1 || Um dia normal | Atrasadinha

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"(...) Somos da mesma matéria da qual são feitos os sonhos e nossa vida breve é cingida pelo sono."

— William Shakespeare, em "A Tempestade"

— William Shakespeare, em "A Tempestade"

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Multiversos. Os incontáveis mundos além da bolha do Universo observável atraíam a sua atenção. A inflação eterna e demais teorias propostas pelos físicos pavimentavam o caminho para suposições fantásticas.

Elena, enfastiada com a realidade cotidiana, divertia-se imaginando como seria a vida nos confins do universo. Ela cria na existência de algo além do que a vista alcança. Mesmo assim, universos paralelos e passagens capazes de transportar partículas para outras dimensões pareciam-lhe apenas excessos dignos de ficção científica.

Debruçada sobre seus livros, seus pensamentos navegavam em um mar ínfimo. Enfrentaria a prova final de Direito Tributário e seu desempenho medíocre durante o semestre pusera sua aprovação em risco.

Perder tempo com devaneios infrutíferos estava fora de cogitação. Tentava concentrar-se, mas parecia impossível quando a vida, em sua simplicidade, oferecia-lhe tantas possibilidades além do agora.

Aos poucos seus olhos se rendiam ao doce chamado do sono. Fechavam-se lentamente. No silêncio, podia ouvir sua respiração suave, compondo uma sinfonia com a música que preenchia o ambiente. Rendeu-se ao cansaço, apertou os cintos e aguardou a espaçonave onírica decolar.

Alçava voo, atingindo altitudes inimagináveis, ascendendo como um foguete. Era transportada ao seu lugar favorito: o universo inefável regido por Hipnos e Morfeu. Um lugar resplandecente que aflorava sua agitação. Um lugar assombrosamente familiar.

Gradualmente, as cenas surgiam. Cada pedaço do quebra-cabeça encaixava-se com maestria. A vida fervilhava naquele mundo de seus sonhos.

Ouvia um bater de asas, lindos cânticos ecoando, risos abafados por portas fechadas, passos apressados, um retinir cadente. Silêncio.

Fora levada para longe. Estranhara. Era costumeira frequentadora das ruas reluzentes e cheias de vida, mas nunca olhara aquele mundo, o seu mundo, à distância. Permaneceu alerta.

A estrada. O oceano. As estrelas. O planeta. O sol. A lua. A galáxia. Seu lar.

Sentia-se à vontade. Era mais do que poderia dizer sobre a sua monótona e predeterminada vida. Nascera. Depois desse importante acontecimento, viveria condicionada a estudar para trabalhar, trabalhar para se aposentar e se aposentar para tentar viver o pouco tempo de vida restante.

Portanto, acolhia com empolgação qualquer experiência que lhe furtasse do lugar comum. Afastando-se, ia observando os arredores como passiva espectadora.

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