Pegar ou Pegar

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— Olha, você veio! — Amanda sorriu, segurava dois livros de capa dura. — Não gostei dessa cara.

— A única que eu tenho. — Rendeu as mãos, ela riu.

— Trabalhando muito?

— Demais. — Entraram na sala. — E você? Não trabalha?

— Eu trabalho. — Sorriu. — Mas meu trabalho não é tão legal assim.

— E do que você trabalha?

— Sou assistente da doutora Laund, só que trabalho mais em casa do que no escritório dela.

— Ah. — Micael revirou os olhos. — Você trabalha com a Laund? Que engraçado!

— O que foi?

— Eu contratei os trabalhos dela, um ano atrás.

— Nossa! A sua filha é fruto de barriga de aluguel? — Amanda sorria, o oposto de Micael.

Era como tocar na ferida.

— Sim, quer dizer... Eu nem sei mais. — Bufou.

— Laund faz um ótimo trabalho, tem muita gente que não consegue ter filhos. Realmente, é surreal!

— É sim. — Abriu seu caderno, a aula começaria em minutos.

Já nos Borges...

Antônia tinha Annora nos braços, Lidiane dobrava as roupas do bebê que chegaria, estava mais próximo.

— Eu sinto dó do Micael. — Lamentou-se. — Ele não merece isso.

— Merece o que, mãe? — Abriu a bolsa. — Annora é uma criança normal, como todas as outras.

— Ela é doente! Não escuta, não fala. Como que ele vai viver com uma garota dessa? — Lidiane achou o cúmulo.

Antônia era louca!

— Mãe! Micael fica muito chateado quando a senhora fala isso, sabia? — Virou-se para ver a face da mãe. Ela não sentia dó, jogava na lata.

— Eu tenho culpa? Ele que se envolveu com aquela vagabunda branca. — Esbraveceu. — Largou a menina sem mais e nem menos, onde aquela puta tá morando?

— Eu não faço ideia! Faz tempo que Micael não tem notícias.

— Vaca velha! — Xingou. — Se aquela mulher aparecer na minha frente, eu sou capaz de jogar uma bituca de cigarro nela. — Pausou. — Melhor ainda, eu sou capaz de jogar um balde de álcool na cabeça dela e depois acender um charuto.

— Mãe! — Lidiane riu. — Só olhe Annora, tudo bem?

O telefone tocou.

— Deve ser o Mica. — A irmã andou até o telefone, atendeu no terceiro toque. — Alô?

— Lidi?

— Oi! E aí? Como tá a aula?

— Bem chata e entediante. — Riu leve. — Annora está bem?

— Só a mamãe que tá falando um monte de besteiras pra ela. — Os dois riram. — E pra mim também.

— Eu chego em alguns minutos, estou no restante da aula. Dê um beijo em Annora por mim.

— Pode deixar. — Lidiane sorriu antes de desligar a ligação.

Micael já estava no carro quando ligou à Lidiane, iria passar na casa de Bottin que tinha o chamado. Avistou o condomínio cheio de casas, deu seu nome ao interfone e o portão da frente foi aberto, dando passagem para o moreno.

Tocou a campainha esperando pelo chefe.

— BORGES! — Abriu os braços. — Quanto tempo não te vejo, já faz cinco horas e alguns minutos.

— Como vai, Bottin? — Entrou na casa.

— Perfeitamente bem. — Andaram até a sala do homem. — Sente-se, sente-se! Eu tenho uma novidade pra você.

— Qual seria? — Viu Bottin pegar dois copos de uísque.

— Uma novidade que vai abalar o seu corpo. Pelo menos eu queria estar na sua pele. — Deu um risinho. — Tome!

— Obrigado. — Bebeu o uísque. — Então... Pode me contar ou vai ficar fazendo hora?

— Eu recebi uma ligação de Los Angeles. — Pausou. — O chefe da revista LIFE queria falar urgente comigo, precisa de um trabalho na agência dele.

— E onde eu entro nessa história?

— Vai ter que se mudar, Borges! — Disse simples. Micael arregalou os olhos. — Eles precisam de um crânio a mais na agência, e você é ideal.

— Um crânio a mais? Ficou maluco? — Esbraveceu. — Eu não posso largar Nova Iorque. Eu tenho a minha filha!

— E você vai largar ela aqui? Ora, Micael! — Bebeu mais um pouco do uísque. — Você tem que aceitar, já está tudo pronto.

— Bottin, você é louco!

— O cache é maravilhoso!

— Bottin, você é maluco! — Suspirou. — Posso te dar a resposta amanhã?

— Agora ou nada feito. — Encarou Micael.

O moreno estava sem ter o que fazer. Era pegar ou pegar!

E ele iria fazer o certo.

Uma Mãe Para o Meu Bebê Onde histórias criam vida. Descubra agora