21 - O Pântano (Parte 2)

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Apesar de a divisão dos trios ser aleatória e teoricamente justa, Elena lamentou-se por ter sido separada de Evan. Enquanto isso, as irmãs Winxs podem dar as mãos com a bonitona lá que tem uns oito sentidos e se dá bem em tudo. Grande dia! Isso aqui tá pior do que quando as professoras inventavam formar as duplas sorteando os números da chamada.

No lugar do apoio do melhor amigo, teve a companhia de Hujo e Kai. Os dois discutiam tanto quanto um casal de velhos. Ela sentia-se uma vela ao observá-los implicando um com o outro por conta de coisas insignificantes.

Haviam saído do acampamento recentemente. O caminho ainda era largo e os permitia andar lado a lado, o que deixou Elena ainda mais desconfortável. De onde estava, tinha visão privilegiada das caretas e reviradas de olhos que seus colegas trocavam.

— Nunca foi sorte, sempre foi azar — sussurrou o mantra. Pela quarta vez, entreouviu-os argumentar e contra-argumentar sobre o mesmo assunto. Aparentemente nunca chegariam a um comum acordo.

— Por que você é teimoso assim? Eu acabei de dizer que é melhor a gente arranjar o que comer primeiro. Podemos pegar lenha quando estivermos indo embora. Logística, Hujo. Logística! Nos encher de peso logo no início vai atrasar a gente.

— Se você não aguenta carregar um pesinho de nada, pode me passar sua mochila. Eu não vejo problema nenhum em te fazer esse favor — deu um sorriso cafajeste. — Pra que ficar nisso de ordenar as tarefas? Podemos fazer as duas coisas ao mesmo tempo e nos livrar de ficar aqui até tarde da noite catando graveto.

Percebendo que o projeto de debate presidencial não terminaria tão cedo — visto que os dois estavam preparados para rebater argumentos quantas vezes precisassem —, interveio.

— Vocês podem parar com isso? — elevou a voz, conseguindo que eles se calassem e voltassem a atenção a ela. — Obrigada!

— Tá vendo, Hayato? Você irritou a moça — Hujo empurrou a culpa para Kai, cinicamente, provocando-o mais uma vez.

Kai não se dignou a responder e, pisando forte, passou à frente deles. Eu não sou obrigado, pensou, cerrando os punhos e contendo a velocidade de seus passos para não se distanciar muito deles.

— Não se preocupe — Hujo se antecipou, antes de receber outra bronca de Elena —, ele nunca fica chateado por muito tempo. É difícil resistir ao meu charme, entende?

— Certo... — concordou, terminando com um riso abafado e sobrancelhas arqueadas. Delirante é pouco pra esse daí.

— Te peguei — Elena teve o pensamento interrompendo. — Todo mundo sempre acredita. Minha fama não é lá muito boa, mas a gravidade existe e meus pés ainda tão no chão.

Hujo riu, exibindo seus dentes brilhantes e perfeitamente alinhados. Elena espantou-se ao perceber a sinceridade do sorriso dele. Retribuiu-lhe despretensiosamente. O sorriso dela era igualmente belo, resultado de anos usando aparelho ortodôntico. Mesmo assim, o dele deixava-o no chinelo. Sinal de que ele usa tudo o que nove em cada dez dentistas recomendam.

— Não me lembro de ter conversado com você antes de hoje.

— Felizmente, não. Eu tenho alergia.

— Alergia? — olhou-a de soslaio.

— A quem não lembra se já falou comigo ou não.

— Essa foi boa — divertiu-se, ao invés de ficar ofendido. — Diz aí, você tem alguma experiência com caça?

Hujo tinha ciência do baixo desempenho dela, o ranking era divulgado nos fins de semana, não era segredo para ninguém. No entanto, terráqueos tinham a fama de serem menos desenvolvidos. Dentro dessa lógica, existiam altas possibilidades de ela ter uma vasta experiência em atividades rudimentares como aquela. Não custava nada perguntar.

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