"Capítulo XIX"A superação de Josephine

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Era (10:00) horas da manhã, segunda-feira do mês de dezembro, o dia estava escuro, anunciava uma tempestade de neve. Que Paris é lindo todo mundo sabe, mas imagine coberta pela neve? Fica ainda mais bela e charmosa destacando seus encantos e sua bela arquitetura. E um belo dia ou um dia cinza em Paris. A neve para quem nunca viu é inesquecível na primeira vez. Imagina você acordar de manhã em pleno inverno e abrir a janela do seu quarto e dar de cara com essa beleza. Os primeiros flocos começam a cair e cada vez mais forte e mais forte. Todos andavam apressados para poder chegar em casa antes da nevasca. 

Josephine olhava para à rua, e a cena que via a deixava com certa indignação. Uma jovem de uns 15 anos, andava cambaleando pela calçada, algumas pessoas que passavam nem notava sua presença. A indiferença da humanidade com o sofrimento alheio, ainda é uma praga a ser exterminada da face da terra. Correu para fora, indo para onde a menina estava caída, estava desacordada, pediu ajuda, mas todos muito apressados não paravam e ignoravam. Deixou-a ali e voltou para o bistrô, chamou por Edmond, era forte conseguiria pegá-la no colo e trazer para dentro Fazia um ano que Josephine havia fechado o negócio da compra do bistrô, tudo foi muito fácil, pois tinha o dinheiro nas mãos, com à papelada feita pelo advogado Sebastian que cuidara de tudo, pode entrar de imediato no apartamento, o casal que eram donos partiram para Pensilvânia. Os dias corriam tranquilos, recebeu a sua indenização do cabaré e com a herança de Pierry, pode fazer tudo que queria, quitou à loja e ainda sobrou muito dinheiro, o qual a maior parte investiu e deixou um bom dinheiro para manutenção do estoque e do que precisasse. Nunca mais viu Angeline, sentia ela por perto, era como se fosse uma sombra, para qualquer momento aparecer à sua frente, teve dias que pensava tê-la visto, mas era pura imaginação, sentia medo, fora um período conturbado emocionalmente, nunca mais voltou ao cabaré que ficava dois quilômetros do bistrô, mas fazia questão de evitar passar por lá, era duro relembrar aquele lugar, então o evitava, não sentia falta de nada, queria esquecer tudo. E a dança foi enterrada com Thierry. Por diversas noites sonhava com Thierry, ele estava calmo, e muito bonito,  afagava os seus cabelos, e beijava sua testa e sumia como uma nuvem. Sentia saudades que doía, lembrava seus beijos. Um dia ela estava sentada na sala, lia um livro e adormeceu, e se viu num jardim, e ao seu lado um homem, eles caminharam entre os corredores floridos dos canteiros, ele não dizia nada e nem ela. Os olhos se comunicavam. Acordou com saudades, mas sentia renovação para continuar, era o que lhe dava força para viver. A presença dele em seus sonhos era um bálsamo de luz em sua vida, ela se renovava com isso. Edmond pegou à menina e trouxe para dentro, o bistrô não estava aberto para atendimento ainda, abriria às 10:30 h, então eles tinham tempo para cuidar da pobre moça. Ela estava pálida, e deram chocolate quente com alguns pães para ela, e logo foi melhorando até que pode falar:

— Obrigada, vocês me salvaram, fazia dias que não comia:

 — Qual o seu nome? Perguntou Josephine.

— Me chamo Colete, tenho 17 anos, nasci em Charters, mas como meus pais morreram vim para Paris, onde estava trabalhando de dama de companhia de uma menina que faleceu, então me dispensaram, não tinha casa, pois morava no local de trabalho.

— Então você está procurando trabalho? Perguntou Josephine :

— Sim, estou, faço qualquer coisa.

— Ótimo, está empregada, bem-vinda! Precisamos de alguém para arrumar as mesas, instruirão você da maneira que tem que ser, você tem documentos?

— Sim, tenho, veja... Tirando do bolso  um pacote de papéis, no meio deles os documentos da jovem, foi conferido e aceito.

— Colete, temos à ala dos empregados no andar de cima, não é grande, mas para dormir e terá um lugar só seu, as refeições que você pode fazer aqui mesmo, temos o horário de almoço, onde todos comem juntos, aqui somos uma família. Terá em mim uma irmã mais velha. Aqui mantemos um relacionamento de amigos, Josephine fez um sinal e um jovem abriu a porta. Zak era um garoto de 16 anos, que chegou ali também com as mãos abanando sem nada, chegara   fazia pouco tempo, era um refugiado, ela deu emprego e casa para o rapaz, ele era grato à ela e ela se sentia feliz de poder ajudar a quem precisava. Nasceria ali uma grande amizade, e um encontro de almas amigas. Edmond, fazia parte da equipe dos ex-donos, era seu braço direito e se tornara o gerente da moça. Era cordial, e via nele um pai amável que nunca tivera. Ele sabia tudo dali, e confiava nele, durante o tempo de adaptação fora ele quem a ensinou tudo, era imensamente grata a Deus por ter uma família emprestada. Tinha o cozinheiro, que era um Francês, o único que não morava ali por ter família, mas ele também fazia parte dessa família de coração. Tinha mais duas moças francesas que atendiam às mesas, trabalhavam em turnos diferentes, alegres e divertidas.

 Os dias passavam rápido, ela na vida de solteira e virgem, não tinha namorado, mas não era o ponto de preocupação, não estava procurando por ninguém, ainda amava seu Thierry, o tempo não apagara, e  se entregava a ocupação no bistrô. 

Chegou à primavera, e então resolveu viajar um pouco, queria se distrair, sair dali um pouco, resolveu ir à Alemanha, tinha uns amigos que conheceu no bistrô, e eles queriam que fosse visitá-los, então arrumou tudo e partiu. Viagem  agradável, e a sua chegada. Mylena e Hans, um casal jovem eram artistas à esperavam na saída dos trens. Abraços e palavras de boas-vindas, foram para sua casa, eles moravam num casarão no centro da cidade que era alugado. Hans e Mylena, eram artistas, faziam shows pelo mundo, tocavam numa banda famosa e agora estavam em turnê pela Alemanha, e ela ficaria sozinha em alguns dias da semana, ela achou o máximo. Sozinha no lugar, apenas com os empregados, a faria descansar a mente, o coração parecia serenar, então foi numa noite dessas que sonhou com Thierry, ele estava alegre, a abraçou e disse estar junto dela diariamente, que quando se sentisse só, era para rezar, que Deus a ajudaria. Acordou com a leve impressão de refazimento, então decidiu andar pelas ruas da capital, se arrumou, ela foi para diversos lugares, conheceu museus, e um restaurante que ela se apaixonou pelo lugar. Lembrava muito Paris, ficava numa alameda num bairro nobre da cidade. 

Cansada caminhou de volta. Ficou mais uns dias e resolveu do nada voltar, tinha pressa, algo dentro dela alertava, volte. O casal de amigos não entendia tamanha pressa, viu passagem e partiu, queria voltar, precisava e "algo me dizia; volte! 

Quando chegava em casa, depois de longos dias presas na cabine daquele trem, quando começou à caminhar na rua que se avistava o bistrô, pode avistar seu bistrô pegando fogo, sua casa, seu lar. Os funcionários desesperados, e bombeiros no local. Sentados na calçada do lado oposto choravam sem consolo. Ela foi se aproximando e não acreditava no que via, parecia um pesadelo. Querendo saber o que acontecera, e ninguém sabia como começou, tudo havia acontecido muito rápido, estavam dormindo quando Zak percebeu e acordou todos. E mais uma vez sua vida caia, ela ali parada, mil pensamentos passavam pela sua cabeça. O cozinheiro deu informação a polícia, parece que ele viu alguém, aliás uma mulher no beco, atrás do bistrô.

 Ninguém percebeu, com tanta confusão, que atrás de uma banca de revista um vulto se afastava, com um galão de combustível na mão. Ela não desiste! 


Continua...

Lembranças das Minhas Outras Vidas-Livro 1 / 2   /3Onde histórias criam vida. Descubra agora