64 || Palavrinhas mágicas | Diga e eu sou seu | 2

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⚠️ Conteúdo sensível: versos de Augusto dos Anjos, hot R$1,99 (para gringo é mais caro)⚠️

Naquele momento, ofegante pelo beijo roubado, pesou se dizer "sim" seria tão ruim quanto pensara.

— E se eu aceitar? Também vou levar uma rasteira e jamais ver a cara do segundo encontro?

Hujo gargalhou. Riu-se com vontade numa risada sincera.

— Hayato, pelo amor dos Guardiões! Alguma vez eu já menti pra você?

— Óbvio que sim! Aquela vez em que me pediu pra "formatar o PC", tá esquecido? Você me enrolou a tarde inteira, sentado em cima do microprocessador enquanto eu tentava resolver o problema do jeito tradicional. Só fui descobrir a verdade porque decidi desmontar o aparelho e vi que faltava uma peça.

— Primeiro, você nunca me perguntou se tava faltando algo ou se eu tinha mexido em alguma coisa que não devia. Se tivesse perguntado, eu responderia com sinceridade. Segundo, te ver concentrado por horas é mais relaxante do que uma massagem com final feliz — afirmou, ainda alegre. — Além do mais, era o aniversário de 11 anos da separação dos meus pais.

"Se eu fosse pra casa da minha mãe, não a encontraria. Ela sempre fazia hora extra naquele dia. E eu não queria ficar sozinho, muito menos ir pro apartamento do meu pai e ter de engolir a suruba anual em comemoração do divórcio. O velho criou até uma tatuagem temporária pros participantes, acredita? 'Liberdade', ela dizia.... Escroto do caralho...

"Enfim, só sei que esse dia sempre foi horrível pra mim e nunca gostei ficar desacompanhado nele. Nos anos anteriores eu o passei com estranhos, pessoas que conheci em aplicativos, boates ou bares. Acredite, isso não melhorava coisa alguma. Meu velho tava comendo gente a rodo, eu também... Se agíamos do mesmo jeito, qual era a diferença entre nós afinal? Acabava me sentindo farinha do mesmo saco. Péssimo.

"Pensando nisso, me ocorreu a ideia de passar o dia com você. Como eu sabia que você sempre ia ao laboratório de práticas pontualmente às 7h pós-Solis, precisei de uma desculpa pra te segurar no quarto. Inventei o tal do 'plano do conserto do computador', e deu no que deu. Sei que te irritei, mas, se serve de consolo, aquele foi o melhor aniversário de divórcio que eu tive até hoje. Ao menos não me senti sozinho."

— Por que não me contou isso? — indignou-se Kai. — Eu teria ficado. Sei muito bem o que é ter uma data horrível no calendário e não conseguir encontrar abrigo na casa dos próprios familiares. Meus pais morreram há décadas e eu não aguento pisar na casa de vó na época do aniversário de morte; do dia em que faleceram até a semana seguinte, vovó consegue transformar tudo em uma tortura.

Kai bufou, cruzando os braços. Havia ele se fechado tanto, a ponto de não o deixar se aproximar mesmo nas horas difíceis?

— Hayato, antes de a gente se reencontrar aqui, quando foi que nos falamos direito? A sério, sem patadas, sem piadinha...

Nunca. Kai reconheceu seu equívoco.

— Pois é — continuou Hujo. — Eu convivi contigo quatro anos. Isso é o que tenho de mais próximo de um relacionamento sério, considerando a minha vida inteira. Você sabe meus esquemas, decorou minhas desculpas de trás pra frente, anotou o endereço de todos os meus esconderijos para casos de emergência. Nem se eu quisesse te evitar conseguiria driblar alguém que me conhece tão bem. E, deixando claro, não tenho a intenção de sumir.

— Suponhamos que eu confie em você... Qual mosquito te picou? Você vai começar a apresentar sintomas de asteartea? Sabe que precisamos te isolar se for viral, certo? Pensei que krelers não adoeciam. — Kai continuava desconfiado.

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