Trezentos Papéis

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PORTA DA FRENTE ABERTA.

— Oi, oi, oi. — Micael apareceu na cozinha, deparou com Sophia cortando batatas. — Como vocês estão? — Beijou a mulher.

— Estamos bem! — Sorriu. — Estou fazendo um jantar especial.

— Vizinhos novos? — Abriu a blusa de botões.

— Eu consegui um emprego! — Soltou a faca, virou-se à Micael.

Ele arregalou os olhos, surpreso.

— Como assim, você conseguiu um emprego?

— Eu consegui. — Encarava o marido. — É uma agência de modelos, escolhemos o catálogo das meninas e vemos alguns e-mails, nada difícil.

— Estou feliz por você. — Sorriu, parecia cansado.

Afinal, estava cansado!

— E você? Como foi? — Cruzou os braços.

— O de sempre. — Sentou na cadeira. — Entreguei currículos em quatro empresas diferentes.

— Alguma vai ter que te chamar. — Voltou a cortar batatas. — Você conversou com o Teddy Burtton?

— Foi a primeira empresa que eu fui. — Passou a mão nos cabelos. — Simpático mas não coloquei muita fé.

— Meu amor, não pode ser assim. — Colocou as batatas em uma panela. — Você precisa pensar alto, diferente.

— Eu penso mas é muita canseira! — Bufou.

— Vem aqui. — Abraçou o marido. — Eu estou fazendo batatas com creme de milho.

— Uau. — Recebeu beijos da esposa. — Onde está a princesa?

— Está dormindo, amanhã começa às aulas. — Avisou. — Você pode levar ela pra mim?

— E você?

— Vou trabalhar, esqueceu? — Achou graça. — Eu recebi mensagem das meninas, vou começar amanhã.

— Eu estou muito feliz por você, de verdade! — Micael assentiu. — Uma ótima oportunidade.

Sophia apenas o beijou, sabia que era uma ótima oportunidade.

Jantaram em harmonia, sem Annora, que estava dormindo. Sophia saiu-se bem na cozinha, as batatas estavam divinas.

— Você gostou do comércio? — Perguntou à Micael que comia, calado.

— Que comércio?

— Tá tão longe.

— O comércio?

— Você. — Não tinha a cara muito boa. — Ficou calado desde a hora que eu disse...

— Que você arrumou um emprego. Eu já entendi! — Assentiu, cansado. — Eu só estou tenso, apenas isso.

— Você? Tenso? Isso já é demais.

— Não é nada demais. — Deu de ombros. — Eu fiquei feliz por você, juro. Mas agora eu... Eu preciso arrumar um emprego.

— É só você esperar!

— E o emprego vai cair do céu? A gente não tá em Nova Iorque, Sophia! As coisas mudaram. — Parecia bravo. — Tudo mudou.

— Você não tá feliz com a nossa mudança? Fique sabendo que foi VOCÊ quem quis se mudar, de uma hora pra outra.

— Agora tudo cai em cima de mim? — Bateu a mão na mesa. — De verdade? Já chega!

— Vai ir embora? — Viu Micael levantar.

— Esse dia já deu pra mim, vou descansar. — Subiu as escadas deixando Sophia jantar sozinha.


O dia amanheceu na casa dos Borges. Sophia acordou mais cedo, tomou um banho, secou os cabelos e arrumou sua roupa. Seu primeiro dia de trabalho!

Fez a mesa do café, comeu cereais e deixou um bilhete ao marido que ainda não havia acordado. Pediu um táxi, estava tão ansiosa.

— Bom dia! — Sophia apareceu na sala de ontem, Sheron estava chegando junto com ela.

— Bom dia, Sophia! — Andou até sua mesa. — Preparada pro primeiro dia de trabalho? — Ligou o computador.

— Sim. — Bateu os pés, de leve. — O que eu tenho que fazer?

— Você pode começar olhando esses papéis. — Entregou uma pilha à Sophia, deveria ter uns trezentos papéis grampeados. — Quero que verifique uma por uma, depois entregue à Alisson, ela já deve estar chegando.

— Ok. — Pegou a pilha de papéis, andou até uma mesa vaga. Ali seria o seu lugar agora.

— Vejo que nem dormiu essa noite. — Sheron sorria na frente do IMac.

— Eu estava ansiosa pro trabalho. — Entristeceu. Lembrou-se de Micael. — Tudo vai ficar bem!

— Aconteceu alguma coisa?

— Nada. — Largou de mão. Não iria contar sobre Micael à Sheron, ainda estava muito recente. Havia acabado de chegar.

Continuou o seu trabalho, com trezentos papéis.

Uma Mãe Para o Meu Bebê Onde histórias criam vida. Descubra agora