Prólogo

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No princípio havia o Nada. A inexistência. A singularidade. Um ponto único perdido no vácuo, condensando o princípio e o fim do universo.

O Nada assim permaneceu por muito tempo. Estático, escuro, inóspito.

Entretanto, há 42 bilhões de anos, ocorreu o Marco Zero da existência. O átomo primordial ocasionou uma explosão incontrolável. A energia cósmica liberada criou o espaço-tempo. A altíssima temperatura obliterou o Nada.

O Universo Primordial nasceu.

Houve luz.

O Universo progrediu aritmeticamente. As partículas subatômicas, que se agitavam a esmo na velocidade da luz, foram somadas. Surgiram as partículas pesadas. Estas aglomeraram-se, adquirindo massa e expandindo-se gradativamente.

O universo resfriou-se. Formou-se a matéria. Cresciam coisas tangíveis. Viam-se planetas, estrelas, galáxias.

As galáxias eram dinâmicas. Continuaram a expansão do universo. Entre distanciamento e colisões, o Universo Primordial fracionou-se em infinitos universos paralelos, dando origem ao multiverso.

Este não poderia fundamentar-se na desordem. Desde o seu nascimento, o multiverso é regido por leis que englobam Física, Magia e Espiritualidade.

Uma dessas leis se sobrepõe às outras. Conhecida como Lei Primária, estabelecia que para toda ação existe uma reação de igual intensidade e em sentidos opostos.

A primeira Ação foi o surgimento de Lux, a filha da luz da aurora do Tempo e das estrelas. A Reação, de igual intensidade e sentido oposto, deu-se na aparição de Umbra. A contraparte dela era filha das sombras.

Como Ying e Yang, representavam a dualidade. Lux, coberta por seu manto estrelado, advogava pelo Bem. Umbra, um ser de pura escuridão, banhada pelo Nada, velava pelo Mal. O Bem englobava a geração e a manutenção da vida que brotava no multiverso em construção. O Mal feria esses preceitos e trazia a extinção.

À medida em que o universo continuava a se expandir, as entidades cósmicas se multiplicaram. Algumas, como Lunaris — a mulher vestida de Lua —, se espelhavam em Lux. Outras, como Solis — o guerreiro do dragão que aquece o Sol —, foram apadrinhadas por Umbra. Havia também as que se situavam nas áreas cinzas, onde nada era absoluto, a exemplo dos Guardiões.

Fossem traços pretos, brancos ou cinza, compartilhavam a tarefa de manter o equilíbrio das forças do bem e do mal. Embora estas se tratassem de extremos opostos, não lhes cabia juízo de valor.

Não deveriam adulterar a balança para que todos fossem absurdamente gentis ou terrivelmente inescrupulosos. O dever delas era somente cumprir o papel que o Universo lhes atribuíra. Elas eram o que eram. Nada mais.

Por muitas Eras, coexistiram em harmonia. Então veio a Era dos Mortais.

As criaturas sencientes, cujo tempo de vida era limitado pela morte, povoaram o multiverso. Nascidos do pó da terra e limitados pela própria existência, contornavam sua pequenez ao apreciar o céu. Deslumbrados, acreditavam que os segredos do universo estavam ocultos pelo véu do espaço.

De certo modo, estavam certos. Os astros ocultavam mistérios que não poderiam ser desvendados pelos meros mortais.

Nas galáxias mais antigas, tamanha era a reverência pelos céus que adoravam as entidades do Princípio. Lux, Umbra, Solis e Lunaris eram seus deuses. E o panteão admitia todos os seres imortais que habitavam na infinitude do espaço sideral.

Os mortais possuíam vícios e virtudes. No entanto, aos poucos, os aspectos negativos prevaleceram. Desprezavam as Leis, manipulavam física e crenças a seu favor, pendiam a balança para o lado do Mal e traziam para si a ruína.

Eles necessitavam apenas de um empurrão para condenar o Universo. Umbra, de bom grado, o daria e selaria o destino das criaturas que julgava insignificantes. Abandonou sua morada — o oblívio de um buraco negro nos confins do Universo Primordial — e passou a atormentar as galáxias, uma por uma.

Em sua peregrinação catastrófica, deteve-se na galáxia Gainditu, na qual o Império que governava o Sistema Kontz beirava a dissolução.

A sede deste ficava em Batasuna, o renomado Planeta Luz que recebera a alcunha em razão da devoção à Lux. Nesse planeta, Umbra enxergou a possibilidade de atuar como facilitadora de conflitos.

Os descendentes do imperador Ausartakus, governante do sistema solar, tinham uma relação conturbada. O príncipe Zakarra — filho mais velho e herdeiro do trono —, possuía uma constituição violenta e frequentemente envolvia-se em conflitos despropositados com o seu irmão, o príncipe Nolako.

Na conjunção da inveja, ciúme e paranoias de Zakarra encontrou terreno fértil para arquitetar a condenação do Império Kontz. Bastou-lhe perseguir o príncipe herdeiro com os seus sussurros para fazê-lo acreditar em uma teoria conspiratória. O resultado de sua intervenção foi o assassinato do irmão mais novo e a declaração da Grande Guerra.

Umbra queria o cataclismo, o completo colapso do multiverso, por pura diversão. E o conseguiu através de Zakarra.

Nos últimos dois mil anos, a infeliz guerra se arrastou no Sistema Kontz. Por vezes, após muitas discussões no plano celeste, os mortais eram deixados em paz. O Planeta Luz respirava com as tréguas intermitentes. Todavia, Umbra era perseverante. A maldição da Grande Guerra perseverantemente recaía sobre o planeta.

A balança equilibrada havia se transformado em um passado remoto, um mito. A história escrita com sangue, na qual a paz é inalcançável, ofuscara a perspectiva de um futuro melhor.

O poder das Leis definhava. O universo ruía, fadado à destruição. Decadência e condenação se espalhavam como uma epidemia. Umbra avançava, instaurando seu reinado sombrio.

Existe apenas uma certeza: planetas, sistemas solares e galáxias em breve cessarão de existir. Reinos ruirão. Será o advento do fim do mundo.

O multiverso e as vidas interligadas pelas ínfimas tramas do continuum espaço-tempo voltarão ao Nada. Não haverá Luz.

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(888 palavras)

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