" Capítulo XX" Josephine e Angeline

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Havia passado seis meses após aquele dia fatídico do incêndio em seu estabelecimento, e Josephine cansada, não quis mais comprar ou reformar mais nada. Indenizou os funcionários e foi embora de Paris, voltou para Charters. Passava a maior parte do dia e da noite acordada, vivia em uma casa com cortinas sempre fechadas, queria morrer e acreditava que nada dava certo, que a felicidade era passageira, que tinha algo que sempre à jogava no chão. Mantinha contato apenas com o advogado, o Senhor Sebastian, que à visitava uma vez por semana. Se tudo de ruim aconteceria, não iria mais construir nada, dizia ao velho amigo. O coração sofrido, pensava em Thierry dia e noite, ela não o via nem o sentia, não sonhava mais, só queria viver na penumbra da solidão criada por ela própria. Não tinha empregados, e a casa estava começando a cheirar mal, pois não   limpava, sentia que morreria logo. Thierry com seu mentor ao seu lado estava ali, ela não podia vê-lo e nem o sentir, sua energia estava densa demais para isso. Thierry acompanhava sua amada onde fosse, orava por ela e dava-lhe passes para refazimento, mas o mental da moça em círculo vicioso pensava na morte como escapatória. E ele dizia:

— Não se perca, não se deixe morrer, lute pela vida, cumpra sua vida inteira. Eu, Cigana Sarah sua mentora à seguia e à protegia, mas ia até onde me era permitido por Deus. Todos têm seu livre arbítrio e Deus não interfere nele e nem a nós é dado esse direito de interferência... A casa não era grande, tinha dois quartos, uma sala e uma cozinha e havia um corredor, que dava para todos os cômodos. Ela escutava barulho pela casa, mas não via nada, acreditava ser ratos, pensava que à casa era velha, atribuía isso aos estalos e rangidos que ouvia... O que ela não via eram os vultos que ali se alojavam devido às suas criações mentais de sofrimentos. Eles se compraziam junto dela, na imensidão das dores das perdas. Quando as emoções negativas estão afloradas e as pessoas não têm consciência de que precisam se harmonizar, ocorre um conflito que gera cobranças e desgaste da energia. "O pensamento sombrio adoece o corpo são e agrava os males do corpo enfermo", e "que apenas o sentimento reto pode esboçar o reto pensamento, sem os quais a alma adoece pela carência de equilíbrio interior, imprimindo no aparelho somático os desvarios e as perturbações que lhe são consequentes. "O pensamento e a vontade são atributos do espírito, e não do corpo físico, e este está, ou deveria estar, sob o comando daquele. Cada dia que passava ela estava mais magra, esquecia de se alimentar, de comprar alimentos. Lembrava do incêndio, e o revivia de novo e de novo, como uma cena em repetição, estava amargurada. Depois de muito tempo, um dia bateram na porta e Josephine, com dificuldade para andar, estava deitada, levantou-se meio cambaleando, e os toques na porta aceleraram, impaciente ela foi abrir resmungando. Não acreditou no que viu, era Angeline, sim, sua irmã que de imediato empurrou à porta entrando num só empurrão, Josephine ficou parada na porta, achava estar sonhando, coçou os olhos, e olhou para dentro e viu sua irmã parada ali a um metro dela, o que ela queria? Tinha que aparecer logo agora? Foi à cozinha, fez um café, colocou em duas xícaras e voltou à sala, encontrou sua irmã de pé, ela olhava tudo com nojo. Deu-lhe uma das xícaras, a irmã depositou à mesma sobre a mesa cheia de pratos sujos.

— O que você quer aqui Angeline?

— Vim ver com meus próprios olhos, o que desconfiava. Vi que não reformou o bistrô, queria ver como andava minha "irmãzinha".

— O que você tem com isso, é minha casa e minha vida, aliás você fez parte da minha primeira decadência não foi querida irmã? Angelina olhava para ela, com olhar de estranheza e nojo. — Do que você está falando?

— Penso que não preciso recordar sua maldade comigo, quando mentiu para nosso pai, quando tinha 15 anos, você ficou livre de mim, não chega, por que não me deixa em paz?

— Pobre "irmãzinha"! Você virou um lixo e está sozinha, suja e a casa fedendo, vejo que chegou, só falta assoprar para cair, não é?

— Vai, assopra! já empurrou uma vez, quem sabe agora vou de vez. Por que não desaparece, e o que fez com nossos pais, matou eles? É bem sua cara.

Lembranças das Minhas Outras Vidas-Livro 1 / 2   /3Onde histórias criam vida. Descubra agora