40 - MMAlien (Parte 1)

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⚠️ Conteúdo sensível: agressão/violência física, abuso de álcool⚠️

Pouco antes de sair do quarto, a notificação de uma mensagem recebida, sem identificação do remetente, encheu Luuk de suspeita. Ela dizia:

Assista às gravações da noite de ontem, a partir das 5:43 pós-Lunaris, feitas pela câmera do coreto.

Uma mensagem curta, direta, porém, específica demais. Não conseguiria a ignorar. A contragosto, procurou seu tablet em meio à bagunça da gaveta da cômoda. Com ele em mãos, acessou os registros das diversas câmeras do Centro de Treinamento e selecionou tanto a data do dia anterior como a câmera indicada. Avançando o vídeo para o horário indicado, desejou nunca ter feito tal coisa.

— Mas o que é isso? — interrogou-se, em choque.

Luuk não conseguia crer no que via. Sobre o piso do coreto, Evan beijava Elena de um jeito nada amigável. Sua incredulidade era tanta que, mesmo quando o colega a deitou no chão para intensificar a investida, seu cérebro concebeu incontáveis eufemismos para explicar o que ele estava assistindo.

De modo involuntário, descuidando-se, Luuk pressionou o tablet, alheio à própria força. A tela do objeto trincou, entretanto, ele não se deixou incomodar pelo contratempo. O vídeo por si só estava dando cabo de o abalar.

De repente, Elena se afastou, tropeçando e quase caindo nas escadas do pequeno pavilhão, tamanha fora sua pressa. Em reação à cena, deu outro apertão no aparelho eletrônico. O tablet fragmentou-se sob a pressão das mãos que o seguravam. Destruíra-o com a mesma facilidade de quem amassa uma folha de papel.

Luuk ergueu uma sobrancelha, perguntando-se: É isso que acontece depois dos beijos?

Não, isso não pode ser o normal. Pode?

Não é o normal mesmo, chegou à conclusão.

Avaliando o estrago feito, suspirou. Melhor eu esconder isso. Se a General Z descobrir que eu quebrei propriedade do governo de novo, a minha próxima tarefa será preparar meu atestado de óbito.

No fim, uma coisa era certa: precisava esclarecer o que acontecera. De forma alguma perturbaria Elena com o assunto. Deduzira que tal inconveniente fora a razão do choro dela na noite anterior e ele não queria reabrir a ferida. Sobrara, então, a opção de conversar com Evan para tentar descobrir por qual cargas d'água ela correra tão esbaforida para longe do beijo de um amigo.

Não fazia a mínima ideia dos costumes da Terra. No entanto, assumiu que amigos se beijavam de vez em quando. Afinal, a despeito do estranho ciúme expressado no dano ao tablet, não tinha motivos para crer que Evan faria algo inaceitável.

O mais estranho de tudo era: seu colega nem sequer havia pisado no quarto até o momento. Tendo convencido Elena a voltar para o alojamento, depois de adulá-la, deixou-a à porta do quarto dela e dobrou o corredor. Encontrara o próprio quarto vazio. Adormecera enquanto o aguardava. Acordara e se arrumara, ainda o aguardando. Os seus deveres o impediram de demorar mais, esperando alguém que se ausentara a noite inteira.

O treino do dia era sua incumbência, ele teria de postergar a resolução daquele problema para depois das atividades. Primeiro as responsabilidades! Antes ser pontual do que ser espetado com as facas de estimação de Zoya.

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Noutro campo do setor de práticas, longe da Arena, Luuk arrebanhou os recrutas e os dividiu em duplas. Alocando cada uma delas, certificou-se de que tudo estava em seu devido lugar; nem parecia o Luuk de sempre. O estalar frenético de seus dedos era ofuscado pela abordagem morosa com a qual ele lidava com a tarefa.

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