A pequena Vivian ainda não estudava, sonhava em estudar. Com o tempo, os pais de Vivian construíram casas de aluguel no quintal da casa dela, era de onde saia a maior parte dos alimentos e roupas. Antes disso, comprar coisas boas não dava, e tudo que compravam tinha de ser de baixo custo. As crianças comiam o que tinham. Os irmãos levantam muito cedo para irem à escola, passavam frio na estrada, as blusas eram finas e os cobertores de péssima qualidade e todos dormiam juntos, uns aquecendo os outros. O pai da menina bebia muito, levantava muito cedo e voltava muito tarde, e muitas vezes encharcado pela chuva. O dinheiro era pouco e as brigas se tornavam constantes, o que deixava Vivian triste, pois ela amava o pai e temia que as brigas chegassem a se atracarem. As vezes entrava entre eles, só assim os paravam. Mas muitas cadeiras foram quebradas, jogadas no pai por sua mãe, ele não retrucava ou respondia, apenas saia e ficava do lado de fora de casa, de onde podia se ouvir os xingos de sua esposa...
A mãe era uma italiana briguenta, quando via o marido já começava a falar sem parar, para o desespero dos filhos. Outro ano iniciou e Vivian completaria em fevereiro 7 anos, era tudo que queria, ir para escola, estudar...teve muitas dificuldades no aprendizado escolar e não tinha boas notas, passava por necessidades básicas, sua mãe a ensinava como podia, não tinha estudo. Sua irmã, que contava com 16 anos, trabalhava fora como doméstica. Cansada de passar por necessidades, foi ganhar o pão de cada dia, mas o que recebia era pouco, mal dava para o material escolar dos irmãos e dela própria que estudava de noite... Com tudo que passavam eram felizes. Ela e os irmãos, chegavam da escola e iam brincar, não queriam ficar numa casa que havia brigas, e assim foi por vários e longos anos. Os dois irmãos, criavam galinhas e construíram uma horta, para terem o alimento que não chegava de forma normal pelos pais..
A mãe lavava roupas para fora e com o dinheiro dos aluguéis das casinhas no quintal o alimento chegava. Brincava na rua até o anoitecer, seus brinquedos eram improvisados como fazer bonecas de sabugo do milho, caroço de manga, ou com filhotes de ganso, galinha e pombos, faziam roupinhas, comida em fogões que eles próprios improvisavam. Ganhou sua primeira boneca quando tinha 13 anos, presente da irmã, que protegia sua irmãzinha, brincou muito com ela mas, os seus irmãos arrancaram a pernas e os braços que era de encaixe, o que ficava muito fácil a remoção, era de plástico, parecia um nenê no tamanho. Tinha dias que passava se balançando cantando várias musiquinhas da época. O balanço feito em um pé de amora muito alto com cordas, construído pelos irmãos mais velhos, era como voar. Muitos circos passavam pela cidade, e os irmãos ajudavam eles na limpeza e de noite tinham os ingressos ganhos como prêmio, era muito bom. Não tinham tempo para brigar, todos ali eram amigos, tinha dias que anoitecia e nem lembravam que tinham que entrar. Se a mãe não chamasse, passavam a noite sentados na grama da calçada de alguém ouvindo histórias de pessoas mais velhas. Nos dias frios era feito fogueira, juntavam tudo que tinham de lenha nas casas de cada criança, cada um trazia algo e quando viam estava muito alta, queimava a noite inteira. Não havia asfalto, andavam descalços o tempo todo. Jogavam betes, que seria um jogo tipo beisebol, queimada, pula corda, esconde-esconde, amarelinha.
Cresceu em uma época que não tinha telefone fixo para todos, pois eram caros demais, celulares então, ninguém sonhava, as primeiras televisões estavam sendo vendidas, mas como eram muito caras, a família não tinha condições para comprar. Tinham um rádio, onde ouviam músicas e novelas. Suas vidas eram brincar e ler, liam muito, os indicados pela escola e os que trocavam uns com os outros, existia a cooperação, a amizade sem interesse. Ela crescia, estudava na escola da vila, eram 8 quarteirões de distância, áreas urbanizadas com casas construídas, iam em grupos para escola. No segundo ano escolar, diante das dificuldades no aprendizado ficou para exame, perdendo o exame do fim de ano,pois a professora tinha faltado e a classe havia ficado juntos do outro segundo ano, a professora falou a data do exame, e Vivian achou que fosse para os alunos dela, na verdade era para todos,inclusive para ela, mas ela não entendia, tinha oito anos. Naquelaépoca era uma inocência nunca vista nos dias dehoje. Perdeu o exame e reprovou, ficou retida na segunda série,chorou e de nada adiantou.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Lembranças das Minhas Outras Vidas-Livro 1 / 2 /3
SpiritualUma alma com várias vidas. A evolução de um espírito experenciando a vida humana com conflitos, alegrias e tristezas, tudo fazendo parte para a evolução espiritual. Uma alma forjada nos sentimentos mais íntimos, aprendendo muitas vezes sofrendo, lap...