Amanhecera um dia congelante, de ventos cortantes, que penetrava pelas narinas, na varanda do quarto de Yul, ele se comprazia da beleza gélida da cidade, com uma caneca de café nas mãos, sorvia ocasionalmente um gole, o olhar ao longe, trazia memórias que ele não compreendia, mas sabia que deveria ter um significado, era um estudioso da doutrina espírita, lia tudo que encontrava, sabia distinguir obras boas das ruins. Resolveu entrar e sentou numa poltrona ao lado da janela, de onde avistava uma linda paisagem com árvores cinzas sem folhas, ali se via que o inverno se pronunciava, os pássaros tocavam os galhos como se procurassem pontos de observação para poder seguir para um lugar seguro.
A capa do livro em suas mãos estava desgastada pelo quanto ele lia, podia-se ler "livro dos espíritos, Allan Kardec", os pensamentos divagavam entre a paisagem e seu sonho, lembrava acena e sentia doer o peito de saudades, lembrava de Saran, queria ter ela nos braços, poder beijá-la, mas Deus a quis com ele, agora ele precisava ser forte e continuar sua vida, até o dia que encontraria sua amada novamente. Yul lembrava do sonho, se via numa sala, com grande ostentação, era um baile, ele dançava com uma moça que ele amava, os dois eram jovens, mas os corações, conheciam o calor do sentimento do amor, nutriam uma paixão, que tinha sede de beijos e abraços.
A cena se repetia na cabeça dele, ela era uma menina, sorriso sem igual, cabelos bem arrumados, pele branca, que contrastava com as cores dos cabelos, deslizavam pelo salão, não via ninguém, apenas os dois naquele envolvimento mágico dos amantes. Não queria parar de lembrar, essa lembrança, era um bálsamo para ele, era um elixir para poder viver. Ele amava Saran, sabia que era ela, tinha certeza, apesar de ter várias coisas diferentes, ele a reconhecia. Lembrava do que aprendeu com o monge sobre reencarnação...Yul estava com 28 anos, não queria casar, resolvera apenas ficar no estudo, não sentia solidão, cuidava da irmã, zelava por tudo. Vivienne adorava Yul e ele a ela, ninguém naquela casa contestava, ou separava-os, sabiam do passado deles e respeitavam os limites da vida presente, era tudo que precisavam para viver.
Vivienne tinha em Yul o amigo zeloso e irmão mais velho, sentia protegida por ele, ela contava tudo para ele, não tinham segredos, ela sempre fora centrada nos estudos, estava com15 anos, ela se preparava para o baile de formatura da escola, se formaria, realizou o sonho dos pais. Ela andava febril, resolveu que não contaria para ninguém, queria ir à festa da escola, se contasse seus pais não deixariam ir. Na manhã da festa, Vivienne, estava em seu quarto e sentiu um mal-estar, uma pequena tontura que a fez sentar e uma grande dorna cabeça do lado direito, ficou ali, esperando que passasse isso, seu irmão gêmeo Louis entra no quarto:
— Vivi, vamos comigo na cafeteria, quero encomendar um bolo para minha amiga da escola, é aniversário dela, quero fazer uma surpresa para ela.
— Maninho, não posso, mas peça para o tio Yul ele vai com você, foi com dificuldade que escondeu o que sentia, queria que o irmão fosse embora logo, ele era um doce de pessoa, sempre amigo e carinhoso, mas no momento ela queria ficar só, esconder aquela situação, e a dor de cabeça aumentava. A menina delicada, nunca magoava ninguém nem da família e nem na escola. Viviane, era querida por todos, notas altas na escola, bom comportamento, se tornou estudiosa na doutrina espírita junto a Yul, e analisando tudo isso, ela sabia que algo estava acontecendo de grave com ela, aquela dor de cabeça estava deixando ela zonza, a visão turva, deitou-se, na cama e ficou ali, de ladinho com dois travesseiros sob a cabeça, como estava frio se cobriu, e adormeceu.
Genghis, o irmão mais velho da família, cuidava da cafeteria com o pai, este ficava no comando das compras, enquanto Genghis cuidava do dia a dia dos funcionários do local. Conheceu uma moça que ia sempre com uma senhora bem vestida, tomar o chá da tarde, trocavam olhares, mas nunca se falavam, ele sentia uma admiração por aquele rosto, ela sempre cordial, o olhava decima para baixo, devia ter uns 22 anos, linda, sorriso meigo e encantador, educada. O rapaz queria conversar com ela, mas olhava a senhora com ela e tinha receio, mas de ímpeto foi até a mesa onde às duas saborearam um pedaço de bolo confeitado de chocolate.
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Lembranças das Minhas Outras Vidas-Livro 1 / 2 /3
SpiritualUma alma com várias vidas. A evolução de um espírito experenciando a vida humana com conflitos, alegrias e tristezas, tudo fazendo parte para a evolução espiritual. Uma alma forjada nos sentimentos mais íntimos, aprendendo muitas vezes sofrendo, lap...