Capítulo XVI-Vida em Paris

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Josephine estava encantada com Paris, os dois de mãos dadas caminhavam pelas ruelas da cidade, os ateliês chamavam atenção, entravam e saiam, nem perceberam que o tempo havia passado, eram sete horas da noite e estavam famintos, viram uma rotisserie e entraram. Um garçom foi até eles e deu-lhes o cardápio, que logo pediram algo para matar fome.

— Não podemos deixar de comer um delicioso crepe, provar as delícias da culinária e tomar um finíssimo vinho francês. Do outro lado da rua, uma sombra de mulher os olhava de longe, não queria ser notada.

— Estou tão feliz de estar com você nesta cidade que sonhei a vida toda, sempre foi meu sonho morar aqui, meus pais nunca me trouxeram aqui, não queriam alimentar meu sonho; tenho a impressão que sempre vivi com você, te conheço há muito tempo:

— Minha querida me fale sobre sua vontade, vamos ver no que posso ajudar. Ele tinha total devoção a essa menina moça, eram só os dois, e ele iria cuidar dela. O amor que os nutriam vinha de várias vidas juntos.

— Thierry, tenho vontade de dançar cancan, sempre treinei em casa, longe dos olhos da minha irmã e meus pais, que não deixariam de maneira nenhuma, que era a paixão do momento. Tenho vontade de fazer parte do grupo de bailado.

 — Minha amada, você sabe que para agora, ficará falada, todos acreditam serem prostitutas, que fazem programas com os homens do local, mas se você quiser eu ajudo.

— Como você pode ajudar, vamos ter que andar muito, para encontrar vaga e também moradia para nós dois. Temos que economizar muito, não sabemos quando encontraremos algo para trabalhar. Até porque não podemos apresentar nossos documentos, somos menores, nunca me contratariam.

— Dinheiro não é problema, tenho muito. Após saciar a fome, foram andando e de longe se ouvia um som, esse ela conhecia demais, seu sangue fervia ao som dessa música, e ela saiu à frente indo de encontro do som que ouvia. O moço a passos largos tinha dificuldade em acompanhá-la, ela parecia deslizar, e foi até que parou, era ali, o som vinha daquele prédio, ela olhou para cima e viu escrito "Cabaret Moulin Rouge", ela conhecia esse lugar, era mais famoso da cidade, e tentou entrar, mas o homem na porta a segurou pelo braço.

— Senhorita, aqui mulher não entra sozinha, tem que ter um acompanhante;

— Estou acompanhada, veja só, indicando para Thierry que se aproximava com respiração ofegante;

— Amor, diz para ele que estamos juntos...

— Sim, senhor, estamos, pode nos vender a entrada, onde compro?

— Ali na bilheteria, olhava fixado na moça, parecia conhecê-la, ela era linda, e pensou no patrão, ele tinha que conhecê-la, não acreditaria no que ia ver, ele mesmo estava abismado. O rapaz deixou a portaria, chamando outro para ocupar seu lugar e entrou pelo corredor, em direção ao diretório da casa noturna.

— Senhor Pierry, preciso que venha comigo, quero lhe mostrar uma coisa, aliás uma pessoa, nem eu acreditei, mas só pode ser uma irmã gêmea dela;

— De quem, quem é irmã gêmea?

—Venha, antes que não conseguimos achá-la...E o moço foi arrastando Pierry pelo corredor até chegar nos fundos do palco, de onde teriam uma visão da plateia, e foi com uma enorme surpresa que avistaram o casal na primeira mesa. Pierry, ficou sem voz, ela era igual a sua amada que falecera alguns meses antes de tuberculose, ela era a melhor das dançarinas, a doença a levou ao túmulo, deixando um enorme vazio no palco e no coração dele. Pensou estar tendo uma miragem, mas logo viu que não era, ela conversava com intimidade com aquele homem do lado dela, pensou e pensou, iria se aproximar... Josephine, estava maravilhada, estava onde sempre sonhou, o que sempre quis, e nunca pode ver, as músicas eram proibidas pelo pai, e a irmã fofocava se a visse dançando, então ela sempre ia ao porão, e Marie a escondia para treinar, ela era perfeita. Pierry sentou-se à mesa ao lado e se encostou bem na cadeira, queria escutar o que falavam.

—Thierry, você nem imagina, como estou feliz de estar aqui, é meu sonho trabalhar num lugar como esse, vou ver quando tem inscrição para bailarinas ou quem sabe estão precisando de alguém.

— Ah! Minha querida, você sonha alto, aqui é padrão profissional, nunca trabalhou como dançarina, deve ficar alerta por dificuldades, existem muitas mulheres que já fazem isso há anos, desculpe, mas tenho que fazer você pôr o pé no chão. Pierry teve uma ideia, saiu dali correndo, e foi até a frente do prédio logo após passar no seu escritório, estava com um cartaz nas mãos, fixou na saída do cabaré. Pronto, ela ia ver na saída, as cartas estavam jogadas. O show, havia começado, e a moça nem piscava, sentia estar no meio das moçoilas dançando, ah! Como seria feliz, se estivesse ali, o som da música, mexia com ela, ela tinha vontade de sair dançando, mas se conteve, não ia dar uma de louca. Ao término do show, todos saiam falando felizes, saíra satisfeitos, e ela só pensava em trabalhar ali, e nem viu quando Thierry a pegou pelo braço e parou com ela em frente a um cartaz que dizia. 

Nesta segunda-feira, selecionaremos dançarinas para o corpo de balé da (Cabaré) Moulin Rouge Faça suas inscrições e compareça para o teste supervisionado por Pierry, apenas na segunda atenderemos o dia todo, a partir das 08:00 da manhã.

 Josephine sentiu suas pernas fraquejarem, sentiu uma vertigem,era muito bom, estava sonhando? O sonho dela estava acontecendo, agora era acordar bem cedinho, fazer uma maquiagem que mostrasse ela mais velha, mas não tão velha. Foram para casa, e foi difícil pegar no sono com tanta euforia, mas acabou adormecendo e acordou muito cedo, tinha que ser perfeita. Levantou-se, tomou um banho, se maquiou e vestiu-se com cuidado, Thierry olhava tudo e ficava surpreso com o resultado. A moça que via era linda, a maquiagem ajudava deixar ela mais vistosa, o corpo com curvas sinuosas, coxas perfeitas, sentiu um leve desejo por ela, controlou-se, não ia deflorar uma moça tão jovem, e ele também apesar de sentir o desejo, não estava preparado para tamanha faceta, se sentia embevecido diante dela, o resultado da arrumação da moça deixou ele satisfeito, e deu um sorriso de aprovação e ela sentiu que esse seria o dia dela. 

Era 7:45 horas, e ela já estava pronta era a primeira da fila, aguardava que a porta se abrisse, não tinha muitos jovens na fila, apenas duas que a olham com inveja. O rapaz ao lado dela, dava apoio, ela calma parecia que sempre fez tudo aquilo, estava segura. A porta abriu-se por um homem que falou bom dia e pediu que entrassem e que o seguissem até o palco. Não tinha plateia, apenas Thierry estava sentado ali, em frente ao palco. Um homem de uns 40 anos sentou ao lado do Jovem e à música começou, às três no palco ficaram sem saber o que fazer. Foi ela Josephine que começou dançar com tanta graciosidade que as duas de imediato se afastaram deixando o palco apenas para ela, era tamanho os trejeitos, ela devia fazer isso sempre praticavam eles, Pierry via os gestos, movimento e sentia saudades de sua amada. Fez um sinal e a música parou de repente, dizendo: 

— Desculpem as demais, já tenho a nova contratada; 

— Josephine, quero que venha comigo até o escritório para preencher seus dados, e passar tudo do cabaré, o contrato está pronto. Josephine, estava feliz, ia trabalhar naquele lugar e tinha certeza que sua vida seria outra, a partir dali.  Sonhos saem do Imaginário para a vida real, basta crer que é possível, portas e fecham quando janelas são escancaradamente abertas, e com flores... Voíla...


Continua...

Lembranças das Minhas Outras Vidas-Livro 1 / 2   /3Onde histórias criam vida. Descubra agora