poderia matá-lo e nunca aceitaria que ela se casasse com ele. Desconversou e foi para o quarto, não era o momento, o pai estava magoado. Marie assistia tudo aquilo e ficou muito triste ver as meninas chegar a esse ponto. Desceu uns degraus e nas mãos tinha um bilhete, falou algumas palavras com o empregado da fazenda, ele montou no cavalo e saiu a galope. Thierry se preparava para ir falar com o pai de Josephine. Iria pedir para que o pai dela a deixasse guardada para ele. Quando viu de longe um cavalo em alta velocidade vir em sua direção. O rapaz que montava o cavalo entregou o bilhete e saiu em galope, sem esperar por resposta. O moço abriu o bilhete, lágrimas desciam do seu rosto enquanto lia.

— Desgraçada, nunca vai TER MEU AMOR, SÓ MINHA REPULSA, "mulherzinha" ordinária. E chamou um empregado da sua fazenda e deu ordem;

— Arrume tudo que é meu, estou de partida; entrou em casa e ajudou a embalar suas coisas, seus pais haviam desencarnados há muitos anos, não havia para quem ele devesse dar satisfação, deu algumas ordens para os empregados, falou com a governanta da casa e partiu. Thierry, na carruagem sentado junto do BOLEEIRO, (o homem que comandava os cavalos), olhava tudo e pedia pressa, queria correr contra o tempo. Por vezes olhava para trás, não queria ter surpresas na estrada, sabia que Angelina poderia estar escondida. Angelina, sentada na penteadeira, chamou por Marie, e disse:

— Agora que minha irmã foi embora, tudo que está aqui é meu, você pode ficar no meu quarto, assim me servirá melhor, pode mudar hoje se quiser. Ela pegava alguns objetos da irmã que havia sobrado e enfiava na gaveta dela.

— Não Angeline, não preciso do seu quarto, pode ficar com ele e faça bom proveito. Estou de partida, já pedi minhas contas, estou voltando para minha casa. Angelina ficou sem ação, olhando a moça se despedir, que fez um aceno e se foi. A moça pegou um objeto de louça e jogou atrás da mulher que havia saído do ambiente.

— Todos pagarão, vou me vingar de vocês suas covardes. Marie estava exausta, se culpava por tudo, ela tinha culpa, essas meninas praticamente fora ela quem criou, porque Angeline era tão má com a irmã? Maldosa, resolveu ir embora, iria de encontro da menina, sabia onde ela estava, na porta junto da bagagem ela deixou um bilhete, dando um endereço para Josephine, pediu que fosse para o endereço que logo em seguida ela iria também. Josephine tomou a carruagem que esperava ela na porta, e se direcionou para o tal sítio, afastado de tudo. Horas mais tarde, com o sol a pino, a carruagem descia a estrada da montanha em direção ao lago, de longe ela avistou a casinha, era feita de madeira, mas de longe via a chaminé arder uma fumaça branca, como se desse sinal de paz. As palavras do pai ecoavam na sua cabeça, ela se sentia humilhada, magoada.

Aquelas palavras tão amargas e cheias de fel, que doíam na sua alma. Nem teve tempo de despedir da sua mãe, e sua irmã agora deveria estar feliz com tudo isso, teria tudo que ela sempre quis, não ia ter que dividir mais nada. Lembrou de Thierry, queria falar com ele, mas a pressa não foi amiga, quem sabe um dia se encontrariam, mas seu coração estava despedaçado, estava amando aquele rapaz, sentia poder ser feliz com ele. Por que tanto coisa ruim aconteceu tão rápido. Sua cabeça rodopiava, a carruagem parou e ela abriu a cortina da janela e viu uma senhora de uns setenta anos vir até ela, muito simpática, e abriu a porta e falou;

— Minha filha, entre você veio por parte de Marie? Esta casa é dela... Josephine, ficou calada, às lágrimas ainda desciam dos olhos e à senhora com muita delicadeza a abraçou, dizendo:

—Vamos entrar, não chores, nada nessa vida merece essas lágrimas, tudo é passageiro, vamos tomar um chá, vai se sentir melhor. A carruagem partiu, estava indo longe, quando ela deu a última olhada em direção à estrada. Josephine entrou na casa em companhia da velha senhora. Entrou na pequena sala da casinha, tinha um ar de felicidade, de lar, diferente da sua grande casa. Tudo cheirava à limpeza, ela lembrou do moço da carruagem na sua última olhada pela estrada... sentiu um pesar, lembrou do pai... E das palavras ao descer da carruagem...

— Jonathan, não conte meu endereço para ninguém, nem para minha irmã, diga que fiquei no porto.

— Pode deixar patroa, não contarei, tens minha palavra, e beijou-lhe a mão e virou-se, entrando na carruagem, seguindo de volta à casa de onde ela saíra, para nunca mais voltar. Marie, esperava por Jonathan, no portão de saída, ela arrumara uma carroça, eles namoravam algum tempo, ele era um rapaz bom, amava Marie, pretendiam casar e ir embora daquela casa, onde não tinham sensibilidade. Aquela casa era só infelicidade, não havia respeito com os funcionários.

— Deixei-a na nossa casinha, sua mãe a recebeu, ficou com ela, não contei nada para ela, ela estava chorando, vá meu amor, logo nós vamos nos juntar, mas preciso arrumar outro emprego, enquanto isso não acontece, vamos nos encontrando. Quanto ao Senhor Thierry, logo ele vai estar lá, encontrei ele no caminho. E cuidado, com a Angeline, com tanta maldade pode descobrir onde ela está e fazer mais mal para ela.

— Obrigada, você foi de grande ajuda, só diz para o Nestor não falar nada, ele é o único que sabe de tudo. Aquela Angeline é má, se descobrir é capaz de fazer o inferno em nossas vidas. 

— Pode confiar nele, ele não gosta dela. Se abraçaram e se despediram, ela subiu na carroça e seguiu para o bairro enquanto o amor dela em direção a mansão dos pais de Josephine. Thierry, estava nervoso e o caminho parecia mais distante do que realmente era, ele pede para o homem parar a carruagem que precisava ver uma coisa. Ele vê que atrás deles outra carruagem se aproxima, e espera até ela chegar perto, entra na frente dos cavalos de imediato, fazendo o condutor parar. Vai até à carruagem e olha dentro e vê Angeline dentro, ele a puxa pelo braço e diz:

— Se você continuar a me seguir, vou te dar uma surra, ponha uma coisa na sua cabeça, não quero nada com você ou de você, portanto me deixe em paz, siga sua vida que a minha estou cuidando, estou indo embora da cidade, e você nunca mais me verá.

— Não faça isso, meu pai vai deixar você casar comigo, vai dar meu dote para ti, quero casar com você, fique comigo, eu te amo!

—Acho que você não entendeu, não vou me casar com você, colocou ela dentro da carruagem e mandou o condutor seguir em direção contrária, caso ele os veja seguindo-o, vai dar uma surra nos dois. O condutor vira carruagem em direção contrária e dá uma chicotada nos cavalos, que saem em alta velocidade. A moça com cabeça para fora grita:

— Vamos nos ver ainda, vamos nos ver. E vou fazer da sua vida um inferno... A semente como promessa do mal, estava plantada, o que viria no futuro dependeria de cada um... Josephine, no interior daquela casa com cheiro de lar, estava sentada na cadeira ao lado da mesa na cozinha, a senhora preparava um chá para ela, ela tomou com os pensamentos longe... Ela queria ir embora da cidade para Chartres que é vizinha de Paris. Sempre sonhou ser dançarina, agora ela ia poder, sem seu pai, ela poderia. Queria estudar dança, e sua família dizia ser coisa de mulher perdida. Pensava no seu amor, e sentia doer o peito, mas como resolveria isso, ele nem adivinharia o que estava acontecendo. Ela não queria sofrer, e decidiu que iria  embora, ao amanhecer, pegaria uma carruagem, destino...Chartres-Paris. 

Dentro de Josephine a dor do abandono a fazia chorar, estava inconformada, agora estava sozinha, com apenas 15 anos, em uma cidade perigosa, queria realizar o sonho, mas temia pelos perigos, mas tentaria... Não poderia ser fraca, mas estava com muito medo...



Continua...

Lembranças das Minhas Outras Vidas-Livro 1 / 2   /3Onde histórias criam vida. Descubra agora