42 - MMAlien (Parte 3)

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⚠️ Conteúdo sensível: agressão/violência física, abuso de álcool, linguagem de baixo calão⚠️


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Apareceu a margarida, Elena resmungou consigo quando avistou Evan ziguezagueando até o ringue. Uma crosta de sangue seco na testa dele harmonizava com o entalhe na bochecha e as marcas profundas de quem dormiu sobre uma superfície dura e amassou um lado do rosto. Olheiras escuras e fundas denunciavam a precária qualidade de sono garantida ao se debruçar na calçada de um canto qualquer e cochilar por menos de uma hora.

Enfrentando uma combinação de revolta, desgosto, asco, insônia e o princípio dos efeitos colaterais de uma noite de bebedeira, ele decidira curar a ressaca com mais cachaça. Antes do raiar do dia, tornara a beber o concentrado de álcool batasuniano.

Feliz ou infelizmente, seu charme, ao contrário do de Hujo, tinha limites e o seu fornecimento de bebidas fora cortado com o fechamento do refeitório para limpeza. A responsável pela adega, uma mocinha deslumbrada que se encantara pelo idioma batasuniano arranhado na voz de Evan, não pudera estender as regalias e continuar pondo o emprego em risco. Ela deu-lhe uma última garrafa, a saideira, e o expulsou dali.

Sorvendo a última gota da bebida verde, subitamente recordou-se do treinamento e tomou a decisão de se dirigir ao setor de práticas. Então caminhou até o local, aos trancos e barrancos. Enganchara a perna em algum lugar no meio do caminho, com base no rasgão em sua calça. A camisa, povoada por manchas de terra, estava completamente desabotoada — mas isto devia ser cortesia da moça da adega, que não estava interessada apenas por sua pronúncia de iniciante.

No torso exposto, Elena entreviu as máculas de diferentes ferimentos. Seis proeminências irregulares — marcas de tiro — espalhados pelo tronco, queimaduras de sol no peito e linhas esparsas, lembranças das vezes nas quais fora esfaqueado no abdome, compunham o rol de cicatrizes dele. Senhor... Elena duvidava de que já houvesse o visto naquele estado antes. É, Ev, você já viu dias melhores.

A despeito do espanto com a aparência de Evan, não o deu a devida atenção. Ele tinha chegado perto do final da luta de Luuk e Tiffy. Elena estava mais interessada no imprevisível embate entre a fada e o rawine do que no look João Canabrava do amigo. No entanto, não deixou de notar o incômodo na expressão dele quando Luuk inclinou-se, "colando" a boca junto da orelha de Tiffy, e cochichou algo que a espantou a princípio e, logo após, animou-a.

— "Ela é legal" — murmurou Elena, imitando-o numa entonação afetada. Certa de que ele não se desagradaria tanto só por conta de uma amiga legal, bufou. — Sei...

Se for assim, ele também é legal, pensou ela, petulante, com o olhar acompanhando os passos de Luuk — que vinha ao seu encontro, quase saltitando de contentamento. Seriedade não era uma qualidade de Luuk, entretanto, ele parecia entusiasmado demais para o gosto dela. Ao compreender o significado da calorosa aproximação dele, Elena recuou.

— Vamos lá, Terra! Não seja tímida! — Luuk gracejou.

Elena persistiu no recuo, dando mais passos para trás. A imagem de Tiffy indo parar do outro lado do ringue estava fresca em sua memória. Luuk, que a tomara por acanhada, manteve o espírito brincalhão, insistindo nos convites bem-humorados. Então o temor dela passou-lhe pela cabeça e extinguiu seu riso. Ele suspirou e disse:

— Não vou te machucar. Eu nunca te machucaria. Acredite em mim — seu olhar fulminante a atingiu com a sinceridade de suas palavras. — Juro de pés juntos, se quiser.

Elena meneou a cabeça, negando.

— Não precisa. Já estou indo — disse ela, desanimada.

— É esse o espírito! — Luuk piscou-lhe, tornando a tentar alegrá-la.

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