⚠️ Conteúdo sensível: violência e traumas físicos/psicológicos, abuso/maus-tratos infantis⚠️
A vida do menino Evan havia terminado em uma situação semelhante; um alistamento. A única diferença entre o passado e o presente eram as circunstâncias que o levaram ao exército. Em Eutsi, ele era cativo. No Brasil, ele era um refugiado.
Seus pais faziam parte do grupo de pessoas que calculava e planejava cada segundo da própria existência. A prole deles estava inclusa nos cálculos meticulosos. Quatro mulheres e um homem. Quatro ramos do Grupo Empresarial e uma vaga para gerenciá-lo.
Os números nunca foram mera coincidência. Eram mais um plano. Afinal, para que mais um casal em pleno século XXI, na era do decréscimo da natalidade, teria cinco filhos?
Nessa divisão, o posto mais complexo acabou sendo designado a Evan, mesmo ele não sendo o filho mais capacitado (ou disposto).
Por mais que Eileen — a mais velha do Quarteto Fantástico — fosse apta ao cargo, sempre competente e dedicada, ainda era uma mulher. Os acionistas não a levavam a sério. Devido a esse entrave, o cargo de diretor executivo e a cadeira da presidência da empresa — assim que Michael se aposentasse — estavam reservados a ele.
Ou seja, seu destino era honrar o legado dos Blair. Evan detestava esse dever.
As conversas entediantes e supérfluas, as horas solitárias nas quais aprendia outros idiomas ou tocava piano, as noites de surra — quando levava a pior por não conseguir ser o reflexo das duas figuras imponentes que eram seus pais — traziam-lhe uma profunda infelicidade. Tinha a constante impressão de que estava no lugar errado.
Mesmo as facilidades causavam-lhe repulsa. Tinha tudo e não conquistara nada. A única coisa fácil da qual não sentia desgosto era o quão facilmente Elena o tinha encantado e o quanto se davam bem. Conviver com ela aliviava a pressão sobre os seus ombros.
Infelizmente, a alegria que a presença dela trazia à sua vida foi como a queima de fogos do Ano Novo em Copacabana: parecia que seria eterna, mas acabou-se de modo súbito antes que ele pudesse saborear plenamente a experiência.
Seis anos de uma sólida amizade foram jogados no lixo como consequência da morte do pai dela, que propiciou uma acalorada discussão entre a sua mãe e a dela.
O desentendimento começou com uma proposta de ajuda monetária através de uma troca nada equivalente. E terminou em uma briga que fez o clássico "Godzilla vs. Kong" parecer uma desavença entre crianças no parquinho.
A família Fernandes não era exemplo de planejamento financeiro. Esse foi o motivo de sua derrocada.
Depois do nascimento de Elena, Luna havia comentado com o marido sobre a importância de economizar e ter um fundo de garantia. Carlos, acostumado às boas condições de vida, não lhe dera ouvidos. Ele pensava que tal coisa era um absurdo. Nunca se dignou a investir em uma previdência privada ou, ao menos, abrir uma poupança para garantir o futuro da filha.
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Planeta Luz
Science Fiction+16 | Completo | Um acontecimento inusitado leva Elena à maior aventura de sua pacata vida: uma jornada ao Planeta Luz. Perdida neste incrível mundo, ela precisa se encontrar em meio ao caos e lutar contra forças desconhecidas. A força de Elena Fern...