Capítulo XI- Considerações de Raquel

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Raquel, olhava para Saran, ela estava inquieta sentada num sofá ao lado da janela que dava para uma paisagem de um jardim. A quietude da paisagem não é assimilada pela moça, que se revira internamente nos pensamentos das lembranças, ela lembra do irmão Yul, do rapaz de cabelos amarrados feito rabo, indo embora e seu coração fica cada vez mais conturbado. Raquel olha o interior dela, e ela vê o quanto Saran se desequilibrava com esse sentimento de perda. 

— Saran, como prometi, vamos falar sobre sua vida anterior a esta, da qual acabou de voltar, você quer saber se foi suicida, mas antes preciso falar algumas coisas para você, esclarecer... 

— Quantas vidas já vivemos e amores que perdemos? Conflitos, dramas, experiências que desenham a nossa vida atual. Cada um de nós guarda na aura espiritual suas vivências... Moldando sua condição espiritual, seu tom vibratório, numa melodia que o representa. Emoções que trazemos e que nos movem em nossas escolhas no presente. Ela faz uma pausa, como para que possa perceber se a moça acompanha e prossegue. 

— Quantos de nós estamos presos ao passado? Sem consciência de quanto nos deixamos levar pelas experiências que já se foram repetindo os mesmos erros, os mesmos padrões emocionais. Afastando-nos da felicidade, de uma vida mais plena. Como mudar a frequência vibratória e alterar à melodia?

 — Quando alguém passa por uma situação difícil, é comum reagir tentando se proteger. O instinto de preservação, para evitar o sofrimento, concede ao corpo e a mente caminhos para bloquear qualquer outra experiência dolorosa, antecipando-se no automatismo, fugindo ou atacando aquilo que inspira perigo. A postura defensiva, quando não passageira, acaba construindo um muro, que o separa de novas experiências e oportunidades. Nem sempre percebemos as barreiras mentais e as couraças do corpo. A rigidez que se instala a partir de vivências passadas, que se manifesta no comportamento e na condição energética. São padrões repetitivos que assumimos sem consciência e que projetam uma energia que afasta a possibilidade de novas perspectivas. 

— A cristalização de uma experiência negativa é uma memória que se detém nos corpos emocional e mental, destituindo o espírito de clareza e liberdade de ação no aqui e agora. Impregnada ao corpo sutil, ela se mantém viva, como uma ferida que continua a lembrar e reforçar o sofrimento que a causou. A autonomia para fazer escolhas se perde em meio ao passado que interfere no presente. O apego exacerbado em forma de ressentimento. 

— Têm espíritos que passam milênios, após desencarnarem, presos ao passado e retornam à vida terrena, ainda atrelados a ele. Nas reencarnações sucessivas, o espírito retoma do ponto em que estacionou. Disso surgem as configurações familiares e de outras relações que têm o objetivo de ajudar a dissolver e curar as estagnações passadas. 

— Tudo o que lhe pareça estagnado na vida e causa sofrimento, tem como causa alguma vivência e fixação mental-emocional, que continua ativa energeticamente em sua aura. Tornou-se um problema crônico. Pode ser um acontecimento desta ou de outras vidas, que continua vivo como uma realidade energética, que o espírito carrega como bagagem na aura e que impede o livre e saudável fluxo energético. O passado sobrevive em seu campo sutil e se alimenta dos seus próprios padrões de comportamento repetitivos. Os ressentimentos, as mágoas, as vivências estagnadas empacam o processo de evolução do espírito, que tem como destino a plenitude. O sofrimento é uma ilusão que se mantém dos pensamentos e do passado que cada um de nós perpetuamos. 

— Se você trouxe para o presente o seu passado, ele sobreviverá como sua criação. E muitas vezes você nem é consciente do porquê de um conflito. 

— Quando as raízes são antigas e de outras vidas, você pode reconhecer a cristalização por meio da observação. Normalmente são dificuldades familiares com os pais, irmãos, filhos e cônjuges. Quantos de nós passamos por problemas familiares que não podemos explicar racionalmente? 

— Nem sempre é só você quem carrega o passado e sim alguém de sua família, mostrando-se rancoroso e agindo de forma agressiva e negativa contra você. Nesta situação, apesar de parecer que você está isento de qualquer responsabilidade pelo fato atual, isto pode não ser verdade. 

— Se você se sente agredido, se a relação é problemática e incomoda, é porque você tem também uma carga do passado nesse sentido. Então, há algo para ser dissolvido. 

— Será que você está sendo defensivo com essa pessoa? 

— Provavelmente sim. 

— Existe um laço fluídico que os mantém nesse embate e você terá que fazer sua parte para que ele se desfaça. A postura de defesa também acontece quando você tenta mudar alguém, querendo provar que o seu ponto de vista está certo. Eu já ouvi pessoas dizendo serem inocentes. Que não compreendem por qual motivo sua mãe, seu pai ou outro familiar o trata tão mal. Se esse é o seu caso, pare por uns instantes e reveja como você tem se posicionado e se defendendo. Olhe para o muro que construiu. 

— Você deixou de tentar compreender o outro lado? Apenas se colocou na posição defensiva de julgamento e de querer provar que está certo e outro errado? 

— Quando você fizer sua parte, mesmo que o outro não faça a dele, tudo isso deixará de lhe incomodar e você estará livre. Perceba que cada um dos personagens dessa história, decide por levar ou não o passado em sua aura, estar ou não preso aos ressentimentos. Às vezes, tudo o que a outra pessoa espera de você é que não a julgue ou condene, que não se sinta melhor que ela e que a aceite como é. Portanto, é necessário parar de se defender. Não se isolar no passado. Os pensamentos e sentimentos criam a sua vida. A Materialização da saúde ou da doença, do sucesso ou do fracasso, é o fruto desse campo sutil, que emerge da aura. Saran olhava para ela, estava entendendo, e compreendendo... Então era assim. 

— Fatos que passam despercebidos por uns, e por outros não, representam a forma que cada espírito reage, segundo suas memórias. A diferença em como cada pessoa se apega ou não a uma vivência, depende de sua própria condição espiritual e evolutiva. Atraindo para seu campo sutil, ou não, a força de uma história do passado que interfere no presente. Você pode observar uma cristalização quando se torna repetitivo e a vida traz sempre os mesmos problemas. 

— Se você busca um relacionamento amoroso saudável, prosperidade, uma vida satisfatória, não se prenda ao passado. Até as pequenas crenças podem se reverter contra sua felicidade. Não guarde certezas...  

— Quantas mulheres ainda acreditam que o casamento e os filhos são o verdadeiro ideal de felicidade? Quantas pessoas se guiam pela crença de que ter sucesso é ganhar muito dinheiro? Quantos fundamentalistas se entregam a uma religião como a única verdade?

 — Sim, é difícil não se apegar ao passado, mesmo que seja uma simples crença, capaz de nos privar da felicidade. Soltar-se do passado é transformador. Abre espaço para o aqui e o agora e para a oportunidade de experimentar a vida como uma criança que celebra cada novo momento. Para que a vida se renove é preciso que haja renovação interior. Destrua os muros da resistência, que separam você de uma nova paisagem.


Quantas vezes fazemos isso, e nem damos conta que estamos agindo assim...



Continua...

Lembranças das Minhas Outras Vidas-Livro 1 / 2   /3Onde histórias criam vida. Descubra agora