Os dias gelados e cinzentos deixavam a família de Saran entristecida, mas não comentavam, aprenderam desde cedo que viviam nesse lugar, e não era do feitio deles maldizeres o tempo ou o lugar. O Monge Niin se sentia bem convivendo com eles, eram simples, de bom trato. Os rapazes faziam seus trabalhos até o escurecer, quando entravam para descansar das tarefas diárias. Yul, conversava com o Monge sobre seus sentimentos:
—Monge Niin, estava pensando que minha irmã poderia morrer, o que o senhor acha?
— Filho não deixe que o futuro o atormente, viva agora e se ela for, que seja pela vontade do pai; O amor é um sentimento inexplicável, pode permanecer no coração para sempre, mesmo que a pessoa amada já tenha partido. Esse amor sem fronteiras e sem barreiras, é incondicional. Uma situação muito difícil na vida, é quando perdemos uma pessoa que amamos muito. O sofrimento e a dor, são extremos. Quando um casal se ama, eles não se imaginam longe um do outro, porém, quando a vida prega uma peça e acaba levando um deles, é que a situação se complicada.
— Monge, se o amor que eu sinto por ela, não quero perdê-la e sinto que estou, não posso abrir isso para minha família e dói demais ter que me manter afastado dela:
—Yul, o que tiver que ser será, mantenha seu coração sereno e pense só coisas boas, sua irmã, aliás não é sua irmã, você a ama e vou explicar uma coisa para você, quem sabe você ficará mais tranquilo, ela tem algumas dificuldades com a solidão. Como já expliquei, existem diversas vidas vividas, vemos o hoje e não compreendemos certas coisas que acontecem conosco hoje, mas fazemos opções em nossa jornada espiritual que muitas vezes não conseguimos superar, concluir. E trazemos essas pendências para resolvermos na atual.
— Entendi, mas o que isso tem a ver com a minha irmã?
— Tem tudo a ver, ela vem de vidas de outros tempos e não suporta a solidão, e que por um determinado tempo precisa ficar só e acaba pondo fim à sua vida, acabando com a oportunidade dada por Deus para que possamos cumprir promessas feitas na espiritualidade antes de vir para à terra. Ela cria dependências emocionais com quem se apaixona.
— O senhor, está dizendo que ela se suicidou muitas vezes, várias vidas?
— Sim, meu filho, estar apaixonado é como amar uma pessoa, mas a última coisa que passa na cabeça é perdê-la. Quando isso acontece é como levar um pedaço do nosso coração. Algumas pessoas reagem com dificuldade no início, mas após um tempo conseguem partir para outra e recomeçar uma vida amorosa. Já outras, não conseguem seguir o trajeto natural da vida, e não se permitem mais a um novo relacionamento, por amar demais aquela pessoa que se foi. É muito comum casos assim, afinal, o amor de verdade, nunca morre. Desta vez, ela está fugindo e ficando inconsciente, fugiu porque não aguentou ficar sozinha nessa vida que levava aqui, mas se ela chegar ao ponto do desencarne, poderá vir outras vezes, até o dia que ficará firme sem apoio e superar tudo, entende?
— Então o senhor acha mesmo que ela vai partir, desencarnar como o senhor fala?
— Pode ser, como pode não ser, mas vamos aguardar. Ivy, estava muito preocupada, Saran tinha dias que estava sem comer, e isso estava deixando ela caquética, sem cor. Não se via vida nela, e ela chamou pelo Monge:
— Monge Niin, o senhor acredita que minha menina está morrendo, ela não se alimenta, fazem 7 dias, nem sei como está viva!
— Senhora, se sua filha morrer, ela estará amparada pelos anjos no céu. Fique calma e entregue na mão do Senhor.
— Me explique isso, por favor:
— À terra, é como se fosse uma viagem que fazemos, vou dar um exemplo simples; aqui na terra, viajamos para as outras cidades, países, e não diferente lá, saímos como que uma viagem de trabalho, para cumprir uma missão, essa é nossa vida espiritual, e quando acabamos, cumprimos ou não nossa missão, voltamos à nossa casa. O corpo é como uma roupa que deixamos ao ter que partir, e levamos só o que podemos levar, o que tem valor naquele lugar, por isso nosso físico aqui, e levamos a parte intelectual, emocional e espiritual.
— Deixa ver se entendi, quer dizer, se Saran morrer, ela vai morrer para nós que estamos na terra, aqui, mas ela voltará para a casa espiritual, então não morremos?
— Sim, não morremos! Eles estavam ao lado de Saran, e os irmãos escutavam atenciosamente tudo, o pai sentado num canto, analisava cada palavra. Nesse momento, a moça se mexeu como se suspirasse alto, todos voltaram seus olhares para ela, pensando que ela estava acordando, mas nossa Saran estava indo embora dessa vida. Saran estava olhando os pais e todos que ali estavam, reconheceu Yul, agora ela via ele e reconheceu , e não podia mais voltar, foi até ele, e o beijou na face. O monge tudo via, e deu um sorriso para ela, sentiu o agradecimento vindo dela. A moça foi até a mãe, e deu-lhe um beijo no rosto, e a mãe como que parecia que sentiu, passou a mão no mesmo lugar que foi beijado. O pai com lágrimas nos olhos, ele não fazia questão de esconder ou limpar, se deixou levar pelos sentimentos, e Saran viu e com um sorriso enxugou, e dando-lhe um beijo, falou:
— Não chores pai, voltarei logo, estarei entre vocês, vou me preparar para não falhar novamente. Deixou por último o irmão, que ela reconheceu como um dos amores de vidas dela, deu uma ponta de tristeza ver ele ali chorando, triste, sentia penalizada, causar essa dor para ele, ela foi fraca, e mais uma vez à vida fora interrompida por causa dela, pela falta de equilíbrio. O rapaz, estava soluçando, foi até perto do corpo da moça e se debruçou sobre ela, e falou:
— Saran, porque se foi, porque não esperou por nós, prometemos ajudá-la e cheguei tarde, sinto muito. A moça estava abraçada a ele, choravam juntos, e o Monge assistia tudo em silêncio, ela olhava para ele. Em silêncio uma senhora muito simpática, cumprimentou o monge e ninguém mais a viu, pegou à mão de Saran e a levou para fora, onde uma luz as cobriam, seguiram para o mundo espiritual.
À vida é um fio tênue, a fragilidade entre os dois mundos, se faz apenas pela diferença dos corpos usados no momento entre à vida e à morte...Dois mundos interagindo de maneira sútil e esplendorosa.
Continua...
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Lembranças das Minhas Outras Vidas-Livro 1 / 2 /3
SpiritualUma alma com várias vidas. A evolução de um espírito experenciando a vida humana com conflitos, alegrias e tristezas, tudo fazendo parte para a evolução espiritual. Uma alma forjada nos sentimentos mais íntimos, aprendendo muitas vezes sofrendo, lap...