Voltei ao Passado

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O cheiro de éter agarrou as roupas de Sophia e Micael que mimavam Annora na cama de um hospital particular. A garota caiu de um brinquedo no parquinho, torceu o braço e levou pequenos arranhões.

— Tá tudo bem agora! — Micael sussurrou. — Crianças fazem bagunça o tempo todo. — Deu um leve sorriso.

— Ela podia ter morrido, Micael! — Sophia secou suas lágrimas. — Quero processar o local. — Advertiu.

— Licença! — A enfermeira entrou no quarto. — Vocês são os pais de Annora? — Verificou o soro da menina.

— Somos. Quando ela vai ter alta? — Sophia ficou à frente de Micael, tinha os braços cruzados.

— Agora. — Retirou a agulha fina. — O quadro dela é ótimo, não houve fraturas em outros lugares. Ela pode ir pra casa sossegada! — Sorriu.

— Eu quero falar com o seu representante. — A loira franziu o cenho, se queixando do frio.

— Aconteceu alguma coisa, senhora? — A enfermeira não entendeu.

— Eu quero processar o lugar onde a minha filha caiu. Eu quero os meus direitos!

— Senhora, o parque é um patrimônio público! — Deu de ombros. — A senhora pode se informar na secretaria de ambientes, não aqui.

— O seu representante deve saber.

— Ela tem razão, Sophia! — Micael apareceu atrás da mulher. — Nós vamos levar Annora pra casa e depois cuidamos disso. — O moreno respirou fundo.

— Irei deixá-los a sós! — A enfermeira assentiu, saiu do quarto.

Micael saiu em seguida.

— Espera! — Sua voz ecoou no corredor, ela virou-se rapidamente. — Michelle? — Teve a sobrancelhas franzidas.

— Eu acho que te conheço.

— Estudamos juntos, lembra? — Um sorriso cravou em seus lábios.

— Você é o Borges da administração? — Micael assentiu. — Meu Deus, quanto tempo!

O abraçou.

— Não sabia que trabalhava aqui.

— Já faz uns seis anos, muita coisa.

— Como tá a vida? — Queria saber.

— Eu ando muito bem. Me casei, tive filhos. — Assentiu. — Vejo que você também!

— Ah, sim. — Sorriu. — Ela é só a minha namorada, não estamos juntos... Quer dizer, casados.

— Ela é a sua filha?

— Sim, Annora! — Sorriu ainda mais. — Me conta, a sua família tá bem? — Quis muito saber, era como ter achado um CD do seu passado.

Ele estava muito feliz.

— Minha mãe se mudou pra Grécia e meu pai casou de novo. — Michelle encarou os pés. — Ele ainda dá trabalho pra todo mundo.

— Não é de menos, sua irmã quase acabou com a vida dele.

— É sim. — Pausou. — Eu me casei com o Petrick do time de Lacrosse.

— Justo ele? Não tinha outra pessoa? — Michelle gargalhou. — É sério! Você escolheu muito mal.

— O que eu podia fazer? — Se surpreendeu.

— Você podia seguir a sua vida com outra pessoa.

— Olha, eu engravidei muito cedo. Eu já casei grávida se você não sabe. — Mostrou o dedo indicador.

— Tá vendo? Uma enfermeira como você deveria se cuidar!

— Bobão. — Os dois riram. — Meus parabéns pela sua menina, ela é linda! A sua namorada também.

— Obrigado. — Ficou sem graça.

Os dois ficaram em silêncio.

— Eu preciso trabalhar agora, tudo bem? — Micael assentiu.

— Me passa o seu número. — Tirou o Iphone do bolso.

Entregou para Michelle.

— Sua mãe está bem também? — A enfermeira perguntou enquanto salvava o número no celular de Micael.

— Está sim! A Lidiane tem três filhos, você ficou sabendo?

— Eu fiquei, meu marido é muito amigo do marido dela. — Entregou o Iphone à Micael. — Aqui está, eu entro de plantão as quartas então, se me mandar alguma coisa eu demorarei a responder.

— Ok.

— Até mais! Boa recuperação pra sua menina. — Saiu andando pelo corredor.

Sophia apareceu em imediato.

— O que queria com ela? — Cruzou os braços, ainda sentia frio.

E ciúmes.

— Michelle é uma grande amiga minha. — Ainda estava feliz de ter encontrado. — O marido dela brigava comigo direto no colegial. — Deu risada. — Grande Petrick!

— Eu não quero saber da sua vida de colegial. — Esbraveceu. — Sua filha está em um quarto de hospital, sedada e com o braço engessado. E você estava no corredor conversando com uma enfermeira? — Cerrou os dentes em braveza.

— Qual é o problema nisso? Annora está bem!

— Ela caiu de um brinquedo.

— Crianças caem o tempo todo!

— Ela é sua filha!

— EU SEI E CUIDEI MUITO MAIS DO QUE VOCÊ. — Gritou.

Micael se tocou que estava em um hospital. Grunhiu em raiva.

— Pelo menos eu não abandonei a minha filha! — Disse antes de entrar ao quarto de novo.

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